Berlim, cidade sem religião
1 de julho de 2019Muitos costumam achar que o número de muçulmanos na Alemanha é bem maior do que ele realmente é. Dados divulgados neste ano traçaram um panorama das religiões em Berlim e revelaram que a grande maioria da população aqui é ateia. Mais de 60% dos moradores da cidade não seguem qualquer religião.
Os cristãos são o segundo maior grupo, com 26%. Atualmente, cerca de 576 mil berlinenses são luteranos e mais de 331 mil, católicos. Somente depois vêm os muçulmanos, com aproximadamente 10% – um número um pouco maior do que a média nacional, que é de 6,2%.
Os judeus são o menor grupo religioso, com cerca de 9,5 mil pessoas em Berlim, aproximadamente 0,25% da população.
As religiões cristãs são as que mais têm perdido fiéis ao longo das últimas décadas. Estima-se que há 50 anos o número de cristãos era o dobro dos atuais 970 mil. Diante dessa redução da comunidade, a estrutura existente acabou se tornando grande demais. Assim, igrejas têm sido fechadas, e algumas foram até demolidas.
Mas apesar do número de ateus ser grande, o que poderia levar alguns a pensar que a cidade é extremamente egoísta e individualista, Berlim é uma cidade solidária e que preza o respeito a todos os próximos, não somente aos iguais. Esse espírito pode ser percebido, por exemplo, num ato contra intolerância e por uma sociedade livre e aberta, que ocorreu em outubro do ano passado e reuniu 240 mil pessoas, ou na disposição da capital alemã em ajudar refugiados no auge da crise migratória em 2015.
São raros amigos e conhecidos que fiz aqui que frequentam a igreja. A grande maioria é ateu, mas posso dizer que eles seguem muito mais os princípios cristãos do que católicos e evangélicos praticantes que conheci no Brasil.
Ter uma religião não significa automaticamente amar, respeitar e compreender o próximo como Jesus pregou. Algumas vezes aqueles que mais frequentam a missa ou o culto são os que mais excluem e disparam o ódio contra aqueles que são diferentes de "padrões tradicionais" impostos por sociedades conservadoras.
Para mim, isso mostra que respeito, solidariedade e tolerância são valores que se aprendem em casa.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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