Tecnologia
29 de junho de 2010Joseph Blatter, presidente da Fifa, considerou nesta terça-feira (29/06) a utilização de recursos tecnológicos para auxiliar a arbitragem no futebol. As declarações se baseiam em erros que aconteceram nas oitavas de final da Copa do Mundo. A Inglaterra não teve um gol validado a seu favor num lance em que a bola claramente cruzou a linha. Já o México sofreu um gol da Argentina com o atacante Carlos Tévez impedido.
"Com as experiências que tivemos até o momento nesta Copa do Mundo, seria loucura não trazer de volta à tona o tópico da tecnologia em julho, em Cardiff", disse Blatter. Nos 21 e 22 de julho, o Conselho Internacional de Futebol (Ifab, na sigla em inglês), órgão competente da Fifa, fará na capital galesa uma de suas reuniões periódicas para rever as regras do esporte.
Em princípio, o presidente da Fifa acionava sempre seu assessor de imprensa e ele mesmo ficava mudo. Mas depois dos erros capitais da arbitragem e a consequente discussão, ele se viu obrigado a tomar uma posição publicamente.
Com isto, Blatter acalmou inicialmente os ânimos, mas nada aconteceu ainda – e o próprio Blatter também não mudou sua posição. É sabido que ele é contra a influência da tecnologia no futebol – e é apoiado nesta posição pela maioria dos dirigentes mais velhos e conservadores do futebol. O presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla em alemão), Theo Zwanziger, sustenta esta posição.
Uso de vídeos?
O debate não será tão amplo quanto muitos torcedores gostariam – uma pesquisa antes da Copa apontou que 70% deles são a favor do uso de tecnologia para auxiliar as decisões da arbitragem.
"O único princípio que vamos trazer de volta à discussão é a tecnologia da linha do gol", adiantou o dirigente. No passado, já chegou a ser testada uma bola equipada com um chip, que comunicaria ao árbitro se ela cruzou ou não a linha. Apesar dos bons resultados, o Ifab não aprovou seu uso.
A prova de vídeo é outra sugestão para diminuir os erros de arbitragem, mas ainda não agrada aos dirigentes do futebol. Em outros esportes como hóquei no gelo, futebol americano e esqui alpino, ela já funciona bem há tempos. Até mesmo o conservador Wimbledon aceitou o recurso, há muito adotado no tênis.
No entanto, os próprios especialistas não são unânimes quanto a se isto fornece o ângulo ideal para rever os lances. E há outro problema, que o próprio Blatter aponta. "Futebol é um jogo que nunca para. No momento em que houver discussão se uma bola entrou ou não, ou se haveria uma oportunidade de gol, damos a um time a possibilidade de chamar replays uma ou duas vezes, como se faz no tênis?", questionou o suíço.
O dirigente disse ainda que falou com as federações de México e Inglaterra e pediu desculpas pelos erros da arbitragem, mas ressaltou: "isto é a única coisa que eu posso fazer".
Soluções possíveis
Independentemente de Blatter, não se deve esperar uma solução rápida. A questão tecnológica já esteve várias vezes em pauta no também muito conservador conselho de regras, sem que algo tenha mudado de verdade.
O grande problema em questão é o fato de que a Fifa pleitear condições iguais para seus 200 membros. Dificilmente se poderia instalar uma solução técnica congruente, ainda que seja só para a divisão principal de cada país membro.
Por isto, a ideia que ganha mais força é o posicionamento de mais dois auxiliares, que ficariam atrás dos gols. Esta experiência já está sendo feita em jogos da Liga Europa, da Liga dos Campeões da Europa e das Eliminatórias para a Eurocopa.
Tema divide opiniões
Mesmo entre os jogadores, não há um consenso sobre qual seria a melhor solução para reduzir os erros de arbitragem.
"Eu sou a favor de que se coloque um chip na bola ou que se instale uma câmera no gol para se ter certeza em decisões litigiosas. Isto é comum há anos no hóquei no gelo e no futebol americano. Por que o futebol deve abrir mão disto?", argumenta o atacante alemão Miroslav Klose.
Há, no entanto, quem discorde dentro da própria seleção alemã. "As emoções fazem parte do futebol. E decisões erradas haverá sempre, mas no fim tudo se ajusta novamente. Eu acho que no futebol deve continuar havendo emoção e não pode entrar tecnologia demais", pensa o meio-campista Sami Khedira.
TM/dw/sid/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer