Bingen: relíquia da humanidade
3 de março de 2007O rio Reno é uma das principais e mais movimentadas vias fluviais da Alemanha. Cortando o país de norte a sul, ele nasce nos Alpes, contorna as fronteiras com a Suíça e a França, desaguando no Mar do Norte, em Roterdã, na Holanda. Como percorre tantas paisagens diferentes, é dividido em quatro partes, das quais a mais turística delas é o Médio Reno. A região é demarcada pelas cidades de Bingen e Bonn, onde os afluentes Nahe e Sieg, respectivamente, encontram o Reno.
Em 2002, o trecho que se estende de Bingen a Koblenz, no Vale do Médio Reno, foi incluído na lista da Unesco de patrimônios culturais da humanidade. Situada na região romântica do Reno, com paisagens cheias de castelos, torres medievais e casinhas que parecem sair do cenário de um conto de fadas, Bingen não poderia estar em local mais abençoado.
Patrimônio de mitos e lendas
Além das lindas paisagens, a cidade tem muita história a oferecer. Muita história e muita lenda. Foi lá que a primeira estudiosa alemã escreveu seus tratados científicos. Hildegard von Bingen, uma abadessa beneditina da Idade Média, catalogou milhares de ervas medicinais e seus efeitos – criando uma fonte de pesquisas usada até hoje –, dedicou-se à música – compondo importantes obras vocais sacras – e à literatura filosófica.
Como foi a primeira a descrever os efeitos das ervas medicinais, Hildegard tornou-se parte da lenda de criação da principal bebida alemã, a cerveja. Ela descobriu as propriedades do lúpulo, na mesma época em que a planta passou a ser utilizada para conservar a bebida, que compunha a alimentação nos mosteiros nas épocas de jejum. Hildegard foi a primeira feminista de todos os tempos. Sua história atrai muitos turistas interessados em seguir seus passos. Beatificada, ela passou por quatro processos de canonização, que nunca chegaram ao fim.
Também à Idade Média remonta a Torre dos Ratos (Mäuseturm). Conta a lenda que um bispo foi cumprir penitência nela e foi devorado por mil ratos, como castigo por sua avareza. Verdade ou não, a torre serviu até 1975 como sinalização para a navegação no Reno. Na outra margem do rio fica Rüdesheim, outro importante destino para turistas que seguem a rota romântica.
Bingen também fica no Brasil
Coincidências históricas à parte, o Brasil também tem sua Bingen: um bairro na antiga cidade imperial de Petrópolis. Contratado para liderar as obras da construção da primeira cidade planejada do Brasil, o engenheiro Julius-Friedrich Köler dividiu Petrópolis em duas vilas, reservadas ao Palácio de Cristal e à nobreza, e 11 quarteirões – os bairros de hoje –, que receberiam imigrantes alemães, italianos e portugueses.
Ao desenvolver seu projeto, o engenheiro Köler, nascido na cidade de Mainz, também à beira do Reno, nomeou os 11 quarteirões de acordo com regiões e cidades próximas de sua terra natal. Por isso, temos Bingen, Vestfália, Castelânea e outros bairros com nomes de origem alemã na antiga cidade de veraneio do imperador Dom Pedro 2º.
Muitos caminhos levam à Bingen alemã
Além de todos os atributos da região, Bingen está particularmente bem localizada. Diz-se que até Hildegard pôde se aproveitar do fato para se fazer conhecida. Naquela época, a cidade que se encontra exatamente no ponto em que o rio Nahe deságua no Reno era também um ponto de conexão de antigas estradas construídas pelos romanos.
Hoje, Bingen constitui uma das mais importantes conexões para Koblenz, Mainz e Frankfurt: duas estradas margeiam o Reno e dia e noite algumas centenas de vagões de carga e de passageiros percorrem a ferrovia. Sem esquecer, é claro, do rio Reno como uma das vias fluviais mais importantes da Alemanha.
O legendário rio foi recuperado para banho e abriga mais de duas dúzias de espécies de peixes. Ao passar por Bingen, ele ganha as cores de um conto de fadas, sendo um belo ponto de partida para uma viagem romântica e cheia de surpresas, lendas, mitos e suspiros.