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Checkpoint Berlim: Churrasco berlinense

Clarissa Neher10 de junho de 2016

Com a chegada do verão o cheirinho de churrasco toma conta dos parques em Berlim. Mas picanha, alcatra e filé não fazem parte dessa tradição. Clarissa Neher conta o que vai sobre a churrasqueira na Alemanha.

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Churrasco no parque Tempelhof, em Berlim
Churrasco no parque Tempelhof, em BerlimFoto: DW/K.Sacks

Os invernos costumam ser longos e cinzentos em Berlim. No primeiro dia de calor depois desse período melancólico – quando as temperaturas passam dos 18 graus, o que no Brasil ainda é considerado friozinho –, a cidade se enche de alegria, e todo mundo sai de casa.

A chegada da primavera traz consigo uma série de tradições, sendo uma das mais importantes o churrasco. Engana-se, no entanto, quem pensa que na Alemanha churrasco alemão é parecido com o brasileiro, o que não significa que a versão alemã seja menos saborosa ou menos divertida.

A primeira surpresa é descobrir que há uma "temporada" para a prática. Não existem churrasqueiras em casa, embutidas na parede, como no Brasil. Aqui a maioria delas é portátil, e o churrasco costuma ser feito ao ar livre. Por isso, fica difícil curtir uma carninha no inverno, sob temperaturas negativas.

O churrasco na varanda costuma ser proibido por proprietários de imóveis devido aos riscos de incêndio, mas isso nem sempre é um impedimento. Já participei de churrascos feitos na sacada e também de um na sala da casa de um amigo. As janelas abertas não conseguiram evitar que a fumaça do carvão tomasse conta do ambiente. O churrasco foi bem animado, mas saímos de lá "defumados". Fiquei pensando por quanto tempo a lembrança do evento permaneceria no apartamento.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Para evitar odores, transtornos ou incêndios, a maioria dos berlinenses costuma se reunir para grelhar em parques. No entardecer de dias quentes e nos fins de semana, um cheirinho de churrasco de dar água na boca paira no ar em áreas verdes da cidade.

A festa não exclui quem não tem churrasqueira. No mercado dá para comprar um sistema descartável, feito de alumínio, que já vem inclusive com o carvão. Prático, não? E ainda tem gente que diz que os alemães não sabem ser espontâneos.

Para mim, no entanto, a maior diferença com o Brasil é o conteúdo sobre a grelha. Picanha, alcatra, filé são palavras inexistentes no vocabulário do churrasco alemão. Aqui a linguiça é a opção número um, havendo uma enorme variedade de tipos – como bratwurst, bockwurst e krakauer. Além da wurst, alguns assam, no máximo, um bife de porco ou peito de frango.

Fato é que, apesar das diferenças, o churrasco alemão tem seu charme. E, assim como no Brasil, ele é um momento de confraternização. Depois de oito anos em Berlim, para mim também não tem nada melhor que, depois de um longo inverno, sentar no parque em volta de uma churrasqueira, na companhia dos amigos e de cerveja, é claro.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.