Brasileiros predominam entre os melhores jogadores na Alemanha
22 de janeiro de 2002O futebol alemão está mesmo se rendendo às qualidades dos craques brasileiros. Ao escolher os melhores jogadores de cada posição na primeira metade da atual temporada alemã e européia, a revista esportiva Kicker não se conteve e elegeu quatro representantes do futebol tetracampeão mundial para as sete vagas em discussão. Dois alemães e um francês ocuparam as demais.
Lúcio foi eleito o melhor zagueiro; Zé Roberto, o melhor ala ofensivo; Lincoln, o melhor armador; e Élber, o melhor atacante. Incontestável, o alemão Kahn manteve-se como o melhor goleiro (única posição na qual não há nenhum brasileiro na primeira divisão alemã) e seu conterrâneo Ballack foi escolhido o melhor meio-campista defensivo. O francês Lizarazu foi eleito o melhor ala defensivo.
A seleção mostra também o predomínio dos clubes Bayern de Munique e Bayer Leverkusen, cada um representado por três jogadores na lista. Lúcio, Zé Roberto e Ballack são do Leverkusen, enquanto Élber, Kahn e Lizarazu jogam no Bayern. Lincoln atua no Kaiserslautern. O Borussia Dortmund, que investiu pesado nos últimos 12 meses, fechando as transferências mais caras da história do futebol alemão (Amoroso e Rosicky), não viu nenhuma de suas estrelas eleitas pelo júri de aproximadamente 40 jornalistas que acompanham a Bundesliga para a Kicker, a mais conceituada publicação de futebol da Alemanha.
Melhores zagueiros
– Redator do semanário, Harald Kaiser não se surpreende com o predomínio dos brasileiros. Para o jornalista alemão, o futebol tupiniquim ampliou seus domínios para além das posições de ataque, que exigem habilidade e criatividade. O Brasil oferece cada vez melhores zagueiros, como provam Lúcio e Marcelo Bordon (Stuttgart)."Os brasileiros melhoraram muitíssimo nas disputas de bola e estão mais disciplinados. No caso dos zagueiros, obedecer às instruções dos técnicos é fundamental para o sucesso de seus esquemas táticos", avaliou Kaiser para a Deutsche Welle.
Mercado mais atraente
– A mudança de imagem do mercado de trabalho alemão junto aos profissionais brasileiros também teria contribuído. A Alemanha não seria mais vista como trampolim para a Espanha ou Itália, nem como bom lugar para encerrar a carreira. "Os grandes clubes alemães – como Bayern de Munique e Borussia Dortmund – podem pagar tanto quanto os italianos e espanhóis", afirma o redator."Os brasileiros chegam cada vez mais jovens. Lúcio e Marcelo Bordon vieram com pouco mais de 20 anos e estão atingindo o auge de suas carreiras na Bundesliga. Se tivessem vindo mais cedo, Júlio César (Borussia Dortmund e Werder Bremen) e Dunga (Stuttgart) talvez tivessem brilhado tanto quanto eles aqui", acrescenta.
Decadência alemã
– Mas não é só a evolução dos brasileiros que faz seu brilho predominar na constelação do futebol alemão. A prata da casa reluz cada vez menos, por falta de condições para a revelação de novos talentos."Os brasileiros sempre estiveram muito à frente no quesito técnica. Eles crescem jogando bola na rua e na praia. Na Alemanha, os meninos têm cada vez menos onde brincar, jogar bola. E os clubes, por economia egoísta, trazem sempre mais jogadores do exterior, mesmo de qualidade duvidosa, apenas porque estes aceitam salários menores", observa Kaiser.
Em busca da solução
– O jornalista alemão considera que os responsáveis pelo futuro do futebol do país despertaram para o problema da renovação, após os últimos fiascos internacionais. Nas copas do mundo dos EUA (1994) e da França (1998), a Alemanha caiu nas quartas-de-final. "Muito pouco para um tricampeão", sentencia Kaiser. Na Eurocopa 2000 (na Holanda e Bélgica), o selecionado nacional nem passou da primeira fase. "Foi o fundo do poço", ressalta o redator da Kicker.Kaiser defende uma restrição à presença de estrangeiros nos times alemães como medida para facilitar o surgimento de novos talentos. "Esta é minha opinião pessoal, mas também a recente enquete que fizemos com os jogadores da Bundesliga apontou neste sentido. Até os estrangeiros concordam", diz o jornalista.
O futebol alemão é talvez o mais aberto a estrangeiros em toda a Europa. Enquanto na maioria dos países do continente a quota de estrangeiros refere-se àqueles de fora da União Européia, na Alemanha, o parâmetro são os filiados à Uefa, cujo espectro é bem mais amplo que a UE, incluindo até mesmo Israel.