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Blair: "Time to go?"

(sv)24 de setembro de 2006

No início da convenção do Partido Trabalhista, premiê britânico esquiva-se da discussão sobre nome de provável sucessor, enquanto milhares de manifestantes vão às ruas pedir sua renúncia.

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Premiê britânico: última convenção à frente do partidoFoto: AP

A frase mais contundente do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, antes de abrir a convenção anual de seu partido em Manchester, foi o pedido a seus correligionários que deixem de lado a questão da sucessão e não passem à opinião pública a impressão de que o Partido Trabalhista só se ocupa de si mesmo. A declaração não deixou de ser uma ducha de água fria em Gordon Brown, atual ministro britânico das Finanças e principal nome cogitado para substituir Blair no cargo de presidente do Partido.

Manchester: escolha simbólica

Em entrevista à emissora BBC neste domingo (24/09), o atual premiê pediu que os membros do partido reunidos se concentrem em questões práticas, como imigração, terrorismo e segurança. Caso contrário, afirmou Blair, o Labour Party "corre o risco de perder seu eleitorado". Apesar da insistência das perguntas em relação ao possível sucessor, o premiê britânico preferiu a saída pela tangente, ao dizer que não pretende "continuar jogando este jogo".

A escolha de Manchester para sedir a convenção – tradicionalmente transformada pelo partido em um grande evento de mídia – também não é casual. Ao contrário da maioria dos grandes centros britânicos, a cidade industrial no norte da Inglaterra ainda é uma das últimas governadas pela facção de Blair. "Exatamente esse peso simbólico pode ser útil para os membros profundamente inseguros do partido", comenta o semanário alemão Der Spiegel.

Protestos nas ruas

Labour Parteitag in Manchester, Gordon Brown
Gordon Brown: na fila para substituir BlairFoto: AP

Apesar dos apelos de Blair para que os membros do Partido se voltem para outras questões, o tema da sucessão deve certamente pairar sobre toda a convenção, que vai até a próxima quarta-feira (27/09).

Mesmo porque milhares de pessoas (20 mil, segundo a polícia local e 30 mil, de acordo com os organizadores) foram às ruas de Manchester protestar contra a política externa do governo Blair em relação ao Iraque, Afeganistão e Oriente Médio. Muitos deles carregavam cartazes pedindo a renúncia imediata do premiê, com os dizeres "time to go" (hora de ir).

Os rumos da política externa, porém, podem continuar os mesmos, caso Brown venha a substituir Blair. Em entrevista à BBC, o atual ministro das Finanças afirmou que o Reino Unido, sob seu governo, iria, da mesma forma, se manter ao lado dos EUA nas medidas de "combate ao terrorismo". A diferença, segundo Brown, é que deverá haver um esforço maior em prol do apoio da população, com ações militares acompanhadas de um "choque de idéias".

Brown, porém, está longe de encontrar uma receptividade unânime nos quadros do partido. Para a ala à esquerda do Labour, o nome do atual ministro das Finanças está associado às mal vistas reformas da era Blair. Até entre os correligionários mais próximos, o ministro é considerado pouco solidário e incapaz de trabalhar em equipe. "Cheio de manias, emocionalmente instável e pouco digno de confiança" são alguns dos adjetivos espalhados pela mídia britânica a respeito de Brown.

Política externa: tema polêmico

Choreographie der Macht
Blair e Bush: aliança criticada pela populaçãoFoto: AP

A condução da política externa por Blair encontra, no entanto, resitência não apenas entre a população em geral. Entre os delegados presentes à convenção, para os quais o premiê deverá falar na próxima terça-feira (26/09), o assunto também é polêmico. Muitos membros do partido criticam o apoio dado pelo governo britânico a Washington na invasão do Iraque e apontam as reformas internas empreendidas pelo governo Blair no setor público como fracassadas.

A fim de evitar uma verdadeira convulsão nos bastidores do Partido Trabalhista, Blair foi acuado, no último mês, a anunciar que sua renúncia iria acontecer no decorrer do próximo ano. Esta será certamente a última convenção do partido sob seu governo. No mais tardar em junho de 2007, mas possivelmente bem antes disso, o Partido Trabalhista deverá dar adeus a seu presidente e o Reino Unido deverá ter um novo premiê.

Nas pesquisas de opinião, o Labour de Blair está atrás da oposição conservadora. Embora as próximas eleições para o Parlamento só aconteçam em 2009, o Partido Trabalhista corre o risco de, em maio próximo, já ter que engolir uma boa derrota nas eleições regionais.