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"Alerta de tsunami foi retirado cedo demais na Indonésia"

Yusuf Pamuncak md
1 de outubro de 2018

Tsunami que atingiu ilha de Celebes pode ter sido subestimado devido a dados geológicos pouco precisos, afirma especialista, que vê falha do governo em melhorar sistema de alerta.

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Tsunami deixou rastro de destruição e mortes em Palu, na IndonésiaFoto: BNPB

O especialista Widjo Kongko, da Agência para Avaliação e Aplicação de Tecnologia (BPPT) da Indonésia, vê erro das autoridades de seu país na tragédia provocada por um tsunami que atingiu a ilha de Celebes no fim de semana.

"Acredito que o alerta de tsunami foi retirado cedo demais", afirmou, em entrevista à DW. Mais de 830 pessoas morreram nas cidades de Palu e Donggala, que foram as mais atingidas.

DW: Qual foi a principal causa do tsunami que invadiu as cidades de Donggala e Palu, no noroeste da ilha de Celebes?

Widjo Kongko: Especialistas ainda especulam sobre isso. A direção do movimento nas falhas tectônicas ou dos limites das placas que provocaram o terremoto apontou para o oceano. Essa direção ainda não está claramente cartografada, possivelmente existe outro limite de placa. Ainda não sabemos quais limites de placas estão exatamente onde nesta área do mar, que não foi explorada até agora.

O terremoto foi o resultado de um chamado deslocamento de placas tectônicas que, neste caso, deslizaram lateralmente. Esse tipo de movimento de placa geralmente não gera um tsunami grande. Por exemplo, o terremoto de 2012 em Padang, na costa oeste de Sumatra, teve magnitude de 8,4 a 8,7, mas apenas uma onda de 30 a 40 centímetros de altura.

O atual terremoto de Palu foi mais fraco, mas produziu um tsunami de 2 a 3 metros de altura, o que foi uma surpresa completa. De acordo com os cálculos, ele deveria ter atingido apenas uma altura de meio metro a 1 metro. Agora é importante descobrir se houve apenas uma ou mais causas para o tsunami, para que possamos estar melhor preparados para casos futuros.

Widjo Kongko, especialista em tsunami na agência indonésia BPPT
Widjo Kongko, especialista em tsunami na agência indonésia BPPTFoto: Privat

O governo não aprendeu o suficiente com os terremotos e tsunamis anteriores e não se preparou o suficiente para um evento tão catastrófico?

Isso é um desafio para todos nós. A lei em questão foi elaborada só após o tsunami de dezembro de 2004, que devastou a província de Aceh. Nós, indonésios, estamos acostumados a desastres, já aceitamos que vivemos numa região que é frequentemente atingida por desastres naturais. Justamente aí reside o desafio para nós.

Desde 1900 houve três tsunamis em Palu e Donggala. Os cientistas os examinaram, há várias publicações sobre a falha de Palu-Koro. Essas descobertas científicas devem ser incorporadas à ação do governo. Nós, cientistas, pedimos para que o governo, em particular o Departamento de Meteorologia, Pesquisa Climática e Geofísica (BMKG) e a Autoridade Nacional de Proteção Civil (BNPB) trabalhem em conjunto com outras instituições para alcançar uma melhor gestão de desastres no futuro.

Dez anos após o megatsunami, a Lei de Prevenção e Gestão de Desastres estava em vigor, e nós tínhamos sensores de terremoto instalados em todas as províncias e em muitos distritos. Mas estas medidas não produziram resultados significativos, como acabamos de ver em agosto, no terremoto de Lombok. As autoridades locais ainda precisam de muita ajuda para a gestão de desastres, como agora em Palu e Donggala. Precisamos nos concentrar em melhorar o sistema de alerta, que não funciona bem. O governo ainda tem muito que fazer. Pode-se dizer que o governo falhou nesse ponto.

O que o governo pode fazer em matéria de melhorias técnicas?

Minha sugestão é que não dependamos só de sensores em terra, mas que instalemos alguns no fundo do mar. Nós já instalamos um sensor no mar, mas houve problemas por causa de vandalismo e coisas do gênero. Poderíamos prevenir isso através do emprego de fibra de vidro, o que seria mais seguro. Um sensor no fundo do mar tem que ser integrado no sistema de alerta central. Dessa forma, um terremoto com uma potencial ameaça de tsunami poderia ser comunicado ao litoral e às regiões de risco de forma mais rápida do que até agora.

Silhueta de homem diante de monitor de vídeo com imagem de satélite da região da Indonésia e gráfico de sismógrafo
"Área do mar onde ocorreu tremor não foi explorada ainda", diz especialistaFoto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini

O que o senhor diz do fato de o alerta de tsunami ter sido retirado logo após o terremoto com epicentro na costa de Palu?

De acordo com meus cálculos, que foram baseados em um único modelo, a onda deveria alcançar as praias de Danggalu e Palu dentro de 5 a 10 minutos [após os primeiros tremores], e o distrito de Mauju, mais ao sul da costa de Celebes, dentro de 30 a 35 minutos. Este modelo foi validado com base nos dados de campo existentes.

No entanto, como o tsunami que havia sido esperado como consequência do terremoto principal não chegou, o alarme de alerta foi retirado. Mas o tsunami veio com força não muito tempo depois. Havia possivelmente – como já disse – não apenas uma causa. Na minha análise, houve depois do primeiro tremor a formação de uma fissura. Após a série relativamente violenta de novos tremores, essa fenda provocou um deslizamento de terra subaquático, que provocou o tsunami. Mas essa teoria ainda tem que ser examinada, o que vai levar tempo. Mas acredito que o alerta de tsunami foi retirado cedo demais. Ele deveria ter permanecido ativo por pelo menos uma hora.

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