Van Gogh oculto
1 de agosto de 2008
O artista holandês Vincent van Gogh (1853–1890) costumava pintar por cima de quadros já prontos – um fato conhecido há muito tempo pelos historiadores da arte. Especialistas avaliam que, por trás de aproximadamente um terço de sua pinturas, se oculta uma outra obra.
Por meio de um método novo, uma equipe internacional de cientistas de Hamburgo conseguiu tornar visível, nas cores originais, uma imagem que Van Gogh cobriu de tinta.
Alto grau de detalhamento
Sob estratos de tinta do quadro Grasgrond, onde figura um campo verde, o centro de pesquisa Desy, de Hamburgo, descobriu um retrato feminino em tons de ocre e amarelo. Graças a uma técnica especial de radiografia, os cientistas conseguiram reconstruir a imagem em um grau de detalhamento inédito.
Pintada em 1887, em Paris, a tela Gasgrond pertence ao acervo do Museu Kröller-Müller, em Otterlo, na Holanda. Investigações anteriores já haviam revelado o tênue contorno de uma cabeça por trás da pintura. A fim de trazer à luz as feições femininas com toda nitidez, os cientistas expuseram uma superfície de 17,5 cm x 17,5 cm a uma radiação intensa e extremamente precisa durante dois dias.
"Essa radiação é aproximadamente 10 mil vezes mais forte do que a utilizada pelos médicos e tão fina como um grafite de lápis", declarou Wolfgang Drube, do Desy. A reconstituição de 90 mil pontos de imagem demorou dois dias.
Mercúrio e antimônio ajudam
"Quando se radiografa a matéria, ela reflete", explica Drube. Essa fluorescência é medida para cada ponto. Como é típica de cada elemento químico, ela veicula informações sobre os diversos pigmentos.
A partir dos dados coletados, o computador projetou uma espécie de "foto colorida" do retrato. Igualmente importante foi a investigação da distribuição dos elementos mercúrio e antimônio, contidos em determinados pigmentos.
Esse novo método de investigação foi aplicado por um grupo de pesquisadores do Desy, da Universidade da Antuérpia e do Museu Kröller-Müller, sob inspeção de analistas técnicos de material e do historiador da arte Joris Dik, da Universidade Técnica de Delft.
A radiação sincrotrônica também diminui a margem de erro da medição, pois a interferência das camadas superiores de tinta é menor e a velocidade de medição maior. Desta forma, essa técnica pode tornar visíveis superfícies relativamente grandes.
Método pioneiro
A atual reconstrução deverá ajudar historiadores da arte a entender melhor o desenvolvimento pictórico na obra de Van Gogh. A técnica utilizada é pioneira na investigação de imagens cobertas.
O Desy (Deutsches Elektronen-Synchrotron) é um instituto de pesquisa nacional, financiado com verbas públicas e pertencente à Comunidade Helmholtz. Sua especialidade é a física de partículas. O Desy constrói e monitora aceleradores de partículas instalados nos túneis sob a cidade de Hamburgo.