CIA culpa Berlim indiretamente por guerra no Iraque
7 de abril de 2004Poucas vezes uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas causou tanto furor quanto a do dia 5 de fevereiro de 2003. Com o uso de recursos audiovisuais, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, apresentou o que considerava provas sólidas da existência de um arsenal bélico no Iraque, ressaltando a existência de 18 laboratórios móveis equipados para produzir armas químicas e biológicas.
Fotos e desenhos detalhados fundamentaram a explanação de Powell, que enfatizava não haver margem para dúvida: “O que está sendo dito é baseado em fatos e conclusões de um consistente trabalho do serviço secreto.”
Quatorze meses mais tarde, o tom é bem outro. “Parece realmente que as provas não eram tão consistentes assim”, admitiu o secretário de Estado norte-americano no começo de abril. O serviço secreto americano CIA diz ter sido burlado com uma história inventada.
Os políticos republicanos, do partido governista, estão horrorizados. O senador Pat Roberts, que preside o Comitê de Inteligência do Senado americano, disse ao jornal Los Angeles Times que o fato é vergonhoso para todos que recorreram a tais informações.
Alemanha usou fonte não confiável
A principal fonte destas informações seria justamente da Alemanha, país que sempre repudiou a Guerra no Iraque. O serviço secreto alemão BDN teria dado credibilidade a um informante plantado, o jovem químico iraquiano de codinome Curveball.
Ele teria contado em 2002 ter sido recrutado pelo regime de Saddam Hussein, após sua diplomação, para trabalhar no desenvolvimento dos laboratórios móveis. Na Alemanha desde 1998, Curveball descreveu com minúcias o projeto para os agentes do BND e elaborou até desenhos dos laboratórios móveis.
As informações chegaram a ser apresentadas pelo presidente do BND, August Hanning, em sessões da Comissão de Exterior do parlamento federal em Berlim em novembro de 2002 e fevereiro de 2003.
De acordo com a imprensa, todo o relato da fonte iraquiana fora inventada. Na verdade, Curveball teria agido a serviço de Ahmed Djalabis, um iraquiano colaborador dos Estados Unidos, obcecado pela idéia de derrubar o regime de Saddam Hussein. Hoje, Djalabis integra o regime de transição no Iraque.
Irritação em Berlim com denúncia
Para o Los Angeles Times, o BND omitiu dos americanos que seus conhecimentos, repassados à CIA, tinham origem em uma só fonte e ainda assim de credibilidade duvidosa. Segundo o governo alemão, a ligação de Curveball com a antiga oposição iraquiana no exílio só foi descoberta após a guerra.
Apesar da falha assumida, fontes de Berlim estão indignadas com a "estranha tentativa" de Washington, diante da incomoda situação política do presidente George W. Bush, de "empurrar a culpa para a Alemanha e tirá-la de si mesmo".
Experts de segurança reagiram dizendo que as acusações vindas do outro lado do Atlântico "podem levar a um novo choque nas relações entre Berlim e Washington". Oficialmente, o BND optou pelo silêncio, por seu dever "em proteger sua fonte".
Enganados e enganadores
As outras três fontes inicialmente consideradas seguras pelo governo americano também se revelaram duvidosas. Duas testemunhas teriam apenas ouvido falar da existência dos laboratórios móveis sem, entretanto, nunca ter visto algum deles. A quarta fonte já era tida há tempos como pouco confiável, relatou David Kay, ex-chefe dos inspetores de armas dos EUA no Iraque.
Ainda não foi esclarecido como tais informações chegaram a Washington. O alemão Friedbert Pflüger, especialista em política exterior da União Democrata Cristã (CDU) aponta duas hipóteses: “Ou o serviço secreto alemão trabalhou mal ou o governo alemão passou as informações do BND adiante, de forma negligente.”
Para o político de oposição, somente o culpado já está claro. Em todo caso, o governo alemão tinha "toda a responsabilidade política".