Dilma Rousseff
31 de outubro de 2010A candidata do PT, Dilma Rousseff, foi eleita neste domingo (31/10) a primeira mulher presidente do Brasil. Com 99% das seções eleitorais apuradas, Dilma obteve 55,96% dos votos válidos, contra 44,04% do candidato José Serra, do PSDB. Foi a primeira vez que a petista disputou uma eleição.
A filha de um imigrante búlgaro e ex-combatente da ditadura militar dos anos 1970 assumirá a Presidência da República em 2011, num mandato de quatro anos. Ela deverá dar continuidade à política de crescimento econômico que, segundo diversas previsões, deve transformar o Brasil na quinta maior economia do planeta nos próximos anos, bem como às políticas sociais que tiraram milhões de brasileiros da miséria.
"Dilma foi claramente eleita como candidata da continuidade, ou seja, ela foi escolhida e assumiu o papel de dar continuidade à atual política governamental", afirmou à Deutsche Welle o analista Thomas Fatheuer, ex-diretor da Fundação Heinrich Böll no Rio de Janeiro.
Segundo um recente estudo da Fundação Getulio Vargas, mais de 20 milhões de pessoas saíram da situação de pobreza desde 2003. Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), a ascensão social de muitos brasileiros pesou na hora de votar.
"Em grande parte [esse eleitores] votaram na Dilma porque acham que o governo Lula foi um sucesso. Esse é um motivo. Outra razão é manter o status quo socioeconômico alcançado. Mais de 20 milhões de pessoas deixaram a pobreza. Essas pessoas querem manter o novo status que alcançaram", declarou à Deutsche Welle.
Brasileiros sabem pouco sobre Dilma
A nova presidente é pouco conhecida dos brasileiros. Sabe-se que ela integrou organizações de combate à ditadura como a Colina e a VAR-Palmares no final dos anos 60 e início dos anos 70, até ser presa e suportar, por mais de 20 dias, a tortura física. Quando deixou a prisão, no final de 1972, abandonou a luta armada.
Sabe-se também que ela enfrentou um câncer linfático em 2009, quando já era apontada como candidata do PT à Presidência. Dilma chegou ao partido em 2001, quando era secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. O mesmo cargo ela ocupou no governo Lula a partir de 2002. Com o escândalo do Mensalão, em 2005, e a consequente queda do então chefe da Casa Civil José Dirceu, Dilma passou a ocupar a pasta e logo se tornou a pessoa de confiança de Lula.
Como Dilma é uma petista recente, há dúvidas sobre a relação que ela terá com o PT, um partido de forte estrutura interna, durante o próximo governo, como destaca Fleischer. "Dilma não terá a mesma força de Lula para impor suas ideias ao PT. Lula sempre foi maior do que o PT, e tem gente achando que o PT terá mais influência no governo Dilma do que no governo Lula."
Infraestrutura é desafio urgente
Dilma terá vários desafios pela frente. Apesar dos avanços na área social, ainda há muitos brasileiros vivendo na pobreza. O sistema público de saúde continua sendo precário, e as melhorias na qualidade da educação básica avançam a passos lentos.
Outro desafio urgente é a infraestrutura deficitária, principalmente de estradas, portos e aeroportos. "O Brasil quer receber a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016 e isso vai demandar rápidas e grandes mudanças na área de infraestrutura", lembra Fleischer.
Falta de carisma
Ao contrário de Lula, Dilma não é dona de uma personalidade carismática, e é frequentemente apontada como durona e incisiva. Isso pode influenciar a imagem que os brasileiros terão da presidente passados os primeiros meses de governo e, como opina Fatheuer, também a imagem do Brasil no exterior.
"Lula não é só um político, ele é uma espécie de superstar da política. Ele tem um apelo mundial e torna o Brasil conhecido no mundo. Esse não será um ponto forte de Dilma", diz o analista.
Incerto permanece o futuro de Lula. No Brasil especula-se que ele poderia ter interesse em assumir uma organização mundial, como a FAO. Há também quem diga que ele poderia criar uma ONG internacional para combater a fome. Existe ainda a possibilidade de que ele volte a disputar a Presidência em 2014, já que estava impedido de concorrer desta vez. Certo, porém, é que da cena política brasileira ela não irá desaparecer.
Autor: Alexandre Schossler
Revisão: Roselaine Wandscheer