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Belgrado festeja EuroPride apesar de proibição e violência

17 de setembro de 2022

Sérvia é primeiro país dos Bálcãs Ocidentais onde se realiza o maior evento LGBTQIA+ da Europa. Resistência a desfile na capital foi grande, culminando em choques entre polícia e grupos homofóbicos.

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Manifestantes dançam e sorriem com faixas nas cores do arc-íris
Festividades do EuroPride 2022 duraram uma semana na capital sérviaFoto: Andrej Isakovic/AFP/Getty Images

Centenas saíram às ruas da capital da Sérvia, Belgrado, neste sábado (17/09) para a marcha do orgulho gay do festival EuroPride 2022, apesar ameaças de grupos homófobos e de uma proibição oficial anterior. A primeira-ministra do país, Ane Brnabić, deu sinal verde para a realização e participou do evento ao lado de sua parceira, Milica Đurđić.

Também estiveram presentes embaixadores de 22 países, inclusive Alemanha, Estados Unidos e França, que antes haviam publicado uma carta conjunta urgindo as autoridades nacionais a suspenderem a interdição, apelando para que encontrassem uma maneira de a parada do EuroPride ser realizada "de forma segura, legal e pacífica".

Antes da liberação, os organizadores do festival haviam afirmado, em comunicado: "Consideramos o dia de hoje de importância histórica para a comunidade LGBTQIA+ da Sérvia e da região", em alusão ao fato de ser a primeira vez que o mais importante evento queer da Europa transcorre nos Bálcãs Ocidentais.

"Confiamos que [...] estaremos seguros, mesmo aproveitando nosso direito democrático de protestar. O Ministério do Interior foi informado dessa concentração", frisaram.

O diplomata americano Christopher R. Hill comentou no Twitter que estaria orgulhoso de participar da marcha "em respaldo à diversidade, inclusão e respeito pelos direitos de todos os cidadãos".

Incitação à violência de extremistas e ortodoxos

Várias organizações de extrema direita conclamaram seus adeptos a também saírem às ruas de Belgrado neste sábado. Nos últimos dias, juntamente com tradicionalistas, ultranacionalistas e representantes da influente Igreja Ortodoxa Sérvia, elas organizaram protestos contra a "propagação da ideologia LGBT".

De fato, durante o desfile a polícia antimotim de Belgrado foi atacada por hooligans ultranacionalistas com granadas de luz e som, e respondeu a golpes de cassetetes e escudos. Ativistas homófobos também jogaram garrafas contra os agentes da lei que tentavam isolá-los no centro da metrópole. Segundo as forças de segurança, 31 indivíduos foram detidos.

Na terça-feira, a polícia sérvia proibira a marcha, também remetendo-se a um "protesto paralelo de ativistas antiglobalistas", e alertara para o alto risco de incidentes violentos.

Manifestantes erguem crucifixos e ícones ortodoxos
Opositores da marcha protestaram brandindo símbolos religiososFoto: Darko Vojinovic/AP Photo/picture alliance

Dias antes, uma manifestação reunira milhares de opositores do Europride na capital. O líder do partido nacionalista Dveri, Boško Obradović, pediu nas redes sociais que as autoridades não permitissem "a vergonhosa marcha gay",acrescentando que, se o presidente sérvio, Aleksandar Vučić, "ceder à pressão da União Europeia, será a prova de que não passa de um administrador colonial".

Em seu site, os organizadores do Europ Pride admitiram que tais protestos – assim como outras manifestações homofóbicas, incluindo o sermão de um bispo da Igreja Ortodoxa afirmando que tentaria impedir o desfile até mesmo com armas – "levantaram preocupações" sobre a segurança dos participantes.

Mesmo assim, na sexta-feira eles insistiram na realização da marcha, apresentando à polícia uma rota alternativa, mais curta. Ainda na manhã deste sábado, porém, o Tribunal Administrativo rejeitara como "infundada" a queixa dos organizadores contra a proibição, alegando que a polícia "ofereceu razões suficientes com base na lei" para sua decisão, o que, no entanto, "não priva a comunidade LGBT+ de suas liberdades".

Homofobia sérvia profundamente arraigada

O EuroPride, o maior evento anual do Orgulho Gay no continente, inclui uma semana de festividades, culminando com a parada. Apesar de a Sérvia ter sido escolhida para hospedar o primeiro festival dos Bálcãs Ocidentais em 2022 e de alguns progressos nos últimos anos – como a eleição de uma premiê lésbica – e de certa redução da discriminação, a homofobia ainda é profundamente arraigada no país pertencente à União Europeia desde 2012.

Sua legislação não reconhece o casamento homossexual e, segundo uma consulta da Agência da UE para os Direitos Fundamentais, mais da metade de sua população queer sérvia esconde sua sexualidade. Mais de 90% dos participantes revelaram, por exemplo, não se sentirem seguros segurando a mão da/o parceira/o do mesmo sexo em público.

Na sexta-feira, o presidente Vučić declarara que não ia "tratar desse tópico [o EuroPride]", que teria sido "imposto ao povo sérvio com más intenções". "Todos que são a favor, mas também os que são extremamente contra o desfile, estão todos participando de uma guerra híbrida contra o país", justificou o político neoliberal-conservador.

av (AP,AFP,EFE,DPA)