Rumo à democracia
28 de novembro de 2011Há algumas semanas seria difícil imaginar que as eleições parlamentares do Egito, marcadas para começar nesta segunda-feira (28/11), realmente iriam acontecer. Mesmo diante dos persistentes protestos contra a junta militar que governa o país, porém, a população foi às urnas em clima de festa para eleger seus novos representantes.
Os egípcios fizeram longas filas no Cairo, em Alexandria e em sete outras províncias para garantir o voto na primeira eleição do país desde a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro deste ano, após 30 anos no poder. Devido ao comparecimento em massa às urnas, o horário de votação foi estendido por mais duas horas.
Por conta dos embates sangrentos das últimas semanas, centenas de soldados foram escalados para garantir a segurança nas áreas de votação. No entanto, não foram registrados incidentes mais graves neste primeiro dia de pleito, que contou com um "clima de segurança", segundo os eleitores.
Egípcios fazem história
Aglomerados em filas quilométricas, os eleitores aguardavam pacientemente sua hora de votar. "Estas são as primeiras eleições em 30 anos. Os egípcios hoje fazem história", anunciava um engenheiro de 34 anos em Alexandria. "Antes nós já sabíamos quem ganharia a corrida. O resultado era a apatia. Agora, o final está em aberto, e a votação é emocionante", vibrava um taxista de 48 anos.
"Ficamos surpresos que as pessoas vieram votar em larga escala", comemorou Abdel Moez Ibrahim, que dirige a Comissão Superior da Justiça Eleitoral, ressaltando que não houve problemas de segurança durante todo o dia.
Nos locais de votação, poucos registros de conflitos. Na província de Assiut, integrantes da tribo de um dos candidatos invadiram o local de votação porque ele teria sido excluído de lá. Observadores também relataram que em alguns pontos a eleição não teria começado na hora exata porque o juiz responsável não teria chegado no horário, ou porque as cédulas não estavam carimbadas.
Muitos cabos eleitorais tiveram que ser expulsos das zonas por fazerem propaganda de seus candidatos no local, o que é proibido. Isso aconteceu especialmente com integrantes do Partido da Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Islâmica, que entregavam folhetos.
O pleito no Egito acontecerá em três etapas. Após esta primeira etapa, que acontece até a noite desta terça-feira, eleitores de outras 18 províncias irão às urnas em dezembro e janeiro. Dois terços do Parlamento serão preenchidos por candidatos eleitos por meio de lista partidária. O outro terço fica reservado para os eleitos com votos diretos. Aguarda-se o resultado final das eleições parlamentares para o dia 13 de janeiro.
Modelo para os árabes
A condução e o resultado das eleições no Egito devem repercutir no mundo árabe. "Para muitos árabes, os exemplos iniciais de processo democrático são Iraque e Líbano. Mas, em ambos os casos, as eleições trouxeram governos fracos, fragmentados e amplamente ineficazes", ressalta Bruce Rutherford, especialista em Oriente Médio da Universidade Colgate, nos EUA.
"Se o Egito trouxer o mesmo resultado, então o apelo por democracia na região será enfraquecido. Entretanto, se a experiência egípcia for positiva, o efeito será forte", acredita.
A expectativa é que os partidos ligados à Irmandade Islâmica – proibida no país há pelo menos cem anos – saiam vitoriosos das urnas. Pesquisas prévias de opinião, porém, não foram realizadas. Ao todo, 50 milhões de egípcios estão aptos a escolher os nomes que preencherão as 498 cadeiras da câmara baixa do Parlamento no país – dez deputados serão escolhidos pelos militares. Participam deste pleito 6 mil candidatos de mais de 50 partidos diferentes.
Israel, que tem um acordo de paz com o Egito, teme que uma eventual vitória da irmandade islâmica prejudique as relações entre os dois países. O contrapeso à tendência seria a Aliança Egípcia, que agrupa diversos partidos de esquerda e liberais, defendendo a separação entre governo e Igreja. Já o Partido Nacional Democrático do ex-presidente Mubarak, que dominou o cenário político egípcio durante três décadas, foi dissolvido no início do ano.
A principal tarefa do novo Parlamento será formar uma nova Assembleia Constituinte. No entanto, o Conselho Supremo das Forças Armadas no Egito, que assumiu o poder com a saída de Mubarak, permanecerá no poder até a realização de novas eleições presidenciais, que devem acontecer em julho do ano que vem.
Na semana passada os militares nomearam Kamal Ganzouri para o cargo de primeiro-ministro do Egito. Ganzouri já havia ocupado o cargo durante o governo de Mubarak e sua nomeação desagradou os manifestantes, que intensificaram os protestos nas ruas pedindo a saída dos militares do poder.
MSB/dpa/rts/afp
Revisão: Carlos Albuquerque