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Chile anuncia busca por desaparecidos durante ditadura

12 de setembro de 2022

No 49º aniversário do golpe militar, Boric lança plano para descobrir paradeiro de mais de mil presos políticos durante o regime Pinochet, cujas famílias ainda aguardam respostas. "Isso é inaceitável", diz presidente.

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Presidente chileno, Gabriel Boric
Gabriel Boric: "Avançar na verdade, na justiça, na reparação de todas as vítimas de violência perpetrada por agentes do Estado é a única e principal garantia que podemos oferecer de que isso não se repetirá."Foto: Rodrigo Garrido/REUTERS

O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou neste domingo (11/09) o lançamento de um plano de busca por presos políticos desaparecidos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973 – 1990). O anúncio foi feito durante os eventos que lembraram o 49º aniversário do golpe militar.

"Recordamos também hoje aqueles que desapareceram sem saber o seu paradeiro, aqueles que sofreram perseguição, humilhação e exílio, aqueles que nos longos anos da ditadura civil e militar foram vítimas de repressão apenas por terem se identificado com um governo democraticamente eleito que procurava o melhor para a pátria. Aqueles que, perante esse horror, lutaram para recuperar a nossa democracia", disse Boric.

O presidente ressaltou que o compromisso de seu governo é "continuar buscando incansavelmente os presos políticos desaparecidos", apontando que "1.192 detidos desapareceram e ainda não sabemos onde estão". "Isso não é aceitável, não é tolerável, não é algo que podemos naturalizar", afirmou.

A intenção de lançar um plano de busca pelos desaparecidos durante a ditadura foi anunciada pelo presidente em junho. Organizações de familiares de presos desaparecidos e executados por motivos políticos devem fazer parte do projeto.

"Esse compromisso é de nunca mais, é de avançar na verdade, na justiça, na reparação de todas as vítimas de violência perpetrada por agentes do Estado, porque essa é a única e principal garantia que podemos oferecer de que isso não se repetirá", acrescentou o presidente.

O anúncio foi feito durante os eventos que lembraram o golpe dado por Pinochet em 11 de setembro de 1973, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende (1970 -1973) e deu início ao regime militar.

A ditadura chilena durou 17 anos e fez mais de 40 mil vítimas, entre executados, detidos, desaparecidos, torturados e presos políticos, de acordo com a comissão que investigou os crimes cometidos no período.

Visita ao túmulo de Allende

A manhã deste domingo, tão fria e chuvosa como aquele fatídico dia de 1973, começou com um ato institucional dentro do Palácio de La Moneda, no qual Boric, um admirador de Allende, elogiou a figura do ex-presidente.

"Diante das divisões, dos problemas da sociedade, vamos responder com mais democracia, e nunca com menos. E essa é precisamente a lição que o presidente Salvador Allende nos deixou", afirmou Boric, que garantiu que prosseguirá com a Assembleia Constituinte apesar da recente derrota da votação no plebiscito sobre a nova Constituição.

Após a cerimônia em La Moneda, que contou com a presença da nova ministra do Interior, Carolina Toha, filha de um dos ministros de Allende, e da ministra da Defesa, Maya Fernández, neta do falecido presidente, vários outros membros do gabinete saíram do palácio para colocar cravos vermelhos em frente à estátua.

Boric também visitou o túmulo de Allende, onde milhares de chilenos prestaram homenagem ao ex-presidente. Grupos de esquerda, antigos companheiros do presidente, parentes de vítimas e dos mais de mil detidos ainda desaparecidos se reuniram junto à estátua na entrada do Ministério da Justiça e Direitos Humanos e caminharam até o cemitério de Recoleta.

Allende se matou com um tiro no próprio gabinete no Palácio de La Moneda, de onde tentou repelir a revolta e teve de desistir após o Exército ter bombardeado e invadido o edifício com sangue e fogo.

Horas depois, as forças golpistas prenderam dezenas de milhares de pessoas, alvejaram centenas sem julgamento, e lançaram uma onda de repressão que durou quase uma década, visando principalmente os partidos Socialista e Comunista, além do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR).

"Estamos aqui para recordar um nome que foi dignificado até o fim. Mas também para que não esqueçamos a memória de todos aqueles que foram assassinados, que desapareceram, e para que não se repita", declarou um parente de um dos que desapareceram naquele 11 de setembro.

cn/lf (AFP, Efe)