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Brasileira recebe prêmio cultural da Igreja Católica alemã

22 de julho de 2021

Dançarina Lia Rodrigues, da Companhia de Danças, formada por moradores de favelas do Rio de Janeiro, receberá distinção por "realizações extraordinárias na interseção da cultura e da religião".

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Lia Rodrigues
Em suas peças, Lia aborda "a luta pela dignidade humana e pelos direitos humanos"Foto: Lia Rodrigues/Companhia de Danças

A dançarina e assistente social brasileira Lia Rodrigues receberá o Prêmio Arte e Cultura 2021 na categoria dança, concedido pela Conferência dos Bispos Alemães e pelo Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK). Esta é a primeira vez que o prêmio é conferido nesta categoria.

Segundo o júri, Lia se destacou por "realizações extraordinárias na interseção da cultura e da religião". Na cerimônia de premiação, em 28 de setembro próximo, o discurso de louvor será proferido pelo diretor-geral da Deutsche Welle, Peter Limbourg.

Ativista contra a discriminação

A artista e sua Companhia de Danças das favelas do Rio de Janeiro dançam com "raiva e ternura contra o totalitarismo e pela humanidade", anunciou na quarta-feira (21/07) em Bonn a Conferência dos Bispos Alemães. A premiada se vê como uma "dissidente artística e ativista contra a discriminação cotidiana no Brasil".

O prêmio dotado de 25 mil euros é a mais alta premiação da Igreja Católica no setor cultural. Ele vem sendo concedido a cada dois ou quatro anos, de forma alternada, desde 1990.   

Vista da Favela Maré, no Rio de Janeiro
Lia é uma das iniciadoras do Centro de Artes, que fica na favela da MaréFoto: Getty Images/AFP/V. Almeida

Rodrigues fundou a companhia de dança inicialmente para dançarinos formados em academias, mas em 2004 a abriu para dançarinos talentosos das favelas. Ela iniciou o Centro de Artes da Maré e a Escola Livre de Dança, onde todos os dançarinos treinam e ensaiam juntos.   

A pandemia de covid-19 atingiu especialmente as favelas brasileiras e também a companhia de dança de Rodrigues. "O dinheiro do prêmio pode ajudar a compensar várias apresentações internacionais canceladas e a preparar novas produções para o pós-epidemia", disse Lia Rodrigues.   

O júri, presidido pela estudiosa de dança e teatro Gabriele Brandstetter, elogiou Rodrigues por combinar "uma magnífica obra de dança artística com um compromisso humanitário decorrente de uma profunda crença no poder transformador da dança".

Dança é educação, diz Lia

Em suas peças, ela aborda "a luta pela dignidade humana e pelos direitos humanos em cenas poderosas e sensoriais do imaginário barroco". As peças de dança "surgem da comunidade com os mais pobres, com os excluídos pelo racismo e pela discriminação". Ela entende a dança como uma forma básica de educação humana "que é para todos". 

Lia nasceu em 1956 em São Paulo, onde estudou balé clássico, e cursou história na USP. Em 1977, foi uma das fundadoras do grupo independente de dança contemporânea Andança. Entre 1980 e 1982, participou da Compagnie Maguy Marin, na França. De volta ao Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fundou a Companhia de Danças em 1990.

rw/as (kna, ots)