Caso Snowden impõe dilema às relações entre EUA e Rússia
20 de julho de 2013O destino de Edward Snowden – o ex-consultor da CIA que denunciou o megaesquema de espionagem americano – ainda é incerto. Ele está detido há semanas na área de trânsito de um aeroporto de Moscou. Seu passaporte foi cancelado pelos Estados Unidos, e ele não possui visto de entrada na Rússia.
A situação ainda pode mudar. As autoridades russas examinam um pedido de asilo, que permitiria a Snowden entrar e, principalmente, sair do país. Na medida em que se estende, no entanto, o caso vai deixando de ser um imbróglio de procedimentos legais e cresce como um teste de forças entre duas superpotências: EUA e Rússia.
Russos e americanos vêm há dias medindo forças através dos canais diplomáticos. Os Estados Unidos exigem a deportação de Snowden, acusado pelo Departamento de Justiça do país de espionagem e de roubo de propriedades do governo.
“Nenhum outro governo dos EUA perseguiu com tanta ênfase um delator de segredos de Estado como faz agora o governo Obama”, diz o cientista político Wilfried Mausbach, do Centro de Estudos Americanos de Heidelberg. A intenção dos americanos, afirma, seria demonstrar que têm força suficiente para punir traições como essa, evitando que situações semelhantes venham a ocorrer no futuro.
Para Barack Obama, o caso é uma prioridade. Ele e o presidente russo, Vladimir Putin, já conversaram por telefone sobre a situação, mas sem qualquer resultado concreto. Moscou rejeitou categoricamente a extradição de Snowden, e os dois países ainda não conseguiram chegar a um acordo.
Encruzilhada para Putin
Ewald Böhlke, especialista em Rússia do Conselho Alemão de Política Externa (DGAP), lembra que Washington já era ciente de que Moscou não costuma extraditar oficiais de inteligência para os EUA. “Isso não ocorreu durante a Guerra fria e nem nos governos Boris Yeltsin e Putin”, explica.
Para Böhlke, a situação deixou ao presidente russo um dilema. A existência de um mandado de prisão contra Snowden é utilizada para fortalecer a política interna do governo russo, que acabou ficando em uma posição de superioridade em relação à superpotência norte-americana. Por essa razão, entregar Snowden às autoridades seria visto como um sinal de fraqueza por parte do governo.
No entanto, a permanência na Rússia do ex-consultor da CIA pode também arranhar ainda mais a imagem de Putin, já que o presidente russo tenta de todas as formas evitar um debate sobre direitos civis e segurança em seu país.
O dilema se reflete na retórica de Putin. O presidente fez questão de deixar claro que os EUA são um importante aliado e que Snowden chegou à área de trânsito do aeroporto e Moscou sem ter sido convidado. Ao mesmo tempo, porém, exaltou a independência da política externa russa e declarou que seu país não vai ceder às pressões americanas, recusando-se a entregar Snowden.
“Tanto os EUA quanto a Rússia querem evitar um desgaste permanente em suas relações”, observa Wilfried Mausbach.
A opinião é compartilhada por Böhlke, que diz que Putin não arriscaria as relações bilaterais em razão de um êxito de curto prazo. “Se Obama for a Moscou em setembro, esse tema seguramente estará em pauta”, afirma, em referência à Cúpula do G-20.
A decisão sobre o pedido de asilo político para Snowden poderá levar até três meses. Até lá, o ex-consultor da CIA não deve ser extraditado. O advogado de Snowden, Anatoli Kutscherena, afirma que seu cliente não tem a intenção de deixar a Rússia tão cedo.
Os EUA deixaram claro que vão considerar a concessão de asilo a Snowden como uma atitude hostil. Na Europa, vários países – incluindo a Alemanha – recusaram pedidos de aliso político feitos por Snowden. Cada vez mais se especula que o destino do ex-consultor da CIA deverá ser mesmo a América Latina, onde tem oferta de abrigo em Bolívia, Venezuela e Nicarágua.