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50 anos de Bossa Nova

11 de agosto de 2008

O lançamento do compacto com "Chega de Saudade" e "Bim Bom", cantadas por João Gilberto, em agosto de 1958, marcou o nascimento da Bossa Nova. Cinqüenta anos depois, ela continua tão bonita que dói, afirma a mídia alemã

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João Gilberto popularizou o violão através da Bossa NovaFoto: AP

Uma das lendas em torno do nascimento da Bossa Nova, relatada pelo jornalista Ruy Castro em seu livro-documentário Chega de Saudade, conta a reação do gerente de vendas da então maior loja de discos do país ao ouvir o compacto de João Gilberto e Tom Jobim, lançado pela gravadora Odeon, em agosto de 1958:

"Esta é a m... que o Rio nos manda", afirmou o gerente, "Por que gravam cantores resfriados?", acresceu. Pouco tempo depois, a opinião do gerente mudaria, e o compacto gravado por João Gilberto e Tom Jobim mudou o jeito de cantar do final dos anos 50.

Cinqüenta anos mais tarde, a mídia alemã lembra carinhosamente do aniversário da mistura de samba e jazz, cujo surgimento considera sintoma da boa época conjuntural.

"A cançãozinha de Ipanema"

Tom Jobim
Tom Jobim é outro pai da Bossa NovaFoto: Folha Imagem

O semanário alemão Die Zeit lembrou que antes do lançamento do compacto de 1958, ao qual se atribui a origem da Bossa Nova, João Gilberto já gravara com Elizeth Cardoso peças do novo ritmo, entre elas, Chega de Saudade. Desta forma, o LP de Elizeth Canção do Amor Demais poderia ser considerado o primeiro disco gravado em Bossa Nova, afirmou o Die Zeit, que também apontou a importância do filme Orfeu Negro (1959) na divulgação da Bossa Nova.

Um aspecto interessante citado pelo semanário trata das diversas reedições que o ritmo vivenciou, desde que surgiu há 50 anos, sob o signo do otimismo, do progresso econômico e da vitória da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo da Suécia.

"Desde então, a Bossa Nova ficou. Alguma coisa deve haver neste samba de tropeço cantado em câmara lenta, nesta serenata de colcha de cetim com ritmo nos quadris. Ela soa como luxo e relaxamento e combina com tempos de boa conjuntura. Está mais do que na hora de celebrar o 50º aniversário da Bossa Nova – antes que a recessão chegue" comentou o Die Zeit.

"Ipanema para todos!"

Astrud Gilberto
Astrud Gilberto só perde para o Beatles, diz mídiaFoto: AP

Através da canção popular alemã Schuld war nur der Bossa Nova (A culpa foi toda da Bossa Nova), cantada pela artista alemã Manuela em 1963, a edição online da revista Der Spiegel exemplificou a enorme divulgação internacional que o ritmo teve, chegando à Alemanha no início dos anos de 1960. Passagens do livro de Ruy Castro, escrito em 1990 e editado em alemão em 2001, também foram mencionadas pela edição online da mais importante revista alemã.

Citando Ruy Castro, a Der Spiegel sublinhou que o compacto de João Gilberto e Tom Jobim, que depois se tornou um LP, promoveu uma verdadeira revolução musical no Brasil de então. Nenhum outro disco brasileiro inspirou tanta gente a cantar, a compor ou a querer tocar violão, comentou o magazine.

A Der Spiegel lembrou também que o sucesso de grupos como Nouvelle Vague ou do ritmo conhecido por Brasilectro são exemplos recentes da atualidade da Bossa Nova no cenário internacional. Entre os brasileiros, está o novo álbum de Milton Nascimento Novas Bossas, gravado com o Trio Jobim.

"A culpa foi toda da Bossa Nova"

Französische Webseite "lexpress.fr": Sängerin Carla Bruni mit Nicolas Sarkozy liiert
Carla Bruni é herdeira do ritmoFoto: picture-alliance/dpa

O jornal Die Welt colocou a importância de Chega de Saudade para o surgimento da Bossa Nova no mesmo nível da importância que canções como Rock Around the Clock, de Bill Haley, e Anarchy in the UK, do grupo Sex Pistols, tiveram para o rock'n roll e o punk, respectivamente. O jornal também lembrou que Garota de Ipanema, composta por Tom Jobim, tornou-se uma das canções populares mais tocadas do mundo. Talvez só Yesterday dos Beatles seja mais conhecida, disse o diário.

O Die Welt comentou que o desgaste da Bossa Nova vivenciou em seu país de origem não se repetiu lá fora. Enquanto o ritmo do tempo da ditadura estaria fora de moda no Brasil, nos anos 80, por exemplo, a cantora Sade alcançou grande sucesso com sua Bossa-Pop.

A curta ascensão da New Economy, no final dos anos de 1990, também aconteceu sob o som de Bossa Nova, que invadiu lounges e bares de happy hour. "Até mesmo a música da primeira-dama francesa é herdeira do ritmo. O que Carla Bruni faz – sussurrar lascivamente acompanhando um violão – foi culpa toda da Bossa Nova", comentou o Die Welt. (ca)