Brasil quer desenvolver sistema de alerta contra inundações
29 de junho de 2013A criação do Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais promete marcar uma nova fase na prevenção de enchentes no Brasil. Entre as principais estratégias de prevenção do plano, lançado ano passado, está a instalação de três mil pluviômetros até 2014 e novas estações meteorológicas.
Segundo as Nações Unidas (ONU), o Brasil está entre os países que mais sofrem com catástrofes climáticas. Há muito por fazer para melhorar a infraestrutura do país contra enchentes. Uma das principais especialistas em desastres no mundo, a consultora da ONU e diretora do Centro para a Pesquisa da Epidemiologia de Desastres, Debarati Guha-Sapir, acredita que é preciso fortalecer as ações de educação.
"Eu penso que os principais problemas do Brasil no futuro serão as inundações. E o país precisará ter políticas específicas", disse Guha-Sapir em entrevista à DW Brasil.
Na avaliação da especialista, o Brasil não é um país pobre e tem muitos recursos humanos – especialmente engenheiros e médicos. Ela acredita que é necessário estabelecer uma prioridade para o tema. A catástrofe em Nova Friburgo, em 2011, foi a maior em número de vítimas no país, com mais de mil mortos.
Dificuldade de previsão
"O que falta no Brasil, e que tentamos desenvolver, é um sistema de alerta para inundações bruscas, que podem acontecer em questão de horas, ou enxurradas", observa o coordenador geral do Centro Nacional de Pesquisa em Desenvolvimento (Cemaden), Marcelo Seluchi.
Elas são muito difíceis de serem previstas e antecipadas, porque são provocadas por chuvas muito pontuais, rápidas e abundantes. Por isso, precisam de um sistema de radares muito bem calibrado para detectar, explica o especialista. Criado em 2011, o Cemaden é vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e tem como tarefa alertar para fenômenos naturais com potencial de causar mortes.
"O Brasil conseguiu, pelo menos nesse um ano e meio em que o Cemaden está funcionando, ter um sistema com pessoas trabalhando 24 horas por dia, os 365 dias do ano, uma equipe multidisciplinar olhando para a possibilidade de enchentes", diz Seluchi.
Região centro-sul do país é a mais crítica
Regiões com montanhas, especialmente a área centro-sul do país, incluindo Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina, são as mais propícias a inundações, de acordo com o Cemaden.
"Estamos trabalhando agora em áreas mais vulneráveis e críticas, com maior população e que, pela geografia, apresentariam maior potencial de ter esse tipo de fenômeno", explica Seluchi.
A quantidade de pessoas em áreas de risco é um dos principais problemas. O crescimento desordenado da população levou à ocupação de bacias. Por isso, o combate a enxurradas e deslizamentos será prioridade para a Defesa Civil nos próximos anos, diz o diretor da Secretaria Nacional da Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, Rafael Schadeck.
"São 170 municípios que vão receber benefícios para reduzir e eliminar o problema de inundações nas áreas mais críticas do país", comenta.
Para o geólogo Marcelo Motta, professor da PUC-Rio, faltam medidas preventivas e sociais, além de planejamento urbano. "Há uma política pública defasada, incapaz de prover habitação para toda a população, que precisa construir as próprias casas, pavimentar as próprias ruas, fazer gato para ter energia. Essa é a realidade das cidades brasileiras", observa.
A experiência de Santa Catarina
Santa Catarina é um dos estados brasileiros que mais sofrem com desastres. Em 2008, depois de um período de três meses de fortes chuvas, o estado contabilizou mais de 135 mortes e 5 mil desabrigados. O município de Blumenau foi um dos mais afetados.
O Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que trabalha na redução de riscos de desastres, apoiou os municípios atingidos no desastre de 2008 através da avaliação das áreas habitadas com risco de deslizamento.
"Só não temos vulcões. Do restante, temos quase todos os outros impactos e fenômenos naturais recorrentes: chuvas, vendavais, granizo. As cheias são as que mais geram impacto, são cíclicas", pontua o presidente do Ceped, Antônio Edésio Jungles.