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Checkpoint Berlim: Duas em uma

Clarissa Neher20 de maio de 2016

Brasileira radicada em Berlim, a jornalista Clarissa Neher conta como faz para saber se está no lado ocidental ou oriental da cidade. Mais de 25 anos após a reunificação, a capital alemã continua marcada pela divisão.

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East Side Gallery, Muro de Berlim
Foto: picture-alliance/dpa/Hans Wiedl

Nos 28 anos em que dividiu Berlim, o Muro não só separou distintos sistemas econômicos como criou duas cidades paralelas. Logo que cheguei, sempre procurava saber em que lado do Muro estava.

Até que recebi uma dica valiosa: é possível se localizar pelo bonde. Somente o lado oriental preservou suas linhas. Na Berlim Ocidental esse sistema de transporte foi desativado no fim da década de 1960. Então, as áreas onde ainda havia linhas do chamado tram pertenciam à Alemanha Oriental. A dica deixou de ser tão quente de uns anos para cá, pois algumas linhas foram ampliadas pela parte oeste da cidade a dentro, por motivos práticos.

Apesar dos mais de 25 anos de reunificação, percebi que a divisão – que teve origem no loteamento da cidade em setores soviético, britânico, americano e francês, após a Segunda Guerra Mundial – ainda está presente em diversos elementos da capital alemã.

Berlim tem, por exemplo, dois zoológicos bem distintos: um de 1844 e outro construído no lado oriental, em 1955; duas universidades de renome: a tradicional Humboldt, de 1809, e a Universidade Livre, fundada em 1948, no lado ocidental; e duas grandes bibliotecas públicas: a do leste e a do oeste, inaugurada em 1978 e imortalizada no clássico de Wim Wenders Asas do Desejo (1987).

Clarissa Neher
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Em determinados bairros, é possível perceber ainda os caminhos opostos que o desenvolvimento tomou nas "Berlins". Os traços do capitalismo são marcantes em regiões nobres como Charlottenburg ou Steglitz, além da tradicional rua de compras Kurfürstendamm, apelidada de Ku'damm pra facilitar a pronúncia. Já as marcas do socialismo estão presentes na imponente avenida Karl Marx Allee e nas típicas construções habitacionais da União Soviética, conhecidas como Plattenbau, dos bairros Marzahn ou Lichtenberg.

Mas enquanto alguns elementos da divisão sobrevivem ao tempo, outros se desvanecem em ritmo acelerado. Maiores exemplos dessa mudança são a Potsdamer Platz, que deixou de ser um espaço vazio para se transformar em um centro financeiro, e a gentrificação de bairros como Kreuzberg ou Prenzlauer Berg, que se tornam cada vez mais badalados.

Mergulhada em transformação constante, Berlim já é uma cidade diferente daquela que conheci quando cheguei e procurava saber em que lado do Muro estava.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.