Riscos da inseminação artificial
15 de novembro de 2008Trinta anos depois do nascimento da inglesa Louise Brown, conhecida por ter sido o primeiro bebê de proveta do mundo, as técnicas de fertilização artificial tornaram-se uma prática corriqueira em vários países, inclusive na Alemanha.
Para determinar os riscos de má-formação fetal relacionados com os métodos artificiais, a cientista alemã Hilke Bertelsmann conduziu, a pedido da maior instância alemã de auto-regulação médica, um amplo estudo dos diferentes métodos de fertilização artificial.
Técnicas avaliadas
Duas técnicas distintas, utilizadas quando o espermatozóide não consegue chegar ao óvulo de forma natural, foram investigadas pela bióloga. A primeira delas é a fertilização in vitro (FIV). Nessa técnica, óvulos maduros retirados da mulher e espermatozóides do homem são reunidos num meio de cultura próprio.
O outro método é a microinjeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI). Considerado uma variação da FIV, nessa técnica o núcleo da célula espermática é isolado e injetado diretamente no óvulo.
O resultado do estudo, segundo a bióloga, indica que não há diferenças significativas entre as técnicas no que se refere aos riscos. "Isso significa que a técnica ICSI não aumenta o risco de má-formação", conclui.
O temor se justifica porque, na técnica ICSI, usa-se uma microagulha para injetar o núcleo da célula espermática no óvulo, criando o temor de que ele possa ser danificado.
Baixa taxa de sucesso
Mas o estudo mostrou também que, independentemente da técnica de fertilização utilizada, mais crianças nascem com má-formação pelos métodos artificiais do que pelo método natural de concepção.
Bertelsmann salienta, porém, que não está claro se isso está relacionado com o método ou se deve à natureza dos próprios pais. Ela lembra que apenas pessoas com dificuldades de ter filhos recorrem às técnicas de fertilização.
O índice de sucesso da fertilização artificial não é alto: 40% das tentativas resultam em gravidez e somente de 10% a 15% levam ao nascimento de uma criança. Muitos casais optam por transferir mais de um óvulo para o útero para elevar as chances de que um embrião se fixe na parede uterina.
A conseqüência dessa prática costuma ser a gravidez múltipla. "Com múltiplos, há um risco maior de aborto espontâneo ou de má-formação fetal", afirma Bertelsmann. "Por isso, grande parte dos riscos de um aborto espontâneo (e provavelmente também de um aumento dos riscos de má-formação) está relacionada com essa prática."
Casais inférteis
De acordo com Bertelsmann, é possível observar a existência cada vez maior de casais que querem mas não conseguem ter filhos. A cientista ressaltou que o problema da infertilidade está muitas vezes no fato de que o casal já está velho (biologicamente) quando opta por ter filhos.
"Com a idade, a capacidade de gerar uma criança diminui", alerta. Bertelsmann ressalta que entre as mulheres a dificuldade reside, principalmente, nas condições das trompas de Falópio. "O óvulo não consegue chegar ao útero", explica.
No caso dos homens, com o avanço da idade os espermatozóides perdem a capacidade de movimentação ou sofrem deformações. "Pode ser, ainda, que os espermatozóides tenham uma alteração cromossômica e com isso não consigam mais fertilizar", lembra a bióloga.