Após ataque, Trump anuncia novas sanções ao Irã
8 de janeiro de 2020O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, moderou o tom agressivo dos últimos dias após o ataque iraniano a duas bases usadas pelos americanos no Iraque, sinalizando que não pretende aprofundar confrontos militares com o país persa. Em discurso nesta quarta-feira (08/01), ele afirmou que "o Irã parece estar baixando o tom, o que é uma coisa boa para todas as partes envolvidas e uma coisa muito boa para o mundo".
O presidente voltou a afirmar que não pretende deixar o Irã obter armas nucleares, e advertiu o regime de Teerã a não lançar mais operações militares nem patrocinar ações terroristas na região, mas não fez nenhuma ameaça direta de uso de força militar para punir os iranianos pelo ataque desta madrugada. No fim de semana anterior, ele chegara a afirmar que poderia bombardear 52 alvos no Irã, incluindo bens culturais, caso Teerã respondesse militarmente à operação americana que matou o general iraniano Qassim Soleimani.
"As Forças Armadas dos EUA estão mais fortes do que nunca. Nossos mísseis são grandes, poderosos, precisos, letais e rápidos. [...] Mas o fato de termos esse excelente equipamento militar e não significa que devemos usá-lo. Não queremos usá-lo. A força americana, tanto militar quanto econômica, é o melhor instrumento de dissuasão", alegou.
Em vez de uma resposta militar, Trump anunciou que vai impor ainda mais sanções econômicas ao Irã e que vai pedir para a Alemanha, Rússia, França e China abandonarem o acordo nuclear firmado com os iranianos em 2015, e trabalharem na elaboração de um novo pacto "que torne o mundo um lugar mais seguro e pacífico". Além disso, anunciou que vai pedir aos países-membros da Otan para se envolverem mais no Oriente Médio.
Durante a madrugada de quarta-feira (hora local) os iranianos lançaram pelo menos uma dúzia de mísseis balísticos contra duas bases que abrigam forças americanas e internacionais no Iraque: Al Assad, a oeste da Bagdá, e Erbil, no norte do Iraque. O ataque ocorreu horas após o sepultamento do general Soleimani no Irã.
Apesar de ter sido anunciado com fanfarra pela imprensa oficial dos EUA, o ataque não provocou baixas entre os americanos, iraquianos ou forças da coalizão internacional contra o terrorismo que atua no Iraque. Segundo Trump, os danos às bases também foram mínimos.
O fato de nenhum americano ter morrido parece ter deixado espaço para Trump moderar o tom após o ataque. Os próprios iranianos já haviam sinalizado durante a madrugada que não pretendiam efetivamente estender sua resposta à morte de Qassim com uma escalada militar ampla, e que se limitariam por enquanto ao lançamento dos mísseis contra as duas bases.
Durante a madrugada, analistas especularam se o ataque iraniano, que se mostrou limitado, seria apenas uma forma de propaganda para consumo interno dos iranianos, como forma de acalmar os setores que exigiam uma vingança imediata pela morte de Qassim.
Soleimani, de 62 anos, era líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior. Ele era considerado a segunda pessoa mais importante do Irã, atrás apenas do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
O ministro iraniano do Exterior, Javad Zarif, declarou, após o ataque contra as bases do Iraque, que seu país "vai se defender contra qualquer agressão". Por outro lado, afirmou que a operação havia sido "concluída" e que os iranianos não buscavam "agravar" a situação ou provocar uma guerra, aparentemente sugerindo que o Irã não estava considerando novas ações retaliatórias imediatas, e que aguardaria a reação americana. Segundo Zarif, a resposta iraniana foi "proporcional" ao ataque americano que matou Qassim.
Durante seu discurso nesta quarta, Trump voltou a defender a operação da última sexta-feira. Segundo o presidente, ele era um "terrorista implacável", que estava planejando ataques contra os americanos. "Eliminando Soleimani, enviamos uma mensagem poderosa aos terroristas: 'Se você valoriza sua própria vida, não ameaçará a vida de nosso povo.'"
Trump também acusou o Irã de ser "o principal patrocinador do terrorismo" e que a intenção do regime de produzir armas nucleares "ameaça o mundo civilizado", algo que "nós nunca deixaremos acontecer". Por outro lado, afirmou que deseja aos iranianos "um grande futuro".
"Devemos fazer um acordo que permita ao Irã prosperar e tirar proveito de seu enorme potencial inexplorado. O Irã pode ser um ótimo país. A paz e a estabilidade não podem prevalecer no Oriente Médio enquanto o Irã continuar a fomentar a violência, a agitação, o ódio e a guerra", disse Trump.
Trump também disse de que os EUA querem se retirar dos cenários de guerra no Oriente Médio e mencionou o fato de o seu país se ter tornado "o maior produtor de gás natural e de petróleo do mundo”. "Não precisamos do petróleo do Médio Oriente", disse.
As Nações Unidas reagiram às declarações de Trump congratulando-se com o tom usado.
Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que é um excelente sinal que os "líderes estejam evitando novos confrontos" e insistiu na importância de fazerem "tudo o que for possível para contornar novas escaladas" de tensão no Oriente Médio.
As relações entre os EUA e o regime fundamentalista do Irã são turbulentas desde 1980 e voltaram a se deteriorar em 2018, quando os americanos se retiraram do acordo nuclear assinado com Teerã, voltando a impor sanções contra os iranianos. Segundo Trump, o acordo, negociado com a participação do seu antecessor, Barack Obama, permitiu aos iranianos desbloquearem recursos que antes estavam congelados por causa de sanções, usando os valores para patrocinar ações terroristas no Oriente Médio.
Ainda segundo o americano, o pacto, também firmado pela Alemanha, Rússia, China e França, não impediu que os iranianos continuassem a buscar armas nucleares, apesar de os governos europeus e chineses argumentarem que o acordo estava funcionando.
Após a saída americana e a imposição de novas sanções, os iranianos passaram a abandonar vários aspectos do acordo ao longo de 2019. O abandono gradual foi encarado como uma forma de pressionar os demais países signatários a salvarem o acordo. Teerã também passou a adotar uma série de ações militares limitadas.
Essas ações incluíram o bombardeio de uma mega refinaria saudita, a derrubada de um drone americano e a tomada de um petroleiro britânico. Cada ação gerou uma resposta americana. Em 2019, Trump afirmou ainda que cancelou na última hora um ataque iminente ao Irã em resposta à derrubada de um drone. A morte de Soleimani, por sua vez, ocorreu três dias depois de uma milícia iraquiana apoiada pelo Irã atacar a embaixada dos EUA em Bagdá.
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