Terror continua
2 de maio de 2011A morte de Osama bin Laden, o terrorista mais procurado do mundo, não deverá significar o fim da rede Al Qaeda e de suas conexões no Afeganistão e no Paquistão. Observadores preveem uma série de ataques por parte dos seguidores do terrorista, e já apontam um provável sucessor do radical saudita na liderança da Al Qaeda: seu braço direito, o médico egípcio Ayman al-Zawahri.
"[Os seguidores de Osama] não vão deixar esta perda passar em branco. Os aliados no Djihad [guerra santa] e os talibãs paquistaneses deverão conduzir ataques suicidas, em reação", afirmou à agência de notícias AFP Rahimullah Yusufzai, estudioso das tribos árabes.
O primeiro alvo poderá ser o Paquistão, caso os seguidores de Bin Laden creiam que o governo do país ajudou na investida norte-americana contra a casa do terrorista na noite deste domingo (01/05). Por outro lado, confirmar que as autoridades não sabiam dos ataques seria, de qualquer maneira, admitir que as tropas norte-americanas podem atuar de maneira autônoma na região.
Assim que declararam guerra contra o terrorismo e contra Osama bin Laden, logo após o 11 de Setembro, os EUA receberam apoio do Paquistão. Porém o país se queixa do número de vidas perdidas. Desde julho de 2007, os atentados à bomba atribuídos à Al Qaeda já fizeram mais de 4,2 mil vítimas fatais no Paquistão. Cerca de 3 mil soldados foram mortos e outros 8,6 mil ficaram feridos de 2004 para cá.
Segundo analistas, há indícios de que a Al Qaeda esteja ativa no Afeganistão e em plena colaboração com os talibãs. Por isso, apesar do abalo que a morte do líder saudita causou entre seus simpatizantes, a expectativa é de que a capacidade de combate e a comunicação entre os filiados na região continue praticamente intocada.
"Che Guevara árabe"
O analista político Haroon Mir alerta sobre uma retirada prematura das tropas internacionais do Paquistão. Ele acredita que este é o momento de intensificar as ações. "Se os norte-americanos continuarem os ataques agora, o Talibã e a Al Qaeda serão enfraquecidos. Mas se for apenas um ataque isolado, sem continuação, certamente não terá o impacto sobre a força, a estrutura e a organização da Al Qaeda", argumentou.
Por sua vez, o embaixador dos EUA em Cabul, Karl Eikenberry, confirmou a continuidade das "políticas norte-americanas antiterror". "Esta vitória [a morte de Bin Laden] não vai marcar o fim do nosso esforço contra o terrorismo", declarou.
Bernd Georg Thamm, especialista em assuntos ligados ao terrorismo, prevê que, depois de morto, Osama bin Laden virará uma espécie de mártir para grupos mais radicais. "Ele foi, na verdade, uma espécie de Che Guevara árabe.". E, assim como o movimento revolucionário de esquerda não acabou com a morte de Che Guevara, tampouco a morte de Bin Laden dará fim ao Djhad, prediz Thamm.
O que faz de Bin Laden um homem perigoso depois de sua morte é a possibilidade de ser visto como um mártir morto em combate. "Ele é, por assim dizer, um líder carismático e imortal, que não pode mais ser eliminado. Vai continuar servindo de inspiração para os radicais", avalia o especialista berlinense.
Novo líder
Considerado o verdadeiro "cérebro" por trás das operações da rede Al Qaeda – inclusive do 11 de setembro de 2011 –, o médico egípcio Ayman al-Zawahiri é visto pelos especialistas em grupos terroristas como o mais provável sucessor de Bin Laden. Ele agora passa a ser o homem mais procurado pelos Estados Unidos, tendo sido visto pela última vez em outubro de 2001 no leste do Afeganistão, próximo da fronteira com o Paquistão. Sua cabeça vale 25 milhões de dólares.
Desde 2004, Zawahiri – de 60 anos, identificado por uma protuberância na testa e pelos óculos de armação pesada – é o responsável por uma série de vídeos ameaçadores onde motiva os seguidores, sempre de dedo em riste.
Vindo de uma família egípcia abastada, Zawahiri é filho de um médico renomado e neto de um líder religioso do Instituto Al-Azhar do Cairo, a mais alta autoridade para os sunitas muçulmanos. Ele foi preso pela primeira vez aos 15 anos, envolvido com a Irmandade Muçulmana, o grupo radical árabe mais antigo do mundo.
Mais tarde, já cirurgião, chegou a ficar preso durante três anos no Egito, por militância política. Em 1981 esteve envolvido no assassinato do presidente Anwar Sadat e no massacre de turistas estrangeiros na cidade de Luxor em 1997, crimes que lhe valeram a sentença de morte em seu país.
Zawahiri fugiu para a Arábia Saudita e depois para o Paquistão, onde atuou como médico, cuidando dos combatentes feridos no local que serviu de base de resistência contra a ocupação soviética no Afeganistão. Lá ele conheceu Osama Bin Laden.
MS/afp/dpa/rts
Revisão: Augusto Valente