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Casamento na farmácia franco-alemã

(sv)20 de janeiro de 2003

A fusão da Höchst AG e da francesa Rhone-Poulenc criou o maior conglomerado farmacêutico do mundo. Com o nome Aventis firmou-se, mais uma vez, a nova ordem da indústria farmacêutica: a supremacia das multinacionais.

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Sede da Aventis em Schiltigheim, FrançaFoto: AP

O casamento franco-alemão não será dos mais fáceis, estamparam jornais em fins de 1999, quando tornou-se pública a fusão dos dois grandes da indústria farmacêutica. Os envolvidos traziam em suas bagagens mais de cem anos de história.

Especialistas e funcionários dos dois lados lançavam prognósticos quase sombrios sobre a capacidade de alemães e franceses de trabalharem juntos. Críticos da fusão denunciavam que cargos de direção eram distribuídos de acordo com a nacionalidade – para respeitar quotas entre alemães e franceses – e não em função da capacidade e da qualificação.

Desenvolvimento global –

Bem ou mal, na área de pesquisa farmacêutica, o trabalho só é feito por equipes internacionais, observa o francês Laurent Jacobs, diretor de Desenvolvimento Clínico da Aventis na Alemanha. "Os tempos em que um medicamento podia ser desenvolvido apenas em um país definitivamente se foram. No momento, isso é feito somente de forma global, num processo que envolve equipes e departamentos nos EUA, na Europa e também no Japão", completa Jacobs.

O desenvolvimento de um medicamento pode custar a uma empresa até dez anos de investimentos em pesquisa, o que perfaz um custo de cerca de 800 milhões de euros. Isso faz com que o trabalho só se torne rentável se o produto for vendido em todo o mundo. Enquanto as estratégias de marketing variam de país para país, a pesquisa é desenvolvida por uma rede internacional de especialistas.

Diferenças –

O biólogo Andreas Batzer coordena um grupo de pesquisadores oriundos de três países: Alemanha, França e Estados Unidos. Viagens constantes, telefonemas para o outro lado do mundo e vídeo-conferências fazem parte de seu dia-a-dia. Devido a seu intenso contato com colegas de outros países, Batzer tornou-se um quase especialista em relações interculturais.

"Na França, às vezes tenho a impressão de que tudo ainda funciona como na época de Luiz XIV. Quando os colegas de lá ainda não me conheciam, eu às vezes enviava um e-mail e não recebia, durante três dias, nenhum sinal de resposta. Eu imaginava como a minha mensagem era mandada primeiro para o patrão, um pequeno Luiz XIV, para então descer e voltar até às minhas mãos", comenta Batzer.

Em oposição a isso, segundo o biólogo, o trabalho na Alemanha é menos permeado por hierarquias, permitindo aos funcionários maior autonomia. Por outro lado, os alemães são conhecidos por um excesso de respeito ao planejamento, o que os torna menos flexíveis em relação aos franceses.

Cervejinha juntos –

Para Batzer, no entanto, um dos pilares básicos do trabalho entre equipes de diferentes países "é o contato pessoal. Quando você já viu alguém, já tomaram uma cervejinha juntos, tudo funciona melhor do que através de vídeo-conferências. Por isso, toda empresa que atua no mercado global deve investir no contato direto entre seus funcionários. Depois disso, nos meses que se seguem, o trabalho virtual passa a funcionar melhor".

Quando se trata de encontrar colegas em países distantes como os EUA ou o Japão, as possibilidades de contato tornam-se mais reduzidas, ao contrário do que ocorre entre as equipes da Aventis na Alemanha e na França.

Jutta Reinhard-Rupp, coordenadora científica e de projetos da UE do grupo, observa que o trânsito entre os dois países faz parte de seu dia-a-dia: "Acho uma pena que quase nunca vejo alguma coisa de Paris, quando estou lá. No fundo, o local de trabalho não é muito diferente do de Frankfurt. Uma vez que os escritórios e os laboratórios são muito parecidos, percebo apenas na língua que estou fora da Alemanha".

Em suma, europeus –

Enquanto operários na linha de produção da Aventis continuam sendo poupados da internacionalização, diretores e pesquisadores do grupo franco-alemão precisam, cada vez mais, ultrapassar quaisquer barreiras culturais, em função de um trabalho conjunto. Batzer observa que as diferenças entre alemães e franceses nem parecem mais tão grandes, quando se entra em contato com os colegas norte-americanos: "Tão logo uma terceira facção entra em jogo, a dos americanos, nós, europeus, percebemos que somos extremamente parecidos".