Uta de Naumburg
20 de agosto de 2011Há mais de 700 anos Uta, margravina de Ballenstedt, observa de cima os visitantes da Catedral de Naumburg: muda, misteriosa, com a gola do manto levantada, orgulhosa, inatingível e, no entanto, vulnerável. Ao lado dela, no grupo formado por um total de 12 familiares, está o esposo, Ekkehard 2º. Ao lado do irmão, ele é considerado o patrono desse edifício litúrgico entre os estilos românico tardio e gótico, preservado até hoje.
O "Mestre de Naumburg" não esculpiu santos na pedra, mas sim nobres, aos quais deu um gestual e almas próprias. Com essas figuras de arenito em tamanho natural, ele concluiu sua principal obra em 1249, após dez anos de trabalho.
Os historiadores também estão seguros de que o escultor e arquiteto viveu 200 anos depois dos patronos que retratou. Mas é como se os tivesse conhecido de perto: jamais antes um artesão-artista produzira figuras tão expressivas e exatas nos detalhes.
O "mestre" seria um grupo?
A biografia do próprio escultor, por outro lado, permanece envolta em mistério: nem mesmo seu nome chegou até nosso tempo. Porém tudo indica que essa obra de arte total – que é a catedral da cidade na Saxônia-Anhalt – não se deva a um único artista solitário. Mais provável é que um grupo de artesãos tenha primeiro sido formado e instruído no norte da França, sob a supervisão de um "mestre", para mais tarde atuar em outras partes da Europa.
Seu estilo de retratar indivíduos em três dimensões – sensacional na época – também se encontra nas catedrais francesas de Reims, Amiens, Noyon, Chartres e Metz. Em seguida, o Mestre de Naumburg deve ter se mudado para Mainz. Supõe-se que também as célebres estátuas da Catedral de Meissen sejam obra sua. É nessa cidade da Saxônia que seus rastros se perdem definitivamente em 1250.
O mestre também deixou sua marca artística no portão que dá acesso ao coro leste da Catedral de Naumburg. Trata-se de uma imagem de Jesus pregado à cruz, no rosto uma dor imensa, ao seu lado Maria verte lágrimas amargas. O crucifixo não se encontra em local inatingível para o visitante, mas sim quase à altura dos olhos. Segundo os especialistas em história eclesiástica, assim está caracterizada a presença terrena do Filho de Deus tornado homem, em toda sua dor e sofrimento.
Beleza instrumentalizada
Em 2011, uma exposição reúne em cinco locais de Naumburg cerca de 500 objetos, que traçam o caminho do Mestre de Naumburg. Eles incluem empréstimos de toda a Europa: a escultura do rei Childeberto 1º, por exemplo, cedida pelo Museu do Louvre, jamais deixara antes a França.
Contudo, nenhuma figura impressiona tanto o observador quanto a "mulher mais bela da Idade Média". O autor e filósofo italiano Umberto Eco revelou certa vez que gostaria de ter saído com ela. O desenhista de animação norte-americano Walt Disney tomou Uta como inspiração – ainda que tenha sido para a madrasta má da Branca de Neve.
O museu municipal de Naumburg Hohe Lilie dedicou toda uma exposição à bela. Lá vê-se seu rosto reproduzido em objetos do dia-a-dia, desde abotoaduras a quebra-cabeças. Documentos ilustram a forma como os nazistas instrumentalizaram Uta na Segunda Guerra Mundial como "Santa dos Combatentes", simbolizando o espírito de resistência alemão.
Até o dia 2 de novembro de 2011 a exposição permite penetrar na religiosidade, arquitetura e noção da natureza do século 13. Apenas uma questão permanece irrespondida: quem foi o Mestre de Naumburg?
Autoria: Karin Jäger / Augusto Valente
Revisão: Alexandre Schossler