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As polêmicas indicações de Trump para o governo

Publicado 14 de novembro de 2024Última atualização 15 de novembro de 2024

Presidente eleito dos EUA escolhe equipe sob perfil de lealdade absoluta, boa presença na TV e apoio às suas promessas mais controversas. Mas alguns nomes chocam até mesmo republicanos.

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Matt Gaetz fala em púlpito
Nomeação do incendiário de extrema direita Matt Gaetz foi criticada dentro do próprio partido de TrumpFoto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, começou a selecionar sua equipe com a nomeação de pessoas que compartilham um perfil comum: lealdade absoluta à sua visão, boa presença na televisão e apoio firme às suas promessas de campanha mais controversas, como as deportações em massa.

Na terça-feira, Trump já tinha anunciado a participação em seu futuro governo de uma figura ilustre e polêmica: o bilionário Elon Musk para o cargo de chefe de seu novo Departamento de Eficiência Governamental.

Musk, que doou milhões de dólares para a campanha de Trump e apoiou ativamente o candidato republicano nas últimas eleições, comandará a pasta junto com um ex-concorrente de Trump nas primárias do Partido Republicano, o empresário Vivek Ramaswamy.

Mas algumas nomeações divulgadas nesta quarta-feira (13/11) causaram conrtovérsia até mesmo entre os membros do próprio partido de Trump.

A que causou o maior choque foi a escolha de Matt Gaetz, um incendiário da extrema direita republicana no Congresso, um linha-dura e trumpista fiel, para o cargo de procurador-geral dos EUA, função que direciona as posições legais do governo em questões críticas, incluindo aborto e direitos civis.

Gaetz, de 42 anos, poderia concretizar as ameaças de vingança do presidente eleito contra seus adversários políticos. Sempre polêmico, ele foi investigado pelo Departamento de Justiça – mesmo órgão que ele agora é nomeado para liderar – por supostas relações sexuais com menores de idade e tráfico sexual, embora o departamento tenha decidido não apresentar acusações, por falta de provas. O político nega qualquer irregularidade.

Além disso, estava sendo investigado pelo comitê de ética da Câmara, em meio a alegações de má conduta sexual, uso de drogas ilícitas e outras supostas violações éticas. Gaetz renunciou ao seu cargo na Câmara dos Representantes após sua indicação por Trump na quarta-feira, o que também leva ao fim as investigações do comitê.

"Não acho que seja uma indicação séria para o procurador-geral", disse a senadora republicana Lisa Murkowski, do Alasca, à emissora NBC News. "Precisamos de um procurador-geral sério. E estou ansiosa pela oportunidade de considerar alguém que seja sério. Essa não estava em minha cartela de bingo", afirmou a congressista.

Outro parlamentar republicano, Max Miller, de Ohio, disse ao portal de notícias Axios que "Gaetz tem mais chances de jantar com a rainha Elizabeth 2ª do que de ser confirmado pelo Senado".

O descontentamento entre republicanos pode dificultar a aprovação do nome de Gaetz pelo Senado, apesar da maioria que o partido de Trump terá a partir de janeiro na Casa, com 53 assentos, frente a 47 de democratas e independentes.

"Pior indicação da história americana"

John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional de Trump, afirmou que Gaetz "deve ser a pior indicação para um cargo no gabinete na história americana".

"Gaetz não é apenas totalmente incompetente para esse cargo, ele não tem caráter. Ele é uma pessoa de torpeza moral", disse Bolton em uma entrevista à rede de televisão NBC News.

Outra polêmica nomeação de Trump foi a da ex-congressista democrata Tulsi Gabbard, 43 anos, acusada de divulgar propaganda russa, para assumir o controle dos segredos mais sensíveis do país, como diretora de Inteligência Nacional. Gabbard se opõe a um maior apoio dos EUA à Ucrânia na guerra de defesa contra a Rússia.

No cargo, ela comandará todas as agências que compõem a Comunidade de Inteligência dos EUA, que reúne a CIA, a NSA e o FBI, entre outros órgãos.

Depois de seu período no Congresso, ela concorreu nas primárias presidenciais democratas de 2020 contra a agora vice-presidente, Kamala Harris. Em 2022, deixou o partido e começou a abraçar as teses conservadoras, aparecendo frequentemente na emissora Fox News, até chegar à órbita de Trump.

