Brancos ainda detêm maioria das terras na Namíbia
9 de abril de 2004País pobre, de regiões áridas e pouca precipitação pluvial, a Namíbia vive da agricultura, pesca, mineração e turismo. A minoria alemã continua representando papel importante no país. Em 2002, mais de 60 mil alemães visitaram a Namíbia.
O centro de sua capital, Windhoek, tem semelhanças com cidades alemãs, seja pelas arquitetura, seja pelos nomes alemães das firmas ou mesmo os letreiros em que o termo alemão Bäckerei aparece ao lado da designação local para padaria.
No café Schneider pode-se comer uma torta de cereja Floresta Negra, a cerveja Windhock é fabricada pelo mesmo preceito de pureza que na Alemanha e há até um diário em alemão.
Apartheid ainda permanece na divisão de terras
Ainda há entre 5 mil e 6 mil fazendeiros brancos na Namíbia, que se dedicam principalmente à criação de gado. Eles ocupam 75% das terras cultiváveis do país. A maioria negra tem à sua disposição o que antigamente eram reservas e homelands do tempo do apartheid sul-africano. Hoje essas são terras comunitárias, pertencentes ao Estado.
Somente com a independência da Namíbia, em 1990, a maioria negra adquiriu o direito à livre escolha do local de domicílio e à propriedade particular. Mas o esquema da antiga divisão racial do país, estabelecida pela Comissão Odendaal da África do Sul em 1964, ainda permanece em vigor nessa divisão em fazendas comerciais e terras comunitárias. Uma comissão de reforma agrária estuda agora como mudar essa situação. A taxa oficial de desemprego é de 33,8%.
O governo alemão destinou 500 milhões de euros para ajuda ao desenvolvimento na Namíbia desde 1990. Dos habitantes do país, 1,5% fala alemão como língua materna. Entre os mais velhos ainda se encontram muitos africanos com nomes alemães como Gottfried, Gottlieb e Gertrud. Muitas palavras têm notória influência do alemão:
- omboroto (Brot) - pão
- okatase (Tasse) - xícara
- ohema (Hemd) - camisa
- okulesa (lesen) - ler
- otjihauto (auto) - carro
A influência alemã também se nota nos trajes que os hereros adotaram de seus colonizadores, já antes da guerra. O corte dos vestidos de festa ainda é o da era vitoriana, como usavam as mulheres dos missionários europeus. Os homens usam calças e trajes muito semelhantes aos soldados colonizadores.
Imitando os militares — uma curiosa tradição
Os sobreviventes da guerra colonial mantiveram as vestimentas e o costume de imitar as tropas alemãs. Os otorupas — palavra derivada de tropa (Truppe) — adotaram nomes alemães e as patentes do exército colonial. Com uniformes obtidos na guerra ou outros feitos no mesmo estilo, faziam exercícios militares como seus inimigos, usando até as mesmas ordens de comando em alemão.
Seus descendentes mantiveram a tradição e encenam até hoje essas manobras. Uma vez por ano, no Dia do Herero, todos os otorupas se reunem em Okahandja, no centro da Namíbia, para honrar a memória dos antepassados e visitar suas tumbas.
Muitos elementos dos otorupas parecem uma imitação dos símbolos do domínio colonialista. Mas na verdade eles já haviam sido integrados à cultura dos hereros no século 19, no marco das relações comerciais e da cristianização do país. Seu surgimento representa, ao mesmo tempo, uma apropriação dos símbolos coloniais e o seu questionamento.