Brasil usa inteligência militar para acabar com indústria do desmatamento
17 de outubro de 2012A indústria do desmatamento da Amazônia no Brasil se aprimorou e vai muito além do corte de árvores. Criminosos utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas, que envolvem ataques virtuais a websites oficiais, operações fraudulentas e esquema de pagamento de propinas. "Estamos falando do crime organizado", resumiu Regina Miki, chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública.
É esse o inimigo do Estado que a Força Nacional de Segurança Ambiental combate desde o início de outubro na floresta amazônica. A nova frente criada pelo governo para conter o desmatamento ilegal conta com oficiais das Forças Armadas, da Força Nacional e da Polícia Federal e tem à disposição 18 mil homens e mulheres que podem ser convocados a qualquer momento.
"Por determinação da presidente Dilma Rousseff, nós temos que ter o menor índice de desmatamento [já registrado] até o fim de 2014. Então teremos uma ação contínua, presença massiva e não permitiremos de forma alguma o desmatamento daqui pra frente", explica Miki, questionada pela DW Brasil.
O reforço policial acompanhará fiscalizações do Ibama e tem autorização para apreender, destruir e identificar os verdadeiros proprietários de materiais que se destinem ao desmatamento – como caminhões, motosserras e outros tipos de máquinas. Regina Miki não revela detalhes sobre gastos ou efetivo. "As pessoas que estão do outro lado, os desmatadores e os criminosos, conseguiriam antever qualquer estratégia de inteligência", justifica.
Arma contra o crime organizado
O relatório Green Carbon: Black Trade, lançado em setembro em parceria entre Interpol e ONU, mostrou que o crime organizado é responsável por até 90% da extração ilegal de madeira em florestas tropicais. Os carteis atuam em países como Indonésia, República Democrática do Congo, Malásia, e Papua Nova-Guiné e mantêm atividades ilegais com mais intensidade na Amazônia. Trata-se de um negócio que movimenta até 100 bilhões de dólares por ano – aproximadamente 203 bilhões de reais.
"Não podemos ter a expectativa de promover um desenvolvimento sustentável a menos que esses carteis sejam combatidos", comentou Christian Nellemann, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em entrevista à DW Brasil. "E com o aumento do crime organizado, esse tipo de órgão [como a Força Nacional de Segurança Ambiental] será ainda mais importante."
Segundo a chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública, os criminosos têm migrado de outras atividades para o desmatamento. "Por ser mais rentável e, às vezes, menos perigoso... E eles também trabalham com inteligência. Nosso papel será asfixiar essas organizações, cortando seu fluxo financeiro", revelou.
Joint-venture criminosa
No Brasil, essa indústria ilegal milionária é formada por empresas internacionais que operam com parcerias locais. A missão da Força Nacional será desmantelar a ação de criminosos que atuam no território brasileiro. Investigar os figurões que estão no topo dessa cadeia e à frente de empresas multinacionais é tarefa da Interpol. "Esperamos usar a experiência brasileira para nos ajudar", contou Davyth Stewart, da Interpol, em entrevista à DW Brasil.
Segundo o investigador, a iniciativa brasileira é uma "ideia nova" – de reunir vários órgãos federais de segurança para conter crimes ambientais. Identificar a rede ilegal de desmatadores exige um esforço coletivo: fiscalização federal mais rígida do rendimento de empresas, controle de fronteiras e de mercadorias e modernização das leis.
Historicamente, o crime ambiental não é tratado com seriedade pelos governos – dificilmente, quem comete um delito é preso ou julgado com rigor. "Isso acontece porque o crime florestal é visto como um crime sem vítimas, em que ninguém é 'ferido'. Mas aos poucos as autoridades notam que o desmatamento ilegal tem várias vítimas", analisa Stewart.
Além de ameaçar a sobrevivência dos indígenas e das populações que dependem da floresta, o corte ilegal da mata provoca danos ambientais muitas vezes irreversíveis e desregula o clima. "Somos todos vítimas, coletivamente", conclui o investigador da Interpol.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França