Tulsi Gabbard fala com microfone na mão
Tulsi Gabbard: ex-democrata se tornou trumpista e é acusada de divulgar propaganda russaFoto: Getty Images/AFP/B. Pugliano

O presidente eleito é conhecido por valorizar a aparência telegênica de seus funcionários – comentou recentemente que sua nova secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, é "bonita" – e muitos de seus escolhidos aparecem na Fox News, de tendência conservadora.

As indicações de quarta-feira vieram na esteira de outra nomeação surpreendente, quando Trump escolheu para o posto de secretário da Defesa o apresentador da Fox News Pete Hegseth – que é veterano de combate, mas não tem experiência em dirigir grandes organizações.

Embora Hegseth tenha experiência militar, a sua falta de experiência de alto nível ou de funções governamentais levanta questões sobre a sua competência para gerir o vasto e complexo Departamento de Defesa.

Antivacina para a Saúde

Outra escolha polêmica foi a indicação de Robert F. Kennedy Jr. como novo secretário de Saúde. O escolhido é conhecido pelo ativismo contra algumas vacinas, como as contra a covid-19, e pela divulgação de teorias de conspiração.

O filho do ex-procurador-geral dos EUA Robert F. Kennedy e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, ambos assassinados na década de 1960, é, de acordo com Trump, "um cara fantástico" e conhecedor de pesticidas e do meio ambiente.

Grande parte do clã Kennedy havia lhe dado as costas por causa de teorias conspiratórias que ele abraçou durante a pandemia de covid-19, como a de que o vírus tinha como alvo caucasianos e negros e que chineses e judeus ashkenazi eram mais imunes. Kennedy Jr. também vinculou tiroteios em escolas a antidepressivos e acusou os democratas de receberem muito mais dinheiro de empresas farmacêuticas do que os republicanos.

Robert F. Kennedy Jr. aperta a mão de Trump
Trump com Robert F. Kennedy Jr. durante um ato de campanhaFoto: Alex Brandon/AP Photo/picture alliance

Ao anunciar a escolha, Trump prometeu que o secretário de Saúde terá um papel importante para garantir que o público seja protegido "de produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares que contribuíram para a grave crise de saúde" no país.

De acordo com Trump, Kennedy Jr. irá garantir que estas agências voltem a cumprir os mandatos da ciência "para acabar com a epidemia de doenças crônicas e tornar a América grande e saudável novamente".

O indicado, por sua vez, agradeceu a Trump por sua "coragem e liderança" e prometeu ser um "servidor público honesto".  "Juntos, vamos acabar com a corrupção, interromper a porta giratória entre o setor e o governo e devolver às nossas agências de saúde sua rica tradição de ciência baseada em evidências. Darei aos americanos transparência e acesso a todos os fatos para que possam tomar decisões informadas para si mesmos e suas famílias", afirmou Kennedy Jr..

Rubio defende "pragmatismo" sobre Ucrânia

Trump também anunciou nesta quarta-feira a indicação para o cargo de secretário de Estado, o chefe da diplomacia americana. Como esperado, o posto deve ser assumido pelo senador republicano Marco Rubio, de 53 anos, da Flórida. Ele será um "defensor de nossa nação" e "um verdadeiro amigo de nossos aliados", declarou Trump.

Filho de imigrantes cubanos, Rubio vê a China como o maior desafio para a política externa dos EUA. Trump descreveu seu futuro secretário de Estado como um "guerreiro destemido que nunca recuará diante de nossos adversários".

Marco Rubio
Filho de imigrantes cubanos, Rubio vê a China como o maior desafio para a política externa dos EUAFoto: Michael Brochstein/ZUMAPRESS/picture alliance

Rubio está alinhado com Trump em sua postura dura em relação à China. Com relação à guerra na Ucrânia, ele já defendeu o "pragmatismo" – o que significa que, assim como Trump, não vê sentido em continuar apoiando a Ucrânia com bilhões de euros.

Outra nomeação polêmica, que foi divulgada por Trump na segunda-feira, foi a de Stephen Miller, seu ex-conselheiro sênior, como o novo vice-chefe de gabinete para políticas. A função é uma espécie de cargo de confiança do presidente dos EUA e um dos mais próximos do chefe de governo.

Advogado de 39 anos, Miller criou algumas das medidas mais rígidas adotadas por Trump em seu primeiro mandato para controlar a entrada de imigrantes. Ele foi o arquiteto das políticas de separação de famílias de migrantes e de proibição da entrada de pessoas de países de maioria muçulmana.

Agora ele é o ideólogo por trás dos planos de deportações em massa. Ele é o autor de frases polêmicas como "América para americanos e somente para americanos".

md/bl/cn (DPA, EFE, AFP, Reuters)