Grande coalizão ganha força
30 de setembro de 2008As eleições legislativas na Áustria, no último domingo (28/09), impuseram uma pesada derrota aos tradicionais partidos SPÖ (Social Democrata), e o conservador ÖVP (Popular). Segundo os resultados mais recentes, os social-democratas perderam dez cadeiras no Parlamento e os conservadores, 16.
O mau resultado nas eleições levou à renúncia do presidente do ÖVP, o ministro das Finanças Wilhelm Molterer, na noite desta segunda-feira. No seu lugar assumiu o até então vice-presidente do partido, o ministro do Meio Ambiente Josef Pröll.
Quem saiu ganhando foi a extrema direita. O FPÖ (Partido da Liberdade) e a BZÖ (Aliança Futuro Áustria), do líder populista Jörg Haider, somaram juntos 29% dos votos. "Decepção e voto de protesto levaram à derrota dos partidos governistas", analisou o instituto de pesquisas austríaco Sora, para quem a coalizão entre social-democratas e conservadores bloqueou a si mesma com a sua incapacidade de negociação.
Fracasso do governo conjunto
Até julho passado, SPÖ e ÖVP formavam a grande coalizão que governava o país. Após meses de desentendimentos, o fracasso da reforma do sistema de saúde da Áustria e a posição favorável do SPÖ em relação à Tratado Constitucional Europeu forçaram a ruptura definitiva entre os dois partidos governistas e o conseqüente fim da grande coalizão.
"Caos, pânico, anarquia", titulou à época o jornal Salzburger Nachrichten. O diário conservador vienense Die Presse decretou: "Este governo está no fim. Ele não consegue mais chegar a nenhum acordo e não tem como implementar as reformas necessárias ao país".
Tal situação foi favorável aos partidos de extrema direita. Mas o resultado das urnas não significa que um em cada três austríacos é anti-semita ou extremista, afirma o professor de ciências políticas da Universidade de Viena, Emmerich Tálos.
Uma grande parte dos votos da extrema direita veio de eleitores frustrados com a situação do país, diz Tálos. Na avaliação dele, essas pessoas seriam mais sensíveis ao discurso xenófobo e radical dos extremistas de direita.
Xenofobia e anti-semitismo
Ariel Muzicant, o presidente da Israelitische Kultusgemeinde, a organização que representa os judeus austríacos, levanta outro aspecto: a simpatia por idéias de extrema direita é vista como um pecado menor na Áustria. Ele diz ver no país uma certa aceitação de declarações xenófobas que significariam o fim para qualquer político em outros países europeus.
Segundo ele, hoje poucos se lembram que Haider, há alguns anos, elogiou a política de geração de empregos do regime nazista alemão. "Isso não me preocupa, mas me incomoda", afirma Muzicant, que também já foi vítima de agressões verbais de Haider.
Mas Muzicant diz também que, ao contrário do que o resultado das urnas faz crer, a xenofobia e o anti-semitismo não fazem parte do dia-a-dia na Áustria. "Não quero que as pessoas no exterior pensem que há nazistas marchando nas ruas. Muitos eleitores simplesmente descarregaram suas frustrações nas urnas e mandaram um recado à grande coalizão."
Idéias extremistas
Do ponto de vista programático, há poucas diferenças entre o Partido Popular e a Aliança Futuro. "O tema central da campanha eleitoral dos dois partidos foi a política migratória", diz Tálos. Ele cita o exemplo do FPÖ, que defendeu contribuições previdenciárias diferenciadas para estrangeiros e austríacos.
"A defesa de uma política tão extrema de segregação era inédita no país", assegura. O FPÖ também se posicionou a favor da expulsão imediata de estrangeiros envolvidos em crimes e da revogação imediata dos vistos de asilados oriundos de países considerados "seguros".
A BZÖ espalhou cartazes com o slogan "A Áustria para os austríacos" e exigiu o fim da imigração para o país. O partido é a favor da introdução de uma espécie de green card, com o qual o Estado pode determinar quantos estrangeiros podem vir ao país e quais. Para o BZÖ, os estrangeiros que perderem seu emprego devem também perder o visto de permanência no país após um ano desempregados.
Boas chances para a grande coalizão
A troca de comando no ÖVP, com a saída de Molterer e a ascensão de Pröll, deve favorecer a formação de uma nova grande coalizão entre conservadores e social-democratas, segundo avaliação de especialistas.
Pröll é considerado um político mais moderno e liberal do que seu antecessor. Ele também tem uma posição bastante crítica em relação aos extremistas do FPÖ. O presidente do SPÖ, o ministro dos Transportes Werner Faymann, disse várias vezes que gostaria de trabalhar ao lado do novo chefe dos conservadores.
"Com Pröll, a grande coalizão se tornou mais provável", avalia o pesquisador David Pfarrhofer, do instituto Market. Faymann já declarou que formar uma coalizão com o ÖVP é seu principal objetivo. Integrantes do ÖVP também se mostraram favoráveis ao diálogo com os social-democratas.