Bayreuth: Wagner e outros festivais
13 de novembro de 2005Bayreuth é Richard Wagner. Mas não só. A carreira musical da pitoresca cidadezinha bávara começou bem antes de o gênio operístico a eleger como sede de seu Festspielhaus. E seu presente tampouco se resume ao universo wagneriano.
A Ópera da Margravina
Pontos altos arquitetônicos não faltam em Bayreuth. A Markgräfliches Opernhaus (Casa da Ópera da Margravina), construída em 1748, conta hoje entre as grandes construções teatrais do século 18.
Ela foi até indicada pelo governo de Berlim para tornar-se Patrimônio Cultural da Unesco, na qualidade de mais belo dentre os teatros barrocos de ópera da Europa. Em estado exemplar de conservação, a casa resistiu ao tempo sem sofrer grandes danos nem reformas radicais.
Com esta pequena jóia, Guilhermina de Bayreuth pretendia fazer frente a outros centros musicais como Berlim, Dresden, Mannheim e Munique. Filha do "rei soldado" Frederico Guilherme e irmã predileta de Frederico da Prússia, o rei artista, a margravina não só se impôs como mecenas das ciências e artes, como compôs óperas e escreveu libretos, além de se dedicar à pintura.
Para a solene inauguração do teatro, o compositor Johann Adolf Hasse (1699–1783) compôs a ópera Ezio. Depois de longo esquecimento, esta obra no estilo operístico napolitano foi revivida em 1998, por ocasião do jubileu da Casa de Ópera.
Como não poderia deixar de ser...
É claro, o capítulo Wagner. No auge de sua carreira, ficou claro que a visão de teatro musical do autor de Tristão e Isolda em muito ultrapassava as possibilidades acústicas e cênicas das casas de espetáculos de sua época. Única solução possível: fazer construir um novo teatro, sob medida para a ópera wagneriana.
Depois de algumas desilusões, e não sem uma boa dose de adulação, Wagner conseguiu o apoio de Ludwig 2º, rei da Baviera, para seu projeto visionário. Como única exigência, o teatro deveria ser construído no Estado da Baviera.
Situado na hoje legendária Colina Verde, o Festspielhaus (Teatro do Festival) era revolucionário em sua época em diversos sentidos. Para acentuar a ilusão cênica, Wagner exigiu que a orquestra fosse situada num fosso debaixo do palco, ficando praticamente invisível para o público.
Além disso, quebrando a estrutura semicircular altamente hierárquica dos teatros tradicionais, a platéia do Festspielhaus é inteiramente frontal. Isso proporciona a cada espectador a melhor visão e audição possíveis, independente da categoria de seu ingresso.
Altos e baixos da Casa Wagner
Quatro anos após o lançamento da pedra fundamental, o Teatro Wagner foi inaugurado em 1876, com a estréia da tetralogia mitológica O Anel do Nibelungo. Com a morte do grande músico, o festival se estabeleceu como um negócio de família, com altos e baixos.
A primeira sucessora foi Cosima Wagner, viúva de Richard e filha do compositor Franz Liszt. Em 1906, o herdeiro Siegfried assumiu, seguido em 1931 por sua esposa Winifred. Ascendendo ao poder dois mais tarde, os nacional-socialistas incorporaram Bayreuth em seu discurso ideológico. Adolf Hiler tornou-se freqüentador assíduo tanto do teatro quanto da residência dos Wagner.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e após um indispensável intervalo de desnazificação, o festival foi reaberto em 1951, agora sob a direção dos netos de Richard Wagner, Wieland e Wolfgang. Este último assumiu sozinho, após a morte do irmão, em 1966.
A vida depois do Nibelungo
E para além de Wagner? Há, por exemplo, o festival de música sacra Musica Bayreuth, fundado há 44 anos pelo organista Victor Lukas. Dentre os pontos altos do evento constam numerosas estréias e a execução de peças raras, como a Missa de Igor Stravinsky, a missa a cappella de Paul Hindemith, ou o Requiem do quase esquecido Günther Raphael (1903–1960). Além disso, a cidadezinha bávara deve ao Musica Bayreuth sua primeira apresentação da monumental Missa em si menor, de Johann Sebastian Bach.
No outro extremo da escala está o Festival Jovens Artistas, o maior e mais tradicional evento do gênero dedicado à juventude na Europa. Patrocinado pela Casa Wagner, ele reúne a cada edição até 300 músicos, cantores e artistas plásticos de 30 nações, para um intercâmbio de experiências e conhecimentos. Em 2005, o festival comemorou seu 54º aniversário.
Com a reinauguração de sua universidade em 1976, Bayreuth também ganhou um instituto de pesquisa musicológica, sediado no Castelo de Thurnau. Nele se realizam simpósios e congressos sobre os mais diferentes aspectos do teatro musical.