Checkpoint Berlim: Diagnóstico bipolar
5 de agosto de 2016Dizem que as cidades têm personalidades. Acho que pode até ser, algumas têm características bem marcantes. Para mim, São Paulo é a agitação. Já Paris transpira romantismo. Sevilha é pura alegria. E Berlim é uma cidade dos extremos.
Entre uma rua e outra a capital alemã parece adquirir diferentes personalidades. Às vezes é extremamente alegre, cheia de vida e, de repente, sem aviso, a tristeza toma conta de tudo, e o peso do passado gera uma depressão profunda. Se fosse avaliada por especialistas, Berlim seria considerada uma cidade bipolar.
Em determinado momento, a cidade mundialmente é conhecida por sua cena eletrônica e só festa que se espalha pelos parques, bares e casas noturnas. No cair da noite, multidões animadas ocupam as vielas de bairros boêmios, como Kreuzberg, Friedrichshain ou Mitte. Risos, conversas e música tomam conta do ambiente. É quando Berlim transpira alegria.
Mas bastam, às vezes, apenas alguns passos para a tristeza vir à tona. Berlim carrega um peso enorme de sua história, marcada por mortes e violência. A Topografia do Terror e memoriais em lembrança dos mortos pelo regime nazista estão lá para evitar que os horrores cometidos durante o período jamais sejam esquecidos. Berlim teve um papel central nessa época. Daqui partiam ordens que chocaram o mundo.
Depois desse período sombrio, outro dominou a cidade separada por um muro. Pedaços remanescentes dessa divisa e a marcação de seu percurso não deixam esquecer as vítimas da divisão e dão uma dimensão da ruptura causada por esse objeto, cuja sua existência foi imposta repentinamente.
Esse ambiente bipolar divide quem conhece a cidade. Há os que a amam e os que a odeiam. Quem não gosta afirma que Berlim é muito carregada, leva consigo um peso muito grande e deprime. Para mim, são justamente esses dois opostos – de um lado, essa vontade de não quer esquecer o passado para evitar acontecimentos semelhantes no futuro, e do outro essa alegria e leveza – que tornam a capital alemã fascinante e fazem dela Berlim.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.