Católicos acompanham com expectativa primeiro sínodo sob Francisco
6 de outubro de 2014O título soa estranho: "Terceira Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos". O tema parece abrangente: "Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização". E no encontro em Roma não são tomadas decisões, trata-se apenas de consultações.
Ainda assim, as mudanças na liderança do Vaticano e a nova coragem de enxergar o futuro da Igreja Católica de maneira realista e com opiniões honestas tornam interessante o evento iniciado neste domingo (05/10) e que dura duas semanas. Pois ele lembra claramente o espírito do Concílio Vaticano 2º (1962-1965) e aquela coragem – que então existia e diminuiu ao longo dos anos – de se ter conversas francas.
O Sínodo dos Bispos foi instituído pelo papa Paulo 6º, por Carta Apostólica, poucos meses antes do fim do Concílio. A decisão pode ter sido um reconhecimento das incomuns conversações ocorridas no Concílio.
Com o novo instrumento dos sínodos, Paulo 6º queria estreitar as relações do papa com os bispos e criar um fórum para questões urgentes. Desde 1967 foram realizados 13 sínodos ordinários e dois extraordinários no Vaticano. O último encontro extraordinário ocorreu em 1985, na época convocado pelo papa João Paulo 2º.
Renascimento do espírito sinodal
O teólogo alemão Albert Franz, de 67 anos, ainda se lembra dos primórdios. A partir de 1967 e por cinco anos, ele estudou filosofia e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Nesse período ocorreram três sínodos. "Na época, eles traziam consigo muita esperança", comenta o teólogo.
Mas o princípio sinodal logo foi contido, e um pensamento hierárquico prevaleceu. E hoje? "As expectativas eram muito altas na época. Como antes, eu ainda as tenho. Recuso-me a ver isso apenas como parte da História", afirma Franz, que hoje é presidente do Serviço Católico de Intercâmbio Acadêmico.
As esperanças estão de volta, diz ele, mesmo que – ou talvez justamente porque – num sínodo extraordinário, o número de participantes é menor e não são aguardadas decisões finais.
Os líderes das conferências episcopais de todo o mundo – atualmente são 114 – estarão em Roma nestas duas semanas. Além disso, o papa Francisco convidou os líderes das igrejas orientais e membros da Cúria Romana. Somados a outros bispos, especialistas e alguns leigos convidados, são 250 participantes da assembleia. E, ao contrário de sínodos anteriores, eles não devem simplesmente ler e ouvir declarações previamente escritas, mas buscar o debate espontâneo e acalorado. O papa deseja um renascimento do espírito sinodal, explica o secretário-geral do sínodo, o cardeal Lorenzo Baldisseri.
Temas urgentes
Segundo o cardeal alemão Reinhard Marx, um dos temas mais sensíveis dos últimos anos é a plena participação na vida da Igreja de católicos que voltaram a se casar depois do divórcio – e, nessa condição, estão postos de lado dentro da Igreja. "Na Alemanha está claro que exatamente nesta questão urgem soluções", diz Marx.
É muito provável que os bispos de outros países europeus pensem de forma semelhante. Mas talvez dos Estados Unidos venha a preocupação de como lidar com os homossexuais, já da África a situação comum de que muitos homens católicos têm várias esposas. Cerca de 80% dos participantes não são europeus, o que contribui para tornar o sínodo um pouco mais imprevisível.
O próprio Francisco contribuiu para que as atuais expectativas estejam certamente bem acima dos resultados a serem apresentados. No final de 2013, ele pediu aos bispos de todo o mundo relatórios sobre a aceitação dos ensinamentos tradicionais da Igreja sobre o tema casamento e família.
Totalmente incomum foi o pedido para que fosse incluída também a opinião dos leigos da Igreja, que neste tópico têm experiências mais concretas do que os sacerdotes. Na Alemanha, o resultado não poderia ser mais claro: a população está bem distante da rígida moral sexual que relaciona sexualidade exclusivamente ao matrimônio.
Conservadores e liberais
A convite do papa, o cardeal alemão Walter Kasper palestrou sobre o tema família para os cardeais reunidos no Consistório em Roma, em fevereiro. Kasper, que recebe constantemente elogios públicos de Francisco por sua abordagem teológica mais misericordiosa, manteve-se fiel ao seu apelo de que a rigidez da Igreja precisa ser reconsiderada.
Desde então, os lados estão claramente definidos: vários bispos conservadores e cardeais se voltaram contra Kasper nas últimas semanas e advertiram sobre qualquer mudança de rumo. E muitos observadores garantem: "Eles falam de Kasper, mas estão falando do papa". Do outro lado, bispos deixaram claro que Roma precisa enviar sinais de mudança e de disposição para mudar.
Na abertura do sínodo, neste domingo na Basílica de São Pedro, o papa Francisco criticou as brigas públicas entre progressistas e conservadores em questões familiares. "Assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais ou para ver quem é mais inteligente", disse o pontífice, e enfatizou: "Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor".
As discussões nestas duas semanas vão mostrar a direção que o Vaticano irá trilhar até o sínodo ordinário sobre o mesmo tema, no segundo semestre de 2015. Por exemplo, se caminhos distintos são possíveis nas diferentes regiões do mundo. E de que maneira os leigos deverão ser envolvidos em consultas futuras.
O teólogo Franz espera um retorno ao príncipio que deu origem aos sínodos. Nos últimos anos, isso foi muito reprimido, afirma.