Checkpoint Berlim: Roubos espetaculares
10 de abril de 2017Sempre tive a impressão de que os museus em Berlim são verdadeiras fortalezas para proteger os tesouros que abrigam, equipados com as tecnologias de segurança mais recentes – impossível entrar neles sem ser percebido ou disparar alarmes que atraem toda a polícia da cidade.
Mas um roubo digno de cinema mostrou que a realidade não é tão moderna assim. Duas semanas já se passaram, e a polícia continua longe de resolver o mistério sobre o furto da moeda de ouro de 100 quilos do museu Bode. A peça é avaliada em 3,7 milhões de euros.
O mais notável é a simplicidade da ação: os ladrões entraram por uma janela, usando uma escada colocada nos trilhos do trem que passam ao lado do edifício, caminharam até a sala, quebraram o vidro de proteção e saíram pelo mesmo lugar que entraram, fazendo rapel, sem chamar a atenção de nenhum segurança ou disparar qualquer alarme. O roubo só foi percebido meia hora depois pelos seguranças, quando os ladrões certamente já estavam bem longe.
Esse furto espetacular não é o único que renderia um filme. Ladrões ousados são mais comuns do que se pensa em Berlim, e vários crimes parecidos jamais foram solucionados pelas autoridades, como o emblemático saque aos cofres de um banco no bairro Steglitz.
O "roubo do túnel", como ficou conhecido o episódio, é um dos casos mais espetaculares da história criminal da Berlim. Durante meses, os ladrões cavaram um túnel de 45 metros que ligava uma vaga numa garagem à sala do banco que abrigava os cofres alugados para clientes. Ninguém ouviu o barulho da obra ou desconfiou dos criminosos, que circulavam pela região usando uniformes da construção civil.
Em janeiro de 2013, os criminosos invadiram o local e roubaram cerca de 300 cofres, que guardavam dinheiro, ouro, prata e joias, dos 1.600 que havia no banco, e pareciam saber exatamente qual deles deveriam abrir. O valor estimado do roubo é de cerca de 10 milhões de euros. O alarme da sala chegou a disparar, um segurança foi até o banco, mas de fora tudo parecia normal. Como em outras ocasiões o alarme já havia disparado por causa de ratos, o segurança não foi até o porão para verificar os cofres.
No fim da ação, os ladrões tocaram fogo na sala e fugiram por onde entraram. Os investigadores acreditam que o planejamento do roubo levou anos e foi realizado por profissionais. Apesar de encontrar várias pistas ao longo da investigação, a polícia não conseguiu solucionar o mistério, e o caso foi arquivado em 2015. O episódio lembra muito o assalto ao Banco Central de Fortaleza, de 2005.
Além do roubo do túnel, outros crimes espetaculares ocorreram na capital alemã e permanecem sem solução, como o roubo de 30 obras de arte, incluindo gravuras de Picasso e Matisse, de uma galeria em Charlottenburg, em 2008, ou o de um quadro do pintor Lucian Freud, levado em plena luz do dia por um visitante da Galeria Nacional em 1988, que pegou a peça e a escondeu sob o casaco para sair do museu.
Mas nem todo crime desse porte permanece sem castigo. A polícia solucionou alguns deles, como o furto de nove quadros do museu Brücke, em 2002. Um mês depois do roubo, as peças foram encontradas, ainda em Berlim, e os assaltantes, presos. Ou o assalto ao torneio de pôquer que ocorria no hotel de luxo Grand Hyatt, em 2010. Os criminosos invadiram o local e levaram o dinheiro da compra de fichas, mais de 200 mil euros. Algumas semanas depois, os quatro foram detidos.
Em ambos os "bons exemplos", os crimes foram solucionados em poucas semanas. No caso do roubo da moeda Big Maple Leaf, esse prazo está acabando e, ao que parece, os investigadores não têm a menor ideia de onde possam estar os ladrões.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.