Métodos malcheirosos

"É de mau gosto nossos órgãos de segurança estarem usando métodos também adotados pela Stasi", comentou o vice-chefe da bancada parlamentar dos verdes, Hans-Christian Ströbele, ao jornal Leipziger Volkszeitung. O líder oposicionista se referia à coleta de amostras do odor corporal de ativistas de esquerda pela polícia alemã durante uma batida.

A medida fez parte dos preparativos de segurança para a cúpula do G8 em Heiligendamm. Sabidamente, a polícia política da ex-Alemanha Oriental (RDA), a Stasi (Staatssicherheitsdienst), tentou capturar e armazenar o cheiro de dissidentes políticos para que cães farejadores os pudessem localizar mais facilmente.

Wolfgang Thierse, vice-porta-voz do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) acusou as autoridades de extrapolar suas funções, advertindo-os do perigo de uma "histeria que poderá levar a um Estado policial semelhante à RDA".

Comparação exagerada

Nesta quinta-feira (24/05), a Procuradoria Geral da República admitiu que no, início de maio, a polícia recolheu amostras de odor corporal durante batidas no norte da Alemanha. No caso, tratava-se de supostos ativistas do movimento antiglobalização. Contudo, o órgão negou que a intenção fosse "farejar" os opositores do G8.

Segundo a Procuradoria, as amostras foram retiradas de cinco ou seis suspeitos, para compará-las com evidências encontradas em locais de incêndios criminosos. A polícia considera esse tipo de coleta de amostras tão legal quanto tirar impressões digitais.

Além disso, as comparações com o regime totalitário da República Democrática Alemã seriam impróprias. "'Métodos da Stasi' refere-se claramente a técnicas como denúncia, chantagem e tortura, mas não a uma prática policial válida", argumentou Konrad Freiberg, presidente do Sindicato dos Policiais Alemães.

Investigação, não controle

A ministra alemã da Justiça, Brigitte Zypries, defende decididamente a prática, embora reconhecendo os argumentos de seus críticos. Ela admite que as amostras de odores "trazem um toque negativo, em face do passado alemão na RDA".

Na República Federal da Alemanha, por outro lado, este meio "só é utilizado em raros casos, e não como prevenção ou como recurso para localização e captura, como ocorria na RDA, mas somente para elucidação de um delito bem concreto".

Segundo a ministra, a Procuradoria Geral queria apenas saber "se cinco dos suspeitos tiveram na mão um determinado papel". Em seguida, assegura, as amostras foram imediatamente destruídas.

Zypries rebateu também as comparações correntes entre os ataques militantes anti-G8 e os tempos da Fração do Exército Vermelho (RAF). Segundo ela, não há indícios de que, no momento, se trate de grupos organizados desta dimensão. (av)