Coleção do mecenas alemão Peter Ludwig mostra expoentes da pop art
4 de fevereiro de 2014Nos anos 1960, o empresário e mecenas alemão Peter Ludwig (1925-1996) foi um dos grandes responsáveis pela popularização de artistas americanos da pop art na Europa. Com grande interesse por arte contemporânea, Ludwig também contribuiu para a difusão do neoexpressionismo alemão.
Até 21 de abril, parte das apostas de Ludwig está exposta no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo. A mostra Visões na Coleção Ludwig – que depois passará pelo Rio de Janeiro e por Belo Horizonte – apresenta 78 obras de arte de uma das mais importantes coleções particulares do mundo.
"Peter Ludwig estimulou a produção dos artistas integrados à sua coleção", disse Ania Rodríguez, curadora da exposição ao lado de Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky (ambos representantes do Museu Ludwig no Museu Russo de São Petersburgo), em entrevista à DW Brasil. Além de grandes nomes da pop art, segundo Rodríguez, a coleção inclui também "a maioria dos movimentos estéticos que marcaram o século 20", igualmente promovidos por Ludwig.
Picasso e arte pop
A obra Grandes cabeças (1969), de Pablo Picasso, por exemplo, faz parte da seleção exposta no CCBB e representa o início do interesse do mecenas pela arte contemporânea. "A coleção Ludwig é considerada a terceira mais importante coleção privada de Picasso no mundo", aponta a curadora.
A mostra também dá ao público a chance de ver de perto obras de diferentes períodos estéticos. Além de Picasso, os visitantes encontrarão produções de grandes nomes da pop art (ou associados a ela), como Andy Warhol (Retrato de Peter Ludwig, 1980), Roy Lichtenstein (Ruínas, 1965), Tom Wesselmann, Claes Oldenburg (Banana-splits e glacês em degustação, 1964), Jeff Koons (Querubins, 1991), Jean-Michel Basquiat e outros.
Ao lado de obras de Jasper Johns (Sombra, 1959) e Cy Twombly (Sem título, 1968), o neoexpressionismo alemão, movimento que resgatou a pintura como meio de expressão a partir da década de 1980, é representado por nomes como Georg Baselitz, Markus Lüpertz e Anselm Kiefer.
Artistas contemporâneos, como o russo Vladimir Yankilevsky (Tríptico Nº 14 autorretrato, 1987), o sul-coreano Lee Sang-Won (Da série Tempo e Espaço, 1996) e o grego Pavlos (Guarda-roupa IV, 1968), evidenciam o olhar de Peter e Irene Ludwig para obras produzidas em diversos contextos geopolíticos, na medida em que as fronteiras da coleção avançavam.
"Decidimos que a exposição deveria mostrar o recorte de arte contemporânea que é um dos destaques da coleção. Quisemos trazer ao Brasil obras representativas dos interesses de Peter e [de sua esposa] Irene Ludwig como colecionadores", explicou Rodríguez. "Sua concepção da arte como expressão intimamente ligada à vitalidade de um contexto fez com que Ludwig se voltasse para espaços em plena transformação como a Rússia, Cuba ou [até] a China nos anos 1990", completou.
Visionário da pop art
Nascido em 1925 em Koblenz, oeste da Alemanha, Peter Ludwig estudou história da arte, arqueologia, história e filosofia a partir de 1946, depois de prestar serviço militar e ter sido prisioneiro de guerra nos Estados Unidos. Em 1951, casou-se com Irene Monheim (filha de um dos empresários mais renomados da indústria do chocolate), com quem compartilhava o interesse pelas artes. Na mesma época, tornou-se entrou para a fábrica Leonard Monheim de chocolates – depois rebatizada de "Ludwig Schokolade" – e começou a se dedicar à sua coleção de arte ao lado da esposa.
A partir dos anos 1970, chegou a adquirir ao menos uma obra por dia. Sua vasta compilação não decorava apenas a sua casa e escritórios, mas era constantemente emprestada para museus na Alemanha. Em muitos casos, os empréstimos acabaram por se transformar em doações.
Ania Rodríguez ressalta que, "com os trabalhos expostos [no CCBB], os visitantes poderão mapear as coordenadas geográficas das viagens que o mecenas fazia em busca de obras, bem como refletir sobre os contextos estéticos que, em muitas ocasiões, marcaram suas épocas dentro da história da arte".
A coleção de Ludwig totaliza aproximadamente 20 mil peças, distribuídas em mais de dez museus em países como Alemanha (onde o maior expoente é o Museum Ludwig, em Colônia), Suíça, Hungria, Rússia, Áustria e China.