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Arte de olho na cultura hacker

Simone de Mello4 de fevereiro de 2003

Exposição "I Love you", na Transmediale de Berlim, focaliza vírus de computador como elemento construtivo de novas manifestações artísticas.

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Transmediale: Schoenerwissen MinitaskingFoto: presse

Na Bienal de Veneza de 2001, o grupo de artistas [epidemiC] declarou o vírus de computador como obra de arte. Em 37 linhas, o código–fonte do vírus programado pelos web artistas "narra" o desempenho de um vírus, que vai a uma festa com a meta de se proliferar.

def fornicate (guest):

try:

soul=open (guest, "r")

body=soul.read()

soul.close()

if find (body,"[epidemiC]")==_1

soul=open (guest,"w")

soul.write(mybody+"nn"+body)

(...)

Sem a intenção de contaminar computadores de inocentes, o [epidemiC] preferiu proliferá-lo entre o público da Biennale, distribuindo camisetas com o código-fonte. Para marcar sua admiração pela cultura hacker, os artistas declamaram – com as normas de recitação da poesia fonética – o código-fonte o vírus "I love you", que acabara de provocar em todo o mundo prejuízos de 8,75 bilhões de dólares.

Vírus como arma e obra de arte

Este trabalho do [epidemiC] é parte da exposição I love you, iniciada pelo Museu de Artes Aplicadas de Frankfurt e agora em cena na Transmediale, em Berlim. A mostra revela posições controversas de web artistas, programadores, especialistas em segurança de TI e code poets em relação a um fenômeno que afeta diretamente o nosso cotidiano: o vírus de computador.

Independente do julgamento ético, os hackers não deixam de exercer uma certa fascinação dentro da comunidade de internautas e também entre artistas que identificam a programação de vírus com um ato criador e subversivo. A história do fenômeno existente há 30 anos também mostra que a meta dos cientistas pioneiros era desenvolver a inteligência artificial e formas rápidas de aperfeiçoar programas de computadores. A atual motivação de hackers e crackers, black hats e white hats, script kiddies ou como quer que se chamem os programadores de vírus, vai da mera curiosidade de intervir num mundo digital cada vez mais hermético até a pura sabotagem industrial, passando pela crítica à monocultura e hegemonia da Microsoft.

Manipulando o código-fonte

Os code poets, por exemplo, redescobriram a linguagem de programação como material da poesia. Resgatando técnicas de espacialização da poesia visual e concreta, eles lançam mão do código que rege a cultura digital, manipulando-o como material de uma escrita cifrada, que não deixa de conter metáforas próprias. Print STDOUT q / Just another Perl hacker, / Unless $spring: soa um haiku de Larry Wall, de 1991. A linguagem de programação PERL inspirou toda uma geração de code poets, como o alemão Florian Crämer.

A possibilidade de manipular o código-fonte de programas que moldam diariamente a nossa percepção, sem a nossa autorização explícita, com certeza tem algo de subversivo e prometeico. Eventos como o concurso "The international obfuscated C Code Contest", festas de hackers em estádios de esporte ou círculos restritos de internautas se curvam à fascinação do código-fonte, uma linguagem que já se tornou hype nas artes digitais.