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Brasil e Japão realizam expedição inédita no fundo do Atlântico Sul

Janara Nicoletti20 de julho de 2013

Pela primeira vez, cientistas mergulharam a 4.200 metros de profundidade para conhecer in loco a biodiversidade marinha e geológica do leito do oceano.

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Expedição mapeou biodiversidade biológica e marinha do Atântico Sul
Expedição mapeou biodiversidade biológica e marinha do Atântico SulFoto: Jamstec

Cientistas brasileiros e japoneses participam de uma expedição inédita no Atlântico Sul. Pela primeira vez, uma equipe de pesquisadores desceu a 4.200 metros até o leito do oceano, a bordo de um submersível tripulado. A expedição foi coordenada pela Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec, na sigla em inglês), em parceria com o Instituto Oceanográfico de São Paulo, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e outras instituições de pesquisa.

A expedição Iata-Piuna – "Navegando em Águas Profundas e Escuras", em Tupi-guarani –, coletou amostras e mapeou duas áreas da costa brasileira, a Dorsal de São Paulo e o Platô de São Paulo, e também uma região conhecida como Elevação do Rio Grande, que fica em águas internacionais. "O Atlântico Sul está localizado em uma área de junção entre o Atlântico Norte, o Índico e o Antártico. Esta área pode ser a chave para entender a conectividade entre os ecossistemas destes três oceanos profundos", ressalta o coordenador científico da expedição, Hiroshi Kitazato.

Entre abril e maio deste ano, o grupo de pesquisadores foi dividido em duas equipes. A primeira saiu da Cidade do Cabo, na África, e passou cerca de 25 dias no mar. Parte deste período foi no Elevado do Rio Grande e na Dorsal de São Paulo, onde fica o ponto mais profundo do Atlântico Sul. A segunda equipe passou cerca de duas semanas na área continental brasileira entre Rio de Janeiro e Santos.

Para os cientistas, esta expedição se destacou por levar pesquisadores a bordo de um submersível tripulado até o leito do oceano. Duranto o período em que passaram na Dorsal de São Paulo, os pesquisadores constataram baixa diversidade biológica devido ao frio.

"Principalmente pelas baixas temperaturas por causa da corrente que vem da Antártida, [a Dorsal de São Paulo] tem uma baixíssima diversidade", explica José Angel Perez, coordenador da equipe brasileira na primeira etapa da pesquisa. "Já na derivação do Rio Grande vimos o contrário, é quase um oásis na planície abissal."

Elevação do Rio Grande

Submersível japonês permitiu atingir o leito do oceano Atlântico Sul
Submersível japonês permitiu atingir o leito do oceano Atlântico SulFoto: Jamstec

Conhecida como uma área rica em diversidade geológica e marinha, a Elevação do Rio Grande é a região com maior elevação do Atlântico Sul, onde o leito ainda é pouco explorado. A montanha em alto-mar tem cerca de 3 mil metros de altura e se eleva até uma profundidade de cerca de 800 metros, conforme o CPRM.

Desde 2010, o Serviço Geológico do Brasil estuda esta área. "Como o próprio nome deixa claro, essa região do Atlântico Sul é elevada em relação a outras áreas do oceano. Enquanto a profundidade dela é de 800 metros, nas regiões oceânicas adjacentes, a profundidade média é de 4 mil metros", explica Roberto Ventura, diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM.

Segundo os pesquisadores, a origem desta estrutura ainda não foi totalmente esclarecida. Alguns estudos concluem que ela foi formada por rochas vulcânicas. Outros analisam a presença de fragmentos da crosta continental nessa região. A hipótese levantada é de que ela tenha se descolocado há cerca de 180 milhões de anos, durante o processo de separação entre a América do Sul e a África.

"A equipe recuperou, por meio de dragagem, as primeiras amostras de rocha granítica, reforçando assim a possibilidade da presença de rochas continentais naquela região. Foi a partir dessa observação que sugerimos o nome Atlantis para esse continente submerso", complementa Ventura.

Influência na distribuição da vida marinha

Diversas espécies de animais marinhos foram fotografadas
Diversas espécies de animais marinhos foram fotografadasFoto: Jamstec

André Lima é um dos coordenadores brasileiros do grupo que analisa os microorganismos coletados. Em 2013, ele fez a quarta viagem até o local, a primeira em submarino tripulado. Segundo o pesquisador, esta área pode ter importante influência sobre a distribuição da diversidade marinha. "A gente está começando a observar uma diversidade não esperada também na superfície. É um pouco mais rico ali, mas os dados ainda estão sendo analisados para deixar claro como isso ocorre", destaca.

Perez reforça esta tese e explica que a Elevação do Rio Grande serve como uma barreira natural, fazendo com que as correntes marítimas, responsáveis por transportar nutrientes, mudem de direção e passem por cima da área montanhosa. "Isso é positivo para a sustentação dos organismos de mar profundo especializados em retirar alimento da coluna da água."

No total, foram recolhidas mais de 800 espécies de invertebrados, algumas das quais totalmente desconhecidas. Também foram coletados outros organismos, além amostras de sedimentos, rochas e água. Todo este material agora passará por uma longa análise em diversos centros de pesquisa do Brasil e do Japão.