Checkpoint Berlim: Delitos bizarros
23 de setembro de 2016Nem um mês durou a placa em homenagem ao cantor David Bowie em Berlim. Inaugurada no fim de agosto pelo prefeito Michael Müller, numa cerimônia que lembrou importância da cidade na obra do músico, a placa de porcelana, produzida por uma fábrica de renome, foi misteriosamente roubada no fim de semana passado.
A placa colocada em frente ao prédio onde o cantor morou no fim da década de 1970 –Hauptstrasse 155, no bairro Schöneberg – teria sido levada em plena tarde de sábado. O intrigante é que, numa rua extremamente movimentada e cercada de lojas e restaurantes, ninguém parece ter percebido a ação ou o barulho provavelmente causado para arrancar o objeto da parede. Alemães não costumam se importar com a vida dos outros, mas será que nenhum curioso deu uma olhadinha pela janela ao escutar algo fora do comum? Nenhum passante não achou esquisito a remoção do objeto?
O roubo intriga a polícia, que busca testemunhas. A única pista divulgada pelas autoridades é a suspeita de que a placa tenha sido removida com violência, já que cacos foram deixados no chão pelos ladrões. Cá entre nós: é meio óbvio que arrancar um objeto cimentado na parede exige força.
A dimensão do dano causado na placa e o motivo do roubo são desconhecidos. Quem quiser pode especular à vontade sobre hipóteses: fã ciumento que queria homenagear músico em sua própria casa; alguém que detesta o estilo musical de Bowie e estaria revoltado com a homenagem; puro vandalismo; ou ainda brincadeira de adolescente. Na época da minha adolescência em Curitiba, era moda roubar cones de trânsito, nunca entendi a graça nisso, mas, enfim, tinha gente que achava um máximo.
O roubo da placa de porcelana não é único delito bizarro que intrigou a polícia recentemente na capital alemã. Em agosto, na mesma semana da inauguração da homenagem a Bowie, uma aparição causou alvoroço nas redes sociais: uma bicicleta surgiu pendurada na escultura de 30 metros de altura Molecule Man, localizada no meio do rio Spree. O objeto foi removido por escaladores profissionais, mas o mistério de como ele foi parar lá e o autor da proeza jamais foram descobertos.
Há pouco mais de um ano, desconhecidos roubaram o crânio do cineasta alemão Friedrich Wilhelm Murnau, do túmulo da família no cemitério de Stahnsdorf, próximo de Berlim. Nesse caso, a realidade imitou a arte. O crime sinistro poderia muito bem fazer parte de algum dos filmes do diretor de Nosferatu (1922). Havia suspeitas de que o delito fazia parte de algum ritual macabro. As investigações acabaram, até hoje, não revelando muita coisa. E, pelo andar da carruagem, tudo indica que o mistério da placa de Bowie será mais um desses enigmas esquisitos sem solução.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.