Brasil surge como opção no mercado de turismo médico
19 de novembro de 2014A cada ano, dezenas de milhares de turistas estrangeiros desembarcam no Brasil para realizar tratamento ou procedimento médico, atraídos pela combinação baixo custo e excelência em determinadas especialidades, como cirurgias plásticas. Com preços entre 20% e 30% mais em conta que nos Estados Unidos, o Brasil entrou no mapa do turismo médico mundial. Estima-se que o setor movimente mais de 3 bilhões de reais por ano no país.
Segundo a organização Patients Beyond Borders (PBB), o Brasil recebeu 180 mil turistas em 2013 em busca da realização de procedimentos de baixa, média e alta complexidade. De acordo com a organização, no ano passado 11 milhões de turistas viajaram pelo mundo com esta finalidade, num segmento que fatura cerca de 55 bilhões de dólares por ano.
"O Brasil se destaca por conquistar um espaço de bastante credibilidade na medicina mundial", diz Mariana Palha, fundadora do BrazilHealth, uma plataforma que trabalha para reunir prestadores de serviços de saúde em todo o país. "Entre os diferenciais do Brasil estão a qualidade, tecnologia, custos competitivos em algumas áreas, especialidades técnicas e centenas de hospitais que possuem acreditações internacionais."
Entre os procedimentos mais procurados por esses turistas – que gastam em média entre 3,5 mil e 5 mil dólares por visita – estão cirurgias plásticas, cardiológicas, oftalmológicas e de redução do estômago. Além disso, também há demanda por tratamentos nas áreas de oncologia, cardiologia e de reprodução assistida; check-ups e tratamentos variados.
A economia no médico geralmente compensa o custo da viagem. Enquanto uma operação de colocação de prótese de seios no Brasil custa em torno de nove mil reais, por exemplo, o procedimento de mesmo nível custa 30% mais caro nos EUA. A maioria dos pacientes-turistas no Brasil vem de países da América Latina, EUA, Angola e também da Europa, principalmente Alemanha, Itália, França, Portugal, Holanda e Inglaterra. Além do menor custo, os turistas-pacientes buscam evitar longas filas em seus países de origem.
Concorrência acirrada
Mas a competição entre as nações que oferecem serviços neste segmento é muito grande. Mesmo que o Brasil seja atrativo, outros países oferecerem preços ainda melhores que os brasileiros, tomando-se por base os valores cobrados nos Estados Unidos: Costa Rica (45%-65%), Índia (65%-90%); Malásia (65%-80%); México (40%-65%); Cingapura (25%-40%); Tailândia (50%-75%); e Turquia (50%-65%).
De acordo com dados da PBB, o turismo médico no mundo cresce a uma taxa anual de 15% a 25%, e um dos maiores destaques é a Tailândia. O país asiático recebe todos os anos cerca de 1,5 milhão de pacientes. Na capital, Bangkok, foi criado um complexo hospitalar que atende mais de 1,1 milhão de pacientes por ano, incluindo mais de 520 mil estrangeiros. O Bumrungrad International Hospital, fundado em 1980, oferece mais de 580 leitos e mais de 30 centros especializados.
No Brasil, apesar da qualidade de profissionais de saúde e da boa reputação internacional, ainda existem barreiras ao crescimento do setor. Segundo um levantamento da consultoria Euromonitor International, publicado em agosto, o turismo médico-hospitalar não é prioridade dos órgãos nacionais de turismo brasileiro – diferente do que ocorre em países como Tailândia, Índia, Cingapura e Malásia, onde existe incentivo governamental para a entrada do turista médico-hospitalar.
"O nicho poderia ter evoluído muito mais, tanto na geração de políticas públicas quanto na iniciativa privada, para ocupar uma posição mais favorável no mercado internacional. A promoção do destino é vital para este segmento e, no Brasil, ele ainda não deslanchou", diz Júlia Lima, uma das fundadoras da Associação Brasileira de Turismo de Saúde (Abratus).
Além de barreiras impossíveis de transpor, como a distância do Brasil em relação aos principais emissores (Europa e Estados Unidos), o Brasil ainda apresenta desvantagens como o alto custo de hotéis, transporte e alimentação; a falta de profissionais de saúde que falem uma segunda língua; e também a falta de uma legislação que favoreça o setor.
"Assim, perdemos pacientes para países mais próximos dos EUA, como México e Costa Rica", diz Palha. "Além disso, algumas nacionalidades [como EUA e Canadá] necessitam de visto para entrar no Brasil, por conta da política de reciprocidade usada pelo país."