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Burundi quer compensação da Alemanha por crimes coloniais

António Cascais
28 de agosto de 2020

Peritos nomeados pelo Parlamento do país africano preparam relatório e adiantam valor de 36 bilhões de euros a ser exigido. Também Tanzânia quer reparações.

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Burundi
Homens vestem peles de leopardo durante celebração da independência do Burundi da Bélgica, em 1971Foto: Getty Images/AFP

Na sequência das conversações em curso entre Alemanha e Namíbia, também o Burundi exige reparações por crimes cometidos durante o período colonial alemão. Um grupo de peritos nomeados pelo Parlamento local prepara um relatório sobre a questão e já há uma estimativa da compensação financeira a ser exigida de Alemanha e Bélgica: 36 bilhões de euros.

"Acusamos a Alemanha de agressão brutal ao Burundi. A Alemanha sujeitou militarmente o Burundi, ocupou seu território e oprimiu economicamente seu povo", argumentou o historiador Aloys Batungwanayo, professor na Universidade de Lausanne e membro da comissão de peritos.

A Tanzânia também aumenta a pressão sobre o governo alemão para que assuma a responsabilidade por crimes de guerra cometidos durante o período colonial na África Oriental. No rol de ações brutais estariam o massacre de vários grupos na Revolta de Maji-Maji. O embaixador tanzaniano em Berlim, Abdallah Possi, lançou um apelo a Berlim no início de 2020 para "negociar reparações".

O diretor do Museu Nacional da Tanzânia, Achilles Bufure, considerou que essas negociações são urgentes. Como tem especial interesse no acervo cultural do país, Bufure está também preocupado com a devolução de inúmeras obras de arte e bens roubados. "Temos estado a discutir a questão dos dinossauros com alguns membros do Museu de História Natural de Berlim e queremos organizar o regresso de algumas coleções. Sou a favor de que o nosso governo discuta com o lado alemão uma forma de devolver esses objetos", sugeriu Bufure.

A contradição alemã

Entre 1885 e 1919, a Alemanha foi a terceira maior potência colonial europeia na África, atrás do Reino Unido e da França. O império alemão dominava o Sudoeste Africano Alemão (a atual Namíbia), a África Oriental Alemã (Burundi, Ruanda e Tanzânia), bem como as áreas nos atuais Togo, Gana e Camarões.

Desde 2015, a Namíbia negocia com a Alemanha reparações pelo genocídio dos grupos étnicos herero e nama. O Burundi é o terceiro país africano que passou a pressionar Berlim, exigindo reparações por crimes dos regimes coloniais alemão e belga.

O professor de história africana Jürgen Zimmerer, da Universidade de Hamburgo, avaliou que a Alemanha estabeleceu elevados padrões morais no que diz respeito à sua própria história, mas que sobre o período colonial há uma certa omissão.

"A aproximação ao passado faz parte da Constituição da República Federal da Alemanha. No entanto, a Alemanha olha de braços cruzados para os crimes coloniais na África e não quer dar uma resposta adequada", opinou Zimmerer.

Três décadas de brutalidade

O império durou pouco mais de três décadas. Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha teve de ceder suas colônias às potências vencedoras. Mas a curta duração da presença do regime alemão em África na época não impediu a violência.

"De fato, estes 30 anos de domínio colonial alemão formal foram muito violentos. As colônias tiveram realmente de ser conquistadas, porque houve ações de resistência por todos os lados, que foram brutalmente reprimidas pelo regime", disse Zimmerer.

As revoltas mais sangrentas foram a Revolta de Maji-Maji, na África Oriental, entre 1905-1907 – que, segundo os historiadores, teria resultado na morte de 300 mil pessoas – e a Revolta dos Hereros e Namas no Sudoeste Africano, entre 1904-1908 – que resultou no primeiro genocídio do século 20, com 80 mil mortos.

A Alemanha negocia com a Namíbia um pedido formal de desculpas. Representantes dos hereros e namas exigem compensações financeiras e recentemente consideraram inaceitável uma alegada proposta de 10 milhões de euros do governo alemão.

O representante especial do governo alemão para o diálogo com a Namíbia, Ruprecht Polenz, disse que a Alemanha quer assumir sua responsabilidade política e moral pelos crimes cometidos entre 1904 e 1908, mas que não se trata de uma questão legal.

"Isso foi confirmado várias vezes por tribunais aos quais os representantes dos hereros e namas recorreram. É uma questão político-moral, e por isso usamos termos que expressam isso e não termos que, num sentido estrito, sejam termos legais. A Alemanha quer pedir desculpas o quanto antes por esses crimes", salientou Polenz.