Brasil avança para comprar artilharia antiaérea da Rússia
20 de fevereiro de 2013O governo brasileiro assinou nesta quarta-feira (20/02) um acordo com a Rússia para aprofundar as negociações sobre a compra de artilharia antiaérea, setor tido como deficiente no sistema de defesa nacional. O pacto foi selado durante a visita a Brasília do primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, onde foi recebido pela presidente Dilma Rousseff e pelo vice Michel Temer.
O acordo foi definido como uma declaração de intenções, o que, na linguagem diplomática, significa a abertura oficial de negociações. As conversas bilaterais sobre o tema já eram noticiadas há anos pela imprensa, mas sempre foram tratadas com sigilo pelo governo brasileiro.
Como no caso de outras aquisições militares anteriores, a condição foi a transferência de tecnologia para o Brasil. As negociações para concretizar a compra estão marcadas para começar em março.
"[O objetivo é] incrementar, a partir de março, as negociações bilaterais com vistas à possibilidade de preparação de contrato para futuras obtenções, por parte do governo do Brasil, de baterias antiaéreas, com o desenvolvimento conjunto de novos produtos de defesa e a participação de empresas estratégicas de defesa brasileiras nos processos produtivos", diz o texto assinado pelo Brasil e a Rússia.
Lacuna na proteção antiaérea
O acordo não especifica que armas serão negociadas. Mas a expectativa é que o Brasil compre dos russos baterias antiaéreas de alta tecnologia Pantsir S1, que lança mísseis terra-ar a até 15km de altitude. A ausência de mísseis de médio alcance é considerada uma lacuna nas Forças Armadas brasileiras – entre outros motivos por ser uma exigência da Fifa para a realização da Copa do Mundo. "É conhecida a carência brasileira na área de proteção antiaérea", declarou uma fonte do Itamaraty à agência de notícias Reuters.
Todos os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) possuem capacidade de defesa área de médio alcance. Na América Latina, o Brasil seria o primeiro. A declaração assinada em Brasília fala em "aprofundar os laços de amizade e cooperação bilateral, inscrevendo o segmento de defesa antiaérea como uma área de prioridade de investimentos e desenvolvimentos conjuntos" entre Brasil e Rússia.
O país conta atualmente com cinco blocos de artilharia antiaérea, posicionados no Rio de Janeiro, Praia Grande (SP), Caxias do Sul (RS), Sete Lagoas (MG) e Brasília. Eles possuem mísseis Igla-S, de alcance máximo de apenas 3 km.
Carne segue embargada
A visita de Medvedev é parte da chamada Reunião de Alto Nível de Cooperação Brasil-Rússia, que está em sua sexta edição. Ela se realiza dois meses após Dilma ter ido a Moscou, onde se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, e assinou acordos para a compra de helicópteros russos.
O tema agricultura também ocupou parte da visita de Medvedev. Ainda não foi levantado o embargo russo às importações de carne de três estados brasileiros (Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso), o qual já dura mais de um ano e meio. Os dois países apenas se comprometeram a intensificar as conversas sobre o assunto.
Ambos definiram, por outro lado, os critérios fitossanitários para garantir a liberação da venda do trigo russo no mercado brasileiro. A ideia brasileira é que, com a entrada do produto russo, seja possível minimizar o risco de desabastecimento no mercado interno, na eventualidade da quebra de safra.
As autoridades reunidas também discutiram a possibilidade de fornecimento de farelo de soja brasileiro para a Rússia, e determinaram a realização de negociações visando "a pronta assinatura do protocolo" para exportação do produto à Rússia.
Depois da visita ao Brasil, Medvedev seguirá para Cuba, onde se reunirá com o presidente Raúl Castro. Segundo Moscou, o objetivo da visita é fomentar as trocas comerciais bilaterais. O chefe de governo deixará a ilha caribenha na sexta-feira.
RPR/dpa/rtr
Revisão: Augusto Valente