Apelo nacionalista de ministra alemã gera polêmica
12 de agosto de 2005Ao conclamar os alemães a comprarem só artigos produzidos no país como forma de combate ao desemprego, a ministra da Agricultura e Defesa do Consumidor, Renate Künast, desencadeou uma polêmica. "As bonecas vêm todas da China; as roupinhas de bebê, da Turquia, e os tênis, do Vietnã. Todos estes produtos também são produzidos por alemães, isso deve ser levado em conta pelo consumidor na hora da compra", aconselhou a ministra do Partido Verde.
Ao mesmo tempo, Künast criticou a indústria alemã: "Há anos, cresce nas empresas apenas a preocupação pelos lucros e vencimentos dos executivos. Para criar novos empregos, não fazem nada", disparou.
As reações não tardaram. Enquanto representantes do comércio varejista consideraram o apelo "conversa fiada", a indústria advertiu que "tais farpas populistas só enterram as expectativas da exportação".
Discurso de palanque
Tais frases de efeito não surpreendem, considerando que a Alemanha está em plena fase de campanha eleitoral, escreve a rede regional de rádio e televisão WDR em sua página online. O que impressiona é que a ministra não tenha se dado conta das bobagens que disse, acrescenta.
O próprio governo é o primeiro a pregar que o país é campeão mundial em exportações. Mas a exportação não existe sem importação. O que seria dos produtos alemães se em outros países houvesse campanhas como a pregada pela ministra Künast, questiona.
Além disso, é preciso definir o que é um "produto alemão". Na maioria dos artigos vendidos como alemães há mão-de-obra estrangeira ou parte da matéria-prima é importada, seja o petróleo ou o algodão, por exemplo.
Para o articulista da emissora, o mais grave do apelo de Künast é justamente o fato de uma ministra do Partido Verde querer barrar as importações de países do Terceiro Mundo.
Combate à pobreza
"Mesmo que não se queira associar o pedido da ministra Künast com slogans nazistas como 'Alemães, comprem somente em estabelecimentos alemães', não se pode esquecer que os verdes pregaram em sua campanha eleitoral o fim da miséria no Terceiro Mundo", escreveu o jornal Tageszeitung (TAZ), de Berlim. Tênis made in Vietnã comprados na Alemanha são uma forma prática de combater a pobreza naquele país, registra.
Um porta-voz do governo ainda tentou consertar as palavras de Künast, argumentando não se tratar de boicote a produtos estrangeiros, mas da observação de padrões ambientais e sociais, como o trabalho infantil.
Baixo preço x qualidade
A avalanche de produtos de baixo preço no país incomoda a ministra há tempo. Artigos baratos, sejam têxteis ou alimentícios, geralmente vêm do exterior, pois os custos de produção na Alemanha são mais altos.
Mesmo artigos consagrados made in Germany, como os bichos de pelúcia da Steiff, ostentam em suas orelhas, hoje, o pequeno selo "feito na China, sob o controle de qualidade da Steiff alemã".