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Candidata negra enfrenta ultradireita no leste da Alemanha

18 de setembro de 2024

Em campanha pelos conservadores, camaronesa trabalha para reverter favoritismo da AfD em Brandemburgo, semanas após triunfo de populistas em eleições nos estados vizinhos.

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Adeline Abimnwi Awemo coloca um cartaz com a sua imagem em um poste em Cottbus
Adeline Abimnwi Awemo é a única candidata negra da região da Lusácia para o Parlamento do estado de Brandemburgo Foto: Frank Hammerschmidt/dpa/picture alliance

Entre os vários cartazes eleitorais espalhados pelas ruas de Cottbus – uma cidade no leste da Alemanha mencionada com frequência na mídia pelo extremismo de direita e por ter sido palco de ataques racistas – estão os que estampam uma mulher negra sorridente e a legenda Miteinander, que em alemão significa "juntos", "convivência" ou "uns com os outros".

Natural de Camarões, Adeline Abimnwi Awemo, do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), é a única candidata negra da região da Lusácia nas aguardadas eleições de 22 de setembro ao Parlamento regional do estado de Brandemburgo.

Nos últimos anos, os eleitores no leste alemão têm votado cada vez mais em partidos populistas. Isso gera dificuldades para os partidos tradicionais, como a CDU de Awemo, que integra a atual coalizão do governo estadual ao lado do Partido Social-Democrata (SPD) e dos Verdes.

Uma pesquisa recente no estado coloca a CDU em terceiro lugar na preferência do eleitorado com 16% das intenções de voto, atrás do SPD, com 26%, e da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), com 27%, segundo o levantamento do instituto Infratest Dimap.

"Estou preocupada, mas não estou com medo", disse Awemo à DW. "É diferente quando se trata de preocupação. Quando você está preocupado, pode encontrar soluções." É disso que se trata seu slogan Miteinander, explicou.

"Temos apenas que iniciar um diálogo, e talvez tenhamos a chance de convencer alguém de que temos boas ideias e que podemos representar essa pessoa."

Superação de ataque racista

Mas, nem todas as pessoas estão abertas ao diálogo. Em julho, Awemo foi alvo de um ataque racista enquanto pendurava cartazes eleitorais. Ela foi agredida fisicamente e verbalmente por uma mulher após tentar iniciar uma conversa, e teve que ser levada ao hospital para tratar dos ferimentos.

Panfletos eleitorais com a imagem de Adeline Abimnwi Awemo
Lema da campanha de Awemo é "Miteinander", que em alemão significa "juntos" ou "uns com os outros".Foto: Chiponda Chimbelu/DW

"Foi um choque que algo assim tenha ocorrido, porque nos meus 22 anos aqui em Cottbus eu nunca tinha vivido esse tipo de racismo", afirmou.

O tom de voz de Awemo muda ao falar desse incidente. Ela soa cansada, e prefere não dizer muito a respeito. "O ataque que aconteceu comigo poderia acontecer com qualquer pessoa", afirmou. "Mas não devemos ignorar o lado positivo da cidade de Cottbus."

O episódio, que projetou o nome da candidata na mídia nacional, não é algo incomum em Cottbus, cidade que tem reputação de ser um reduto da extrema direita. Mesmo assim, mudou a vida de Awemo. Ela agora tem que informar a polícia sobre todos os eventos de campanha, e às vezes precisa de proteção extra. A camaronesa, contudo, ainda fala de maneira afetuosa da cidade que adotou para viver.

Integrada à comunidade

Awemo nasceu em Kumba, uma cidade na região anglófona de Camarões. Ela se mudou para Cottbus em 2002 para estudar na Universidade de Tecnologia de Brandemburgo.

No início, sentia-se como uma estranha na cidade. Ela se lembra de ir a missas em uma igreja católica sem compreender uma palavra de alemão e se limitava apenas a sorrir. "Muitas pessoas na igreja me abordavam com ideias e tentavam compartilhá-las comigo", contou. "Nunca fiz curso de alemão. O alemão que eu falo hoje aprendi com as pessoas de Cottbus." 

A política, que agora se vê como uma cidadã de Cottbus, foi ajudada em cada etapa de sua vida pelas pessoas da comunidade, inclusive quando formou uma família e começou sua carreira profissional. Agora, Awemo deseja retribuir tudo isso à cidade. Ela acredita que sua experiência como migrante possa ser de grande valia, especialmente em um momento em que o tema da migração está no centro do debate político na Alemanha.

Awemo defende uma imigração seletiva. "Se nós estivermos em busca de profissionais e as pessoas que vierem para cá forem, por exemplo, profissionais técnicos, carpinteiros, médicos ou enfermeiros, devemos assegurar que possam trabalhar o mais rápido possível."

"Essas pessoas têm que ser encaminhadas no que diz respeito ao aprendizado do idioma alemão", acrescentou. Awemo é membro do Conselho Consultivo para Integração e Imigração de Cottbus desde 2018.

AfD é "chute no traseiro" dos partidos tradicionais

O debate público atual sobre a imigração é tido como um dos fatores que contribuíram para a ascensão da AfD, assim como para a alta popularidade da legenda populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), também conhecida pela retórica anti-imigração.

Os dois partidos, em particular a AfD, obtiveram ganhos significativos nas eleições recentes no leste da Alemanha. Os ultradireitistas foram os mais votados no estado da Turíngia e terminaram em segundo lugar na Saxônia, enquanto a BSW ficou em terceiro nas duas votações.

Awemo durante campanha nas ruas ao lado do líder da CDU no estado, Jan Redmann
Após ser alvo de ataque racista, Awemo recebeu apoio de muita gente, incluindo o líder da CDU no estado, Jan RedmannFoto: Frank Hammerschmidt/dpa/picture alliance

Em Cottbus, onde Awemo concorre contra o candidato da AfD Lars Schieske, as pessoas acham que a Alemanha gasta demais com o auxílio aos refugiados e com a ajuda à Ucrânia na guerra contra a Rússia, ao invés de cuidar mais das pessoas do país e de suas comunidades.

"A Alemanha só ajuda os estrangeiros. Aqui, na Alemanha, não acontece nada", reclama Alex, um homem na casa dos 20 anos.

"A popularidade da AfD é um chute no traseiro dos partidos tradicionais. Não concordo com a política [da coalizão] e dos partidos tradicionais", diz um aposentado, se referindo à coalizão do governo federal formada por SPD, Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP).

Awemo diz compreender a frustração dos eleitores. Quando conversamos com a candidata, ela fazia campanha em frente a um supermercado em Sachsendorf, bairro popular que é parte do amplo distrito pelo qual ela concorre.

Ela estava a poucos metros de alguns conjuntos habitacionais que já serviram como moradia para médicos, engenheiros e outros trabalhadores qualificados durante o regime comunista da República Democrática Alemã (RDA), a antiga Alemanha Oriental. Hoje os apartamentos abrigam beneficiários de programas de assistência social, aposentados e refugiados. Os que podiam deixar o bairro já o fizeram.

"Há muitas expectativas que ainda não foram atendidas", disse Awemo. "Nessa região, há também a história da redução escalonada das usinas de carvão e as incertezas do que virá no futuro."

Novas oportunidades para a região

A cerca de 120 quilômetros ao sul de Berlim, Cottbus é a maior cidade da Lusácia, uma região que costumava ser a principal fornecedora de carvão e energia para a Alemanha Oriental . Atualmente, é uma das áreas mais pobres do país, apesar de receber centenas de milhões de euros para promover o fim da utilização dos combustíveis fósseis.

Awemo conversa com eleitores em frente a supermercado
Awemo acredita que consegue convencer eleitores se tiver chance de conversar com elesFoto: Chiponda Chimbelu/DW

Em junho, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, esteve na região para inaugurar a Universidade de Medicina da Lusácia, que terá o maior hospital universitário de Brandemburgo. Foi a segunda visita de Scholz à região este ano. Em janeiro, ele participou da inauguração de uma nova fábrica de equipamentos ferroviários, enquanto um grupo de fazendeiros locais realizava um protesto do lado de fora.

O foco da campanha de Awemo está justamente nessas novas oportunidades para a região, quando ela fala sobre tornar Cottbus mais atraente para os moradores e para os que lá chegarem.

"Haverá um grande mercado de empregos que permitirá que as pessoas trabalhem, para que possam viver e se dar bem umas com as outras", afirmou.

Mas naquela tarde quente e úmida de setembro, Awemo não conseguiu conversar com muitos potenciais eleitores em frente ao supermercado. Ela terá que trabalhar muito ainda até o dia da eleição, em 22 de setembro.