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Cartazes reais contra racismo virtual

Conor Dillon (av)2 de dezembro de 2015

Há quem se sinta livre para expressar racismo na internet. Mas que tal ver a ofensa postada online ser exibida num outdoor em seu próprio bairro? Projeto publicitário no Brasil devolve o preconceito a seus autores.

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Outdoor em Feira de Santana, BahiaFoto: Criola organization

Repúdio no mundo real é a melhor resposta ao preconceito online? Essa é abordagem adotada pelo projeto brasileiro "Racismo virtual, consequências reais". Seus organizadores pegam comentários públicos do Facebook e Twitter e os expõem em outdoors estrategicamente localizados próximo à residência dos autores.

Moacyr Netto, vice-presidente da agência de W3haus, que propôs a ideia da campanha, revelou à DW que ele e seus colegas nem precisaram utilizar os geo-tags para identificar os internautas em questão.

"Começamos por checar no Facebook. Depois conferimos que fotos a pessoa havia postado, se conseguíamos reconhecer o local. Aí passamos a investigar os amigos delas e as outras plataformas. Como sabíamos quem era a pessoa, fomos ao Twitter e ao Instagram e cruzamos todas essas informações para achar a localização."

Brasilien Kampagne Racismo Virtual
Porto Alegre, Rio Grande do SulFoto: Criola organization

Virtual ou real, racismo é crime

Os comentários foram então ampliados e expostos em cartazes nas proximidades da casa do usuário, embora não logo ao lado. Os rostos e nomes dos racistas da mídia social foram pixelados, mas há a questão de se eles ainda estariam reconhecíveis para os moradores das cercanias, talvez tendo até que enfrentar retaliação.

Netto está seguro que não: a pixelação oculta suficientemente as identidades dos internautas, afirma. E, seja como for, essas pessoas postaram seus comentários em público. "Racismo é crime no Brasil. Você está arriscando, e as pessoas sabem disso. Assim, a campanha offline está ajudando a divulgar a mensagem: 'Isso é um crime.'"

O projeto se realiza em conjunto com a organização Criola, que defende os direitos da mulheres negras no Brasil. Netto aponta dois fenômenos na rede que sugerem que o projeto está surtindo efeito. O primeiro é o pico no Google Trends para o termo "racismo virtual": os brasileiros agora estão discutindo o assunto online. O segundo efeito é que alguns dos autores dos comentários racistas apagaram suas postagens e tweets. "Eles sabem o que estão fazendo", comenta o publicitário.

Brasilien Kampagne Racismo Virtual
Americana, São PauloFoto: Criola organization

O caso Maju

A ideia para "Racismo virtual, consequências reais" nasceu quando uma postagem no Facebook sobre a meteorologista Maria Júlia Coutinho, "Maju", foi comentada 20 mil vezes e "curtida" mais de 45 mil. Grande parte dos comentários era racista, ainda que o mais votado fosse para lembrar aos demais que racismo é crime segundo a lei brasileira.

Ainda assim, devido ao volume das mensagens racistas e à amplitude do fórum em que foram divulgadas, Moacyr Netto e sua equipe seguiram pensando o que poderiam fazer. "Nosso background é digital. Assim, tendemos a sempre reagir a tudo relacionado à cultura digital. Nós nos reunimos na agência e decidimos fazer algo para dar fim aos comentários racistas."

Primeiro, os colaboradores da W3haus conversaram sobre as sensações desencadeadas por receber um comentário racista na internet. Será diferente pelo fato de ser online? Ou o impacto é semelhante? A impressão, depois de haver conversado com algumas vítimas, é que por vezes o efeito pode ser ainda mais forte.

"Você recebe um monte de comentários ao mesmo tempo. Não importa se foram feitos na rede ou não. Então nos perguntamos: 'Como fazer para que todo o mundo veja que o impacto é real?' E foi aí que veio a ideia dos outdoors."

Indignação e hipocrisia

Os cartazes em Porto Alegre (RS), Americana (SP) e Feira de Santana (BA) exibem ofensas como: "Já é preta, com nome de Maju, depois reclama do preconceito contra macumba"; "Se tomasse banho direito, não ficaria encardida"; ou "Cheguei em casa fedendo a preto".

No momento, essa não é a única campanha de igualdade social no Brasil baseada em mensagens negativas. No fim de novembro, um outdoor "pelo fim dos privilégios para deficientes" causou indignação na capital do Paraná.

Até que, no dia seguinte, o Conselho da Pessoa com Deficiência de Curitiba revelou que expusera o cartaz para provocar discussão. Seu argumento é que, se tantos brasileiros estacionam ilegalmente nas vagas especiais ou reclamam dos direitos legais para portadores de deficiência, então por que o clamor hipócrita diante do cartaz?

Moacyr Netto espera que a campanha "Racismo virtual, consequências reais" também continue gerando controvérsia no país. "Quanto mais gente falar a respeito, menos os ofensores vão se sentir livres para agir."