Braun: filosofia do minimalismo
27 de setembro de 2004Tudo começou em 1921 com uma pequena manufatura fundada por Max Braun em Frankfurt. No início, a Braun produzia apenas peças de rádio, mas logo começou a fabricar também os aparelhos. Depois da Segunda Guerra Mundial, a empresa aumentou a sua linha de produtos com o lançamento de batedeiras e barbeadores elétricos.
Nesta época, o design dos produtos não era significativamente diferente do de outras empresas. Depois da morte do fundador, seus dois filhos, Arthur e Erwin Braun, assumiram a gerência da empresa. Embora tenham continuado o trabalho do pai, seguiram um novo caminho revolucionário, que se manifestou visivelmente através do design dos produtos e das estratégias de marketing da Braun.
Uma palestra deu o impulso
Foi uma palestra do designer Wilhelm Wagenfeld (1900-1990), professor da Bauhaus e modelista industrial, que deu um impulso notável a esta nova orientação.
"Para ser melhor que os outros, o produto precisa de um fabricante inteligente, que pense sobre os objetivos do produto, sua utilidade e durabilidade. A busca pela forma adequada pode causar problemas, que têm de ser resolvidos através da pesquisa científica. Como a dos laboratórios de química e física. Quanto mais simples um produto industrial, maior o trabalho necessário para sua realização", disse Wagenfeld em 1954.
Ainda no mesmo ano, a Braun entrou em contato com a recém-fundada Escola de Ulm. A Escola Superior Técnica da Forma, considerada a Bauhaus do pós-guerra, desenvolveu vários projetos em parceria com a indústria, alguns de grande porte como a Braun. Hans Gugelot, arquiteto, designer e professor da escola, foi encarregado do design dos rádios e toca-discos. Otl Aicher, também da escola, realizou as novas instalações para a exposição dos produtos e reformulou a assessoria de imprensa da empresa.
A revolução
Menos de um ano depois, em 1955, a nova série de produtos estava desenvolvida e foi apresentada na Exposição Internacional de Radiodifusão em Düsseldorf. O radicalismo do novo estilo chamou muita atenção: tudo o que fosse desnecessário ao funcionamento do produto estava eliminado. Linhas simples, durabilidade, equilíbrio e unificação eram as exigências fundamentais. Assim, o design de todos os produtos era semelhante, em geral com acabamento em preto ou branco, com o logotipo bem visível.
Como diretor do departamento de design a partir de 1961, foi o arquiteto e designer Dieter Rams quem mais influenciou a aparência dos eletrodomésticos da Braun, fazendo com que ficassem conhecidos no mundo todo. Para Rams, o produto tem de ser inovador, estético, prático, duradouro, facilmente manuseável e ecologicamente correto. O segredo de Rams, que saiu da Braun em 1997, eram os traços simples e a preocupação em fazer um produto que dispensa o uso de manuais.
Em 1967, a norte-americana Gillette tornou-se acionista majoritária da Braun. Embora ela tenha influenciado muito o caminho da empresa nos anos seguintes, nunca questionou o design dos produtos, nem o objetivo da Braun de ser um dos grandes produtores mundiais de eletrodomésticos.
A Braun hoje
Hoje em dia, os principais produtos da empresa alemã são barbeadores e escovas de dente elétricas, uma série de produtos para a beleza do cabelo, máquinas para a cozinha e relógios. Nestas áreas, a Braun é uma das principais produtoras no mundo e em muitos países detém a liderança total do mercado. Outros segmentos, como câmeras fotográficas, filmadoras e aparelhos de som, em que esta liderança seria impossível, foram fechados.
Além de três fábricas na Alemanha, existem centros de produção na Irlanda, França, Espanha, México, China e nos Estados Unidos. A Braun emprega mais de nove mil funcionários no mundo todo, que produzem cerca de 250 mil aparelhos por dia. A fábrica no México desempenha um papel importante no abastecimento do mercado brasileiro e também de outros países da América Latina.
Inovações e a qualidade dos produtos continuam sendo os princípios da empresa. Embora o design ainda seja considerado um fator importante, nos últimos anos a rigorosa filosofia minimalista muitas vezes foi abandonada. As concessões para o mercado em relação ao design fazem parte da estratégia da "nova" Braun.