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Até quando vai o embargo dos EUA a Cuba?

Astrid Prange (jps)20 de julho de 2015

Reabertura das embaixadas em Washington e Havana reaviva relações entre os dois países e traz esperança de que embargo comercial chegue ao fim. Setores como agroindústria e turismo pressionam por abertura.

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Foto: AFP/Getty Images/A. Roque

A "revolução do dólar" irrompeu em Cuba. Cada vez mais empresas americanas investem na ilha caribenha socialista, mesmo que o embargo comercial dos EUA a Cuba, em vigor há 55 anos, ainda proíba as relações econômicas entre os dois países.

Recentemente, a empresa americana IDT firmou um acordo com a estatal de telecomunicações Etecsa para o estabelecimento de ligações telefônicas diretas entre Cuba e os Estados Unidos. A plataforma de aluguel de filmes online Netflix também passou a oferecer seus serviços em Cuba. E cartões de crédito emitidos por bancos americanos já estão sendo aceitos como forma de pagamento.

Até mesmo o turismo passa por um boom. O site de aluguéis pela internet Airbnb quer expandir sua oferta e já registrou mais de mil residências em Cuba. A partir de maio de 2016, navios de cruzeiro da companhia americana Carnival vão poder ancorar em Cuba.

Oficialmente, esses passageiros participarão de um programa "de intercâmbio cultural, artístico, religioso e humanitário". Isso porque, por enquanto, turistas ainda são proibidos de viajar normalmente para Cuba por causa do embargo.

Com a reabertura de embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington nesta segunda-feira (20/07), aumentam as esperanças de que o embargo comercial chegue ao fim. Somente o Congresso americano pode removê-lo.

"Fazemos um apelo ao Congresso americano para que antecipe o dia em que turistas e empresários americanos possam fazer negócios com seus vizinhos", afirma James Williams, presidente da organização americana Engage Cuba. "Esse é o melhor caminho para promover nossos valores e criar oportunidades iguais para cubanos e americanos." Somente o Congresso americano pode remover o embargo comercial imposto a Cuba pelos EUA.

De acordo com a iniciativa Engage Cuba, o fim do embargo vai resultar num incremento de mais de 4 bilhões de dólares ao ano nas exportações dos EUA para Cuba. Já a venda de serviços pode aumentar em até 1,6 bilhão de dólares ao ano.

Atualmente, as trocas entre os dois países chegam somente a cerca de 300 milhões de dólares, segundo o Departamento de Comércio dos EUA. E esse comércio ocorre apenas numa direção: no contexto da ajuda humanitária, os EUA exportam suprimentos médicos e alimentos para Cuba.

Setor agrário dos EUA pressiona

Cuba importa a cada ano produtos agrícolas no valor de mais de 2 bilhões de dólares, porque sua produção própria é insuficiente para alimentar a população local. O setor agroindustrial dos EUA não quer mais deixar esse mercado para seus concorrentes no Brasil ou no Vietnã e, portanto, também pressiona pelo fim do embargo.

O especialista em Cuba Bert Hoffmann, chefe do escritório berlinense do Instituto Giga para estudos globais e regionais, afirma ter certeza de que uma "aproximação com os EUA será um forte impulso para o crescimento". "Wall Street quer entrar no negócio financeiro cubano; os Estados agrários do Meio-Oeste americano querem exportar arroz e milho", diz.

Mesmo que as batalhas políticas ainda demorem um pouco, "não é o presidente dos EUA, mas o embargo que parece estar chegando cada vez mais perto do fim do mandato", afirma Hoffmann. É difícil alguém imaginar que um futuro governo americano, mesmo que controlado por conservadores republicanos, seja capaz de proibir novamente empresas como a Google e a MasterCard de fazer negócios com Cuba, diz o especialista.

Cubanos que emigraram para os Estados Unidos já são um motor da economia cubana. Suas remessas para parentes na ilha são estimadas em mais de 2 bilhões de dólares por ano e são uma das principais fontes de divisas de Cuba. Além disso, essas remessas proporcionam uma crescente demanda e aumentam o poder de compra no mercado interno cubano – em dólares.

Para Hoffmann, devido à esperada enxurrada de dólares, a ilha está diante de uma ruptura social. "A comunidade de expatriados cubanos é predominantemente branca. Os cubanos negros quase não tiram proveito do afluxo de remessas externas", diz. Os dólares podem contribuir para que a "ampla igualdade alcançada pela revolução acabe sendo revertida rapidamente".