Bolsonaro enfrenta protestos em cidade onde recebe homenagem
1 de novembro de 2021O presidente Jair Bolsonaro chegou nesta segunda-feira (01/11) a Anguillara Veneta, no norte da Itália, para receber o título de cidadania honorária do vilarejo, em meio a manifestações contra e a favor da honraria.
Houve registro de choques entre a polícia e manifestantes contrários a Bolsonaro. Agentes de segurança usaram cassetetes e canhões d´água contra os manifestantes.
Os protestos têm se repetido na cidade dos ancestrais do chefe de governo brasileiro desde o anúncio da proposta da homenagem, feita pela prefeitura local, chefiada por uma integrante do partido de extrema direita italiano Liga Norte.
Um bisavô de Bolsonaro, Vittorio Bolzonaro, era de Anguillara Veneta e imigrou para o Brasil. Atualmente, a localidade tem cerca de 4 mil moradores. A horaria ao chefe de governo foi aprovada na semana passada pela a câmara de vereadores local.
A solenidade, inicialmente marcada para ocorrer na prefeitura, foi transferida para uma residência do século 17 na periferia, onde Bolsonaro tem agendado almoço com cerca de 200 convidados, entre parentes distantes e vereadores do município.
A Diocese de Pádua, que engloba Anguillara Veneta, divulgou na sexta-feira nota afirmando que a concessão da homenagem ao presidente brasileiro é motivo de "grande constrangimento".
Militantes de esquerda
A chegada do presidente mobilizou tanto militantes de esquerda quanto organizações antifascistas, contrárias às suas políticas de extrema direita, como também um setor da comunidade brasileira residente na Itália.
Sob uma garoa persistente e no meio do nevoeiro, representantes de vários partidos de esquerda, assim como do sindicato CGIL e do grupo antifascista ANPI, manifestaram-se pacificamente na praça central, agitando bandeiras e cartazes.
"Que ele visite a cidade de onde vem sua família é justo, mas não que o apresentem como um exemplo ao conceder-lhe a cidadania honorária", lamentou Antonio Spada, vereador da oposição.
A prefeita de Anguillara Veneta, cidade na região de Veneto, mobilizou policiais e serviços de segurança para evitar confrontos.
"Fora Bolsonaro, fora Bolsonaro", dizia um enorme pôster, enquanto outro, escrito à mão, dizia "Anguillara ama o Brasil, mas não Bolsonaro".
Entre os manifestantes mais indignados estava o missionário italiano Massimo Ramundo, que viveu 20 anos no Brasil, 12 deles em Maranhão, estado com 34% de seu território ocupado pela Floresta Amazônia. "É uma vergonha. Estou furioso com a prefeita desta cidade. Ela não sabe o que o Bolsonaro fez e disse, ela não ouviu suas declarações de cunho racista, contra os indígenas, os vacinados, as mulheres. Além disso, quer que a Amazônia seja um negócio. Não respeita os valores do papa Francisco", lamentou o religioso.
Adeptos de Bolsonaro
Na manifestação, organizada na cidade para onde a família de Bolsonaro emigrou há mais de um século, também compareceram grupos de partidários do presidente, em sua maioria brasileiros que residem em várias regiões da península.
"Estou aqui para dizer que você não está sozinho", disse Silvana Kowalsky, uma elegante senhora de 50 anos que viajou de Vicenza, a cerca de 85 quilômetros de distância, para dar seu apoio.
Portando bandeiras brasileiras, os simpatizantes do presidente cantavam e gritavam "mito, mito", ao mesmo tempo em que gritavam expressões como "Lula ladrão", referindo-se ao ex-presidente Lula.
"Ele é um grande presidente e tem direito porque é de ascendência italiana. Tudo o que a CPI (da Pandemia) fala sobre ele é mentira", disse o brasileiro Claudio Resende, 65 anos, que mora na Itália há 17 anos.
Encontro com Salvini
Na terça-feira, Bolsonarovai se encontrar com o líder do partido Liga Norte, Matteo Salvini, na cidade de Pistoia, região central da Itália. Os dois vão participar de uma cerimônia em frente ao monumento erguido em memória dos quase 500 pracinhas brasileiros que morreram na Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, Salvini responde a uma ação judicial por ter impedido - na época em que ocupou o cargo de ministro do Interior - o desembarque de um navio com mais de 140 migrantes resgatados no mar Mediterrâneo por uma ONG.
Em agosto, subsecretário de Economia da Itália filiado à Liga, o partido de Salvini, renunciou após sugerir que um parque de sua cidade natal fosse renomeado em homenagem ao irmão do ditador fascista Benito Mussolini. A sugestão provocou uma onda de críticas.
Conhecido por suas posições xenófobas, Salvini já se referiu várias vezes a Jair Bolsonaro como "o meu amigo brasileiro". Ele também tem relações com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente brasileiro, e já participou de lives com o deputado brasileiro. Salvini também já defendeu publicamente a forma como Jair Bolsonaro lidou com a pandemia, que deixou até o momento mais de 600 mil mortos no Brasil.
md/jps (AFP, ots)