Casamento pomerano no Espírito Santo tem noiva de preto
6 de setembro de 2004O ritual do casamento pode começar meses ou até anos antes da festa, com a engorda de animais e cultivo e aquisição dos ingredientes. O convite é feito pelo hochditsbira, um dos irmãos da noiva, que sai a cavalo de casa em casa, todo enfeitado com fitas coloridas, levando uma garrafa de "rabo de galo", uma mistura de cachaças da região para servir aos convidados. Depois de um grito alertando para sua chegada, o hochditsbira declama o convite em "pomerod". Como sinal de aceitação do convite, uma moça da casa pega uma fita, que prende nas costas ou ombro do rapaz e oferece dinheiro pelo serviço.
Os preparativos para a cerimônia do casamento são feitos em mutirão, toda a comunidade participa e tudo acontece na casa da noiva: matam os animais, fazem a lingüiça e outras receitas de carnes tradicionais. Enquanto isso, um mastro bem alto é erguido para indicar aos convidados o local da festa. Ali fica presa uma bandeira com as iniciais dos noivos e umas garrafas com dinheiro. Mais tarde, na disputa de tiro ao alvo, o dinheiro vai premiar o melhor atirador. O primeiro tiro é do noivo.
Na noite anterior ao casamento, acontece o baile do quebra-louças. Uma senhora de idade, amiga da família da noiva, abre seu avental cheio de louça velha que se quebra aos pés dos noivos. Assim são espantados os maus espíritos e uma nova vida se inicia. A louça que fica inteira é guardada como símbolo de segurança. Ao som da concertina, todos dançam sobre os cacos enquanto os noivos tentam varrê-los para fora da sala. Os participantes dançam, comem miúdos de frango e bebem até a madrugada.
No dia do casamento, uma sexta-feira, parte pela manhã um comboio, antigamente a cavalo, hoje de carro ou na boléia de caminhão, decorado com flores e ramos, em direção à igreja. Reza a tradição pomerana que a noiva case de preto, segundo alguns, em respeito a todas as noivas violentadas pelos senhores feudais na Europa. Após a cerimônia, os noivos são recebidos de volta com uma salva de fogos e o tocador de concertina toca uma canção de boas-vindas, recebendo dos convidados uma gorjeta.
À espera de todos já está um mesa posta, repleta de assados, sopas, batata inglesa e doce, pratos de legumes, papa de arroz com leite com canela e bebidas. Os noivos se sentam em um extremidade, debaixo de um arco enfeitado com ciprestes e flores e ficam ali até que o último convidado tenha almoçado, é prenúncio de azar os noivos se levantarem antes que todos estejam satisfeitos. As mulheres dão aos convidados lembrancinhas cor-de-rosa para os solteiros e azuis para os casados, e assim também vão arrecadando dinheiro para as despesas.
Chega então o momento da fotografia, o quadro que vai compor parte da decoração tradicional da casa dos pomeranos. A fotografia é tirada com todos os presentes, normalmente em uma encosta para que todos possam caber na foto.
Ao final do dia acontece então mais um baile, aberto pelos noivos com o kranzaffdanza, a dança da grinalda. A noiva dança com todos os homens e, o noivo, com todas as mulheres da festa, os primeiros a dançar são aqueles que mais ajudaram nos preparativos. Durante a dança, três homens tentam tirar o véu da noiva para rasgá-lo e as mulheres os impedem, cobrindo a noiva com um lenço. Na manhã seguinte, depois da disputa de tiro ao alvo, o noivo derruba o mastro com um machado e encerra oficialmente a festa. Os noivos então, exaustos, coordenam o trabalho de limpeza da casa.
Tudo terminado, antigamente a noiva acompanhava o marido à sua nova casa levando os dotes: uma vaca, um cavalo selado, um baú com roupas brancas, vestidos e muita disposição para trabalhar. Já os homens recebiam dos pais um pedaço de terra de onde teriam que tirar o sustento para a nova família.
Texto originalmente publicado em 2004