“Chances de Julian Assange são reduzidas”
19 de agosto de 2014O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, anunciou na segunda-feira (18/08) a intenção de deixar a Embaixada do Equador em Londres. O australiano não deu data nem explicou seus motivos, mas sua decisão voltou a trazer à tona um impasse que já se estende por dois anos.
Se deixar a embaixada, Assange será preso e, possivelmente, extraditado à Suécia, onde responde pelo crime de agressão sexual. Ele teme ainda que as autoridades suecas o enviem depois para os EUA, onde poderia ser julgado pelas revelações do WikiLeaks.
Em entrevista à DW, o embaixador equatoriano na Alemanha, Jorge Jurado, admite que as chances de Assange são reduzidas. E diz esperar que, o mais em breve possível, o fundador do WikiLeaks chegue ao Equador.
DW:Quais são as possibilidades de Julian Assange?
Jorge Jurado:As possibilidades de Assange estão diretamente relacionadas com a vontade política do Reino Unido ou da Suécia, ou pela ordem correta, da Suécia e do Reino Unido, sem esquecer dos Estados Unidos. Se esses três países atuarem em conjunto para manter a rigidez e a inflexibilidade absolutamente injusta contra Julian Assange, as chances dele são muito reduzidas.
A vida de Julian Assange corre perigo?
Acreditamos que desde o início, há mais de dois anos, que a vida e os direitos humanos fundamentais de Julian Assange estejam em perigo. Isso devido ao fato de que não há garantia alguma de que ele não seja extraditado aos Estados Unidos, onde pode enfrentar acusações graves que representam uma ameaça para a vida dele.
Os Estados Unidos consideram que Julian Assange cometeu um crime grave ao publicar informação confidencial através do portal WikiLeaks. É possível que o governo americano venha a ser mais flexível com essa postura no futuro?
O curioso é que os jornais como o Washington Post e o New York Times são os veículos que publicaram tudo o que o WikiLeaks havia compartilhado. E nenhum deles sofreu retaliação, mas Assange, sim. Não quero especular, mas posso dizer que há uma falta de equilíbrio. Bodes expiatórios são buscados para servir de exemplo e, com eles, suponho que vários governos desejam impedir que revelações como essas sejam feitas. É uma violação contra a liberdade de expressão.
O chanceler Ricardo Patiño reiterou que o Equador seguirá protegendo Julian Assange. Mas a dúvida é como ele conseguirá deixar a embaixada do país em Londres, pois caso saia, será detido.
Esse é o perigo que ele corre, evidentemente. Ele tem consciência da situação, e a queixa que ele formula é também fundamental, pois sem ser um prisioneiro, sem ter acusações contra ele, há quatro anos — dois dos quais ele se encontra em asilo na nossa embaixada em Londres—, Assange não recebeu nenhuma possibilidade para dar um passo em liberdade, o que é autorizado a prisioneiros. Sem ser um prisioneiro, ele vive uma condição de violação permanente de seus direitos fundamentais, e isso deve terminar, como disse o embaixador Patiño, e o mais cedo possível.
O Equador faz parte de um bloco de países com uma postura crítica aos Estados Unidos, agora ao lado da Rússia também. Até que ponto países em desenvolvimento podem exercer uma função de contrapeso à postura das potências ocidentais?
Consideramos que o primordial para qualquer tipo de interrelação seja o respeito absoluto da soberania dos países e dos povos. Sem o respeito à soberania, nenhum tipo de relacionamento é possível. Defendemos a soberania e continuaremos a defendê-la com um dos elementos mais preciosos que temos. Por outro lado, a formação de uma frente, creio que a situação mostra o quanto de um abuso histórico países em desenvolvimento — em maior ou menor grau — têm sofrido por potências hegemônicas. Isso faz que a defesa da soberania seja uma das metas mais claras. No entanto, também acredito que deve ser mencionado que estamos bem dispostos a dialogar com todos os países dentro de um processo de multipolaridade mundial. Não interessa ao Equador e o país não acredita na ideia de um mundo unipolar, como tentou-se fazer nos últimos 20 anos. Cremos na multipolaridade, que é o caminho democrático para que se consiga um desenvolvimento justo, equitativo, dos diferentes países e regiões do mundo.
É possível que Julian Assange chegue algum dia ao Equador?
Esperamos que ele chegue ao país e o quanto antes possível. São os planos de Assange. Seguiremos garantindo a segurança dele através do asilo que concedemos na embaixada. E se as portas forem abertas, espero que em breve, o Equador vai recebê-lo com respeito e com o respeito aos direitos fundamentais dele, como deve-se receber todo ser humano.
Não há temor de uma represália política por parte dos Estados Unidos?
Acima de tudo estão nossos princípios. Sabemos fazer os Estados Unidos respeitá-los, e isso é fundamental.