Em busca de matéria-prima
31 de março de 2011O ministro alemão dos Transportes, Peter Ramsauer, desembarcou em sua primeira visita ao Brasil com duas convicções: "O Brasil é um país muito rico em recursos naturais. E também um país que tem muito a ensinar", declarou à Deutsche Welle. Acompanhado por representantes do alto escalão da indústria alemã, Ramsauer cumpre uma pauta alinhada com a política econômica da Alemanha.
E o encontro com a diretoria da mineradora Vale nesta quarta-feira (29/03) demonstrou claramente a estratégia alemã. O governo já se preocupa com o futuro de suas empresas mundialmente famosas – a garantia da prosperidade depende do acesso às matérias-primas. E a segunda maior fornecedora de minérios do mundo é brasileira.
"Ninguém tem um projeto de crescimento tão agressivo como o nosso", resume Eduardo Bartolomeo, diretor executivo de operações integradas da Vale. O ministério alemão dos Transportes sabe disso. E veio buscar no Brasil meios para ajudar suas empresas e seu país a atingir as metas prometidas, como colocar 1 milhão de carros elétricos nas ruas até 2020.
Garantia para o futuro
Segundo Ramsauer, a produção de baterias para carros elétricos é o principal desafio para alcançar a meta.
A mineradora brasileira, que vai investir 24 bilhões de dólares em 2011, tenta se antecipar ao mercado, mas prefere não adiantar como serão as relações futuras com a Alemanha no que se refere ao fornecimento da matéria-prima usada em baterias de carros elétricos. "Falar em prazos é muito dificil, e em preços, também", afirmou Bartolomeo.
O executivo analisa o cenário com cautela: "Estamos atentos aos movimentos que estão acontecendo na indústria. Por isso estamos explorando na área minerológica o lítio, o nióbio e o níquel, que são materiais usados na indústria eletrointensiva".
Uma relação estável
Diante da briga mundial pelo acesso à matéria-prima, agravada pelo aumento no consumo de recursos naturais pelos países emergentes, uma mudança de posicionamento da Vale poderia abalar fortemente o mercado europeu.
No entanto, o diretor executivo de operações integradas da empresa afirma que o enorme crescimento do mercado brasileiro não trará problemas para outros mercados abastecidos pela Vale, e que o foco continua voltado para os parceiros europeus.
"Fornecemos onde há mercado, e a Alemanha é a nossa maior parceira e o nosso mercado preferencial é a Europa. Fala-se muito na China, mas o nosso mercado mais forte de fornecimento de minério de ferro é a Europa. Estamos a 15 dias da Europa e a 45 dias da China", diz Bartolomeo, ao comparar o tempo de entrega de um carregamento.
Ligação antiga
O primeiro escritório fundado pela Vale fora do Brasil foi na Alemanha, em 1954, quando a empresa ainda pertencia ao governo brasileiro. A relação ficou ainda mais forte quando o banco alemão de fomento KfW ajudou a empresa brasileira a financiar a exploração de Carajás, tida como a mais rica região mineral do planeta.
Naquele momento de início de exploração, no final da década de 1980, o Brasil vivia uma forte recessão, e a companhia obteve dinheiro para iniciar as atividades no local com a ajuda dos alemães e dos japoneses.
Em 2008 foi a vez de a Vale retribuir: a empresa aumentou para 26% a participação na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), controlada pela gigante alemã ThyssenKrupp. A crise financeira abalou fortemente a empresa alemã, que só conseguiu dar andamento ao projeto mais caro de sua história graças à entrada de mais capital da Vale.
Com seus investimentos agressivos, a mineradora brasileira deixou claro aonde quer chegar. "Estamos nos preparando para ser a primeira do mundo. Em 2015", afirmou Bartolomeo.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler