Apesar de campanha fraca, Merkel é favorita na intenção de voto
22 de agosto de 2013A um mês das eleições federais alemãs, a campanha eleitoral parece não conseguir engrenar. As pesquisas apontam que Angela Merkel deve assumir a chancelaria federal pela terceira vez.
O seu rival para o posto é o social-democrata Peer Steinbrück. No governo anterior, até 2009, ele havia sido o ministro das Finanças de Merkel. Atualmente, como deputado federal e líder do seu partido, ele não convence os eleitores.
Já Merkel encontra-se no auge do poder. Ela controla soberanamente seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), e dá as cartas em Bruxelas quando o assunto é gerenciar as dívidas dos países da UE e a crise do euro. A maioria dos alemães respeita e admira a chanceler federal. Na oposição, Steinbrück e seu Partido Social Democrata (SPD) não têm muito a fazer.
"O SPD fica falando sobre o que não está indo bem", diz o comunicólogo Christoph Moss. Mas, para os eleitores, isso é muito pouco, acredita. Além disso, tal postura não combina com o momento atual, já que "os alemães estão muito satisfeitos", completa. Segundo Moss, os eleitores gostariam de saber mais a respeito das possíveis medidas a serem tomadas por Steinbrück e por seu partido em caso de uma vitória nas urnas.
Herança de Schröder favorece Merkel, não Steinbrück
O especialista sugere que Steinbrück poderia tentar angariar votos ao lembrar o pacote de reformas do ex-chanceler federal Gerhard Schröder, que ocupou o cargo antes de Merkel. O programa de governo do social-democrata é visto hoje por especialistas como o fundamento da atual força da Alemanha para enfrentar a crise internacional de endividamento. No entanto, o programa de Schröder não desperta memórias positivas no eleitorado.
Naquela época, o chefe de governo social-democrata fez cortes no sistema social, indo contra a resistência até mesmo dentro do próprio partido. Durante seu governo, os encargos sociais cresceram, o seguro-desemprego diminuiu, a idade mínima para aposentadoria aumentou – tudo isso contribuindo para desafogar o Estado. Tais cortes atingiram sobretudo os próprios eleitores do SPD, que acabou perdendo muitos filiados. Na hora do pleito, muitos deles ficaram em casa.
Para Edgar Wolfrum, historiador da Universidade de Heidelberg, o SPD carrega, por isso, uma espécie de "consciência pesada". "O problema é", diz ele, "que o SPD acabou se distanciando das consequências formais de seu governo" da época. Wolfrum chama isso de "deslegitimação da política feita entre 1998 e 2005, por Schröder", pois Steinbrück foi e continua sendo um defensor dessas reformas sociais, que hoje integram as plataformas políticas de todos os partidos. E paradoxalmente elas encontram até mais ressonância entre os conservadores CDU, CSU e FDP do que entre social-democratas.
Ou seja, Merkel colhe os frutos de uma política social-democrata que fortaleceu o Estado para enfrentar a crise.
A luta pelo centro
Há diferenças, contudo, entre as plataformas políticas dos partidos rivais. O SPD defende, por exemplo, a introdução de um salário mínimo de 8,50 euros a hora; a CDU é contra. O SPD quer aumentar os impostos dos ricos; a CDU pretende reduzir as dívidas com menos gastos, sem apelar para um aumento tributário.
Mas embora as metas dos dois partidos sejam distintas, de modo geral domina tanto numa quanto na outra facção uma política de centro. E diante de todos os partidos situados ao centro, não há mais, hoje em dia, "qualquer polarização", afirma o consultor Wolfgang Raike.
Programa de governo é a própria Merkel
Para Merkel, isso vem a calhar. A chanceler federal não angaria votos por suas posições políticas, mas acima de tudo por sua postura no governo. Ela fala pouco e menos ainda qualquer coisa de conteúdo surpreendente, demonstrando controle emocional constante. "Ela não se destaca, enquadrando-se perfeitamente na média'", diz Wolfrum. "Com isso, qualquer um pode se identificar. É uma receita de sucesso. Ou seja, o programa de governo é ela própria", completa.
Saída de emergência: a grande coalizão
Merkel só poderia tropeçar no parceiro de coalizão: o Partido Liberal Democrata (FDP, sigla em alemão). O clima entre os ministros de seu governo andou de mais ou menos a ruim. E, para piorar, os liberais se tornaram, em campanha eleitoral, críticos ferrenhos da chefe de governo.
Mas é preciso lembrar que Merkel só permanecerá no poder caso os liberais ultrapassem a barreira dos 5% dos votos exigidos para entrar no Parlamento. Se isso não acontecer, ela não continuará no cargo nem se obtiver 40% dos votos, pois é de se prever que a aliança entre o SPD e os Verdes será mais forte.
Num contexto destes, uma derrota histórica do SPD poderia paradoxalmente levar Steinbrück ao poder, considerando que os verdes continuem crescendo e registrem percentuais nas urnas entre 15% e 20% dos votos. Mas se os liberais não conseguirem os famigerados 5%, nem a parceria entre social-democratas e verdes conseguiria maioria. A saída seria, mais uma vez, a coalizão entre os grandes partidos CDU e SPD.
Embora não apreciada por nenhum dos partidos, ela é eficaz no sentido de aprovação de leis no Parlamento. Trata-se de um tipo de governo praticamente sem oposição. Entre 2005 e 2009, Merkel e Steinbrück funcionaram num governo como esse.
Tendência de abstenções
Mas mais temida pelos partidos que a grande coalizão são as abstenções, cujo número triplicou desde os anos 1970 no país, onde o voto não é obrigatório. Nas últimas eleições, em 2009, aproximadamente 30% dos eleitores deixaram de ir às urnas. Nas eleições estaduais, a média tem sido de 40% de abstenções.
Se de início acreditou-se que eram sobretudo os jovens que estavam deixando de votar, soube-se posteriormente que as abstenções são um fenômeno observável em todas as faixas etárias. É possível que, no próximo 22 de setembro, pela primeira vez na história da Alemanha do pós-guerra, o percentual dos não votantes supere o do partido mais votado.