Cervejas artesanais e o comércio de lúpulo
27 de julho de 2014No verão europeu, as plantas de lúpulo da região de Hallertau, na Baviera, atingem até sete metros, sustentadas por estruturas de metal. Ao lado dos Estados Unidos, este triângulo – entre Munique, Regensburgo e Ingolstadt – abriga a maior área de plantação de lúpulo do mundo. Considerada a alma da cerveja, a planta provê à bebida seu gosto característico, além de funcionar como bactericida e garantir a fundamental espuma no topo do copo.
A família de Stephan Barth teve uma plantação de lúpulo em Hallertau até 1976, e ele se lembra bem das colheitas no verão. "Quem passa pelo Hallertau no final de agosto ou em setembro, pode sentir o cheiro de terra do lúpulo, que amo desde criança", diz.
Criado nos Estados Unidos, ele retornou à Alemanha no final dos anos 1980 e é hoje um dos três chefes da empresa da família, a Joh. Barth & Sohn. A empresa processa e comercializa o lúpulo, na maioria das vezes para cervejarias, que ainda não encontrarm um substituto para o produto.
Barth beneficia-se de uma nova tendência entre os cervejeiros. Após as grandes cervejarias dominarem o mercado em todo mundo até o fim dos anos 1990, um novo movimento ganhou força nos últimos 30 anos, especialmente nos EUA. São as cervejas artesanais, como a Drunken Sailor, Detox, Delirium Tremens e a Holy Shit Ale.
Às cervejarias artesanais, não importa tanto a presença do alfa ácido, mas sim o aroma, de preferência "o mais diferente e inovador possível", diz Otmar Weingarten, da Associação Alemã dos Produtores de Lúpulo. Esses sabores provêm dos chamados lúpulos aromáticos, dos quais as cervejarias artesanais precisam em grande quantidade.
Grande parte das cervejas artesanais é produzida com até 20 vezes mais lúpulo do que as cervejas tradicionais. Enquanto o preço do lúpulo amargo, do qual se extrai o alfa ácido, ainda é baixo, os lúpulos aromáticos ficam cada vez mais caros.
Até o momento, apenas 8% do consumo nos EUA é de cervejas artesanais. No entanto, esses produtores utilizam cerca de 60% do lúpulo usado no país. Em meados dos anos 1970, havia cerca de 50 cervejarias nos EUA. A partir da revolução dos pequenos produtores, o número chegou a quase 3 mil, afirma Barth. Essa é uma ótima notícia para os comerciantes.
"A cerveja voltou a estar na moda", comemora, graças às variedades do produto e aos sabores diferenciados. Segundo Barth, a tendência se verifica em todo o mundo, da Europa à América Latina. Até mesmo na China, o maior mercado cervejeiro do mundo, o gosto está mudando, fugindo das cervejas comuns.
Mercado mundial
Os comerciantes servem de intermediários entre cervejarias e produtores de lúpulo, e a Joh. Barth & Sohn é uma das líderes de mercado neste ramo. Hoje, cerca de 30% do lúpulo comercializado no mundo passa pela empresa alemã, mas nem sempre foi assim.
Na metade do século 19, havia aproximadamente 360 comerciantes de lúpulo em Nurembergue, o centro desse comércio na Alemanha. O número foi diminuindo com o tempo. Primeiro, veio a forte concorrência dos EUA. Depois, o regime nazista na Alemanha levou muitos produtores de lúpulo, que frequentemente eram judeus, ao exílio ou à morte.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a produção do lúpulo transformou-se drasticamente. "Com o passar dos anos, obtiveram-se avanços incríveis no cultivo da planta", diz Barth. Eles fizeram com que metade da área cultivada antigamente fosse capaz de abastecer a atual indústria cervejeira, que hoje é aproximadamente dez vezes maior do que há cem anos.
Por muito tempo, as cervejas padrão eram predominantemente leves, motivo pelo qual as cervejarias precisavam de pouca quantidade do alfa ácido encontrado no lúpulo amargo. Mesmo que cada vez mais pessoas consumissem cerveja em todo o mundo, se produzia mais lúpulo do que o necessário, os preços eram baixos e o número de comerciantes e cultivadores diminuiu.
Serviços aos produtores
O grande desafio era continuar produzindo, apesar da demanda reduzida por lúpulo. "Se fossemos um comerciante como os de antigamente, que apenas compravam e revendiam o lúpulo cru, nós não seríamos necessários", afirma Barth. Mas como as cervejarias utilizam apenas de 2% a 3% do lúpulo cru, o processamento da planta tornou-se extremamente importante. Hoje em dia, também se comercializa o lúpulo na forma de extrato ou pastilhas.
Além de processar o produto, Barth oferece serviços para os cultivadores e para as cervejarias. "Ajudamos os agricultores a produzir de modo mais barato, melhor e ecológico, de acordo com as necessidades mercado", explica.
Um exemplo é a irrigação. Barth entrou em contato com empresas israelenses, que desenvolveram um modo eficiente de uso da água, e transmite esse conhecimento aos produtores.
As inovações também garantem um diferencial em relação à concorrência. Em 1990, Barth criou uma cervejaria experimental, a primeira do tipo. Além da empresa de Barth, produtores de cerveja podem realizar experimentos ali, alugando as instalações e recebendo assessoria dos funcionários da Joh. Barth & Sohn